Brunhilde Pomsel ajudou o ministro da propaganda nazista a espalhar mentiras e, aparentemente, não se arrependeu
Por uma incrível coincidência, foi no último dia 27, sexta - o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Brunhilde Pomsel, secretária do ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels, faleceu de causas naturais em sua casa em Munique. A confirmação só veio hoje.
Brunhilde trabalhou junto ao número 2 do poderio nazista em seus três últimos anos. Ela era uma das últimas sobreviventes do refúgio final do ditador.
Sem seu chefe, provavelmente, Hitler nunca tivesse chegado aonde chegou. A estenógrafa profissional esteve ao lado de Goebbels desde 1942, gravando suas falas, transcrevendo documentos, cartas, entradas no diário e tudo mais na profissão de mentir para o país e fomentar o ódio aos judeus. Seu trabalho incluía adulterar estatísticas, como as dos estupros cometidos pelos soviéticos em sua invasão (para mais) e o número de soldados alemães mortos (para menos). Famosamente, após o ataque aliado à Dresden, em fevereiro de 1945, Goebbels soltou estatísticas falando em 500 mil mortos - hoje o número estimado fica próximo a 25 mil.
Em uma entrevista ano passado
ao jornal The Guardian, ela assim descreveu a diferença de seu chefe no dia-a-dia versus quando estava insuflando o ódio na multidão: "Nenhum ator podia ser melhor em se transformar de uma pessoa séria e civilizada em um homem esbaforido e barulhento. No escritório, ele tinha um tipo de elegância nobre, e então ver ele se ele ali como um anão esbravejante - você não pode imaginar maior contraste."
Ela também comentou sobre uma ocorrência banal que soa particularmente tétrica em retrospecto: "às vezes, seus filhos vinham visitar e ficavam super excitados de verem seu papai no trabalho. Eles vinham com a adorável airedale [raça de cachorro] da família. Eram muito educados e cortesmente apertavam nossas mãos". Em 1º de maio de 1945, para o choque até mesmo dos outros líderes nazistas, Goebbels e a esposa Magda mataram seus próprios seis filhos com cianureto, antes de se suicidarem com tiros e cianureto, seguindo o exemplo do patrão, Adolf Hitler, e a esposa, Eva Braun, um dia antes.
Pomsel foi presa pelos soviéticos e passou 5 anos num dos campos de concentração nos arredores de Berlin. Ainda para o Guardian, ela mostrou ter dificuldades em se arrepender. "É importante para mim, quando vejo o filme [o documentário A German Life, sobre sua vida], reconhecer essa imagem no espelho na qual posso ver tudo o que fiz de errado. Mas, realmente, não fiz nada além de datilografar no escritório de Goebbels."