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Lineu só pensava naquilo

Criador da classificação das espécies tinha um lado humorista

Fábio Marton e Wagner Barreira Publicado em 23/06/2017, às 09h16 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35

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O sorriso não deixa dúvidas - Wikimedia Commons/Pixabay
O sorriso não deixa dúvidas - Wikimedia Commons/Pixabay

HISTÓRIA MALUCA  


"Deus fez e Lineu organizou." A frase é do próprio Carl von Linné, conhecido como Lineu, o botânico mais famoso da história e pai da classificação das espécies. Modéstia não era seu forte.

Até o século 18, os seres vivos eram batizados com nomes extensos, na linha "rosa vermelha de espinhos pontiagudos", sem agrupamentos por semelhanças. A taxonomia de Lineu padronizou categorias e criou os conhecidos binômios, como o presunçoso Homo sapiens ("homem sábio", quem dera) - o que, dada a falta de humildade do botânico, muitos acreditam ser uma referência a ele próprio.Sua obra classificatória, Systema Naturae, começou com 14 páginas, em 1735, chegou a 2 mil páginas, com mais de 13 mil espécies de plantas e animais. 

Em meio a tantos nomes, ele parece ter se entediado dos títulos e descritivos e disparado o que lhe vinha à cabeça: piadas. Muitas delas.

Ele batizou a baleia azul de Balaenoptera musculus. A primeira palavra quer dizer "asa de baleia", uma menção às longas nadadeiras. A segunda quer dizer "ratinho". Ainda que a explicação oficial seja que queira dizer o homônimo em latim "músculo", a ironia não pode ter passado despercebida a ele, que batizou o camundongo de Mus musculus. 

Outras vezes, Lineu ia para a escatologia. Ele batizou uma árvore indiana com um cheiro não muito agradável de Stercula foetida - "estercosa fedida".Quando ele gostava, era o contrário: o cacau virou Theobroma cacao - o "alimento dos deuses, cacau". A banana, Musa paradisiaca

Mas o que mais fez sua fama/infâmia entre os contemporâneos eram os nomes pornográficos - não o que se esperaria de um filho de pastor protestante nascido em 1707 numa aldeia sueca. Em suas classificações, gostava de usar termos como "vulva" e "fornicata". 

A um gênero de cracas, ela chamou de Balanus - do grego balanos, "bolota", em tese o fruto do carvalho, mas também um duplo sentido que não faria feio em letra de forró. "Orquídea", família Orchidaceae, vem de orchis, "testículo" - essa ele não inventou, mas não viu problema nenhum em continuar. A razão, em todo caso, são os estames da flor, que parecem os canais num par de testículos abertos, visão frequente ao se castrar um animal (ui!). 

Talvez esteja parecendo muito sutil ainda. Mas que tal Clitoria a uma vagem da América do Sul? Que a gente vai até ter que mostrar:


Clitoria ternatea / Wikimedia Commons

E esse nem é o nome mais explícito. O exemplo mais infame da imaginação liberada de Lineu provavelmente é a Capparis cynophallophora, uma pequena árvore de toda a América. O primeiro nome vem da alcaparra, Capparis spinosa, do mesmo gênero. O segundo quer dizer "que tem um pênis como o do cachorro".

As gracinhas de Lineu não passaram batidas em sua época. O botânico russo Johann George Seigesbeck odiava ele por isso. Ele conseguiu convencer o czar a banir a classificação de Lineu na Rússia. A resposta? O sueco batizou uma erva daninha de Siegesbeckia,