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Crianças no Egito de Cleópatra morriam por desnutrição

É o que revela um estudo de 20 anos na Necrópole de Saqqara

Redação AH Publicado em 24/01/2017, às 12h55 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35

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A rainha em sua indiferença, em quadro do século 19 - Alexandre Cabanel
A rainha em sua indiferença, em quadro do século 19 - Alexandre Cabanel
Cleópatra VII, a última faraó do Egito, é famosa pelo luxo, tomando banhos de leite e, em certa ocasião, dissolvendo a maior pérola do mundo em vinagre para beber, numa aposta com seu amante, o general Marco Antônio. Ainda que a última história seja provavelmente invenção, numa coisa, nenhum historiador vai discordar: pobre, ela não era. 

Como isso se traduzia para o povo? Muito mal, segundo uma pesquisa de duas décadas conduzida pelo egiptologista polonês Karol Myśliwiec, da Universidade de Varsóvia. Sua equipe analisou os restos encontrados de 29 crianças encontradas na Necrópole de Saqqara, na antiga capital Mênfis. A pesquisa completa passou por 500 tumbas, desde o Antigo Reino, há quase 5 mil anos. Mas essas crianças, com idades entre meses até 12 anos, foram enterradas entre os séculos 4 a.C. e 1 d.C.,  durante o período ptolomaico - a dinastia de Cleópatra - e início do domínio romano.

Segundo a equipe, a maioria dessas crianças morreu de infecções ou parasitoses relacionadas à perda de imunidade ao fim do aleitamento materno. Mas isso não vem sozinho: elas sofriam de cáries, anemia, deficiência de vitamina B e má nutrição em geral. Também sinusite crônica causada pelo ambiente do deserto. 

Uma das crianças, cujos dentes indicavam ter 4 anos de idade, tinha o tamanho de um bebê de um ano. "Isso significa um retardamento ou inibição temporária no crescimento da criança ocorreu, provavelmente causado por uma dieta pobre em nutrientes essenciais para o desenvolvimento", afirma a bioarqueóloga Iwona Kozieradzka-Ogunmakin, da Universidade de Manchester. 


Dra. Iwona trabalhando / Polish Centre of Mediterranean Archaeology UW

Curiosamente, um dos indícios do estado precário de saúde dessas crianças é que a maioria delas não tem marcas diretas das doenças que as levaram. O que, ao contrário do que possa parecer, não significa que eram saudáveis, mas que "sucumbiram às doenças rapidamente por seu sistema imunológico fraco", segundo Dra. Iwona. Quem tem sinais de doenças é porque sobreviveu o suficiente para eles aparecerem - assim, estava num estado menos ruim que os outros. 

Outra ausência significativa: o próprio número de tumbas infantis é considerado baixo. Segundo os cientistas, é possível que pais enterrassem crianças nas próprias casas, como já foi visto em outras partes do Egito, ou que os corpos, enterrados em covas rasas perto da areia, tenham sido levados por animais. 

O Egito de Cleópatra está longe de ser o país exótico e atrasado que os filmes costumam mostrar. Ela foi a última governante da Dinastia Ptolomaica, gregos descendentes da conquista do país por Alexandre o Grande, em 336 a.C. Com a decadência das cidades-estado gregas, como Atenas, a capital do Egito, Alexandria, havia se tornado o novo centro cultural do mundo grego - prova disso era a Grande Biblioteca, um centro científico de onde vieram coisas como portas automáticas, máquinas de venda e o motor a vapor (que eles só usaram como um brinquedo). Com a conquista romana, o Egito seria também o celeiro do mundo. 

A miséria vista no cemitério provavelmente foi azar. Segundo os arqueólogos, secas no rio Nilo provavelmente causavam períodos de escassez, que levam à desnutrição generalizada. As crianças pequenas sofriam mais que todos.