Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / GoT

Como os combates em Game of Thrones se comparam com os da Idade Média?

Táticas na série de TV foram usadas por inúmeros povos com brutal eficiência - até o fogovivo existiu de verdade

Pedro Ivo Publicado em 14/04/2019, às 03h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Batalha no episódio 3 da 7ª temporada - Wikimedia Commons
Batalha no episódio 3 da 7ª temporada - Wikimedia Commons

Não existe fantasia medieval sem cavaleiros. Mas, antes do cavaleiro, teve de vir o cavalo.

O destrier se popularizou na Europa na Idade Média, vindo provavelmente da Ásia no século 7. Era muito maior e mais resistente que os cavalos conhecidos pelos gregos e romanos, para os quais a cavalaria era uma força prestigiosa, mas num papel auxiliar. 

Seria o destrier a dar novo protagonismo aos animais e seus donos nas guerras. "Além disso, o aperfeiçoamento da sela, que já era conhecida pelos romanos, e a adoção do estribo permitiram que o cavaleiro tivesse mais controle sobre a montaria. A união entre homem e cavalo se tornou invencível", diz Tim Ayers, historiador da Universidade de York. 

As selas reforçadas passaram a permitir que o guerreiro andasse a cavalo com mais peso sem perder o equilíbrio. Tornou-se possível montar usando armaduras pesadas. E, o mais importante de tudo, transmitem a força do animal para a ponta da lança, a razão de sua brutal eficiência (que veremos diante).

A imagem imponente na armadura, lá em cima, passou a ser associada a heroísmo e nobreza. Os cavaleiros, porém, sempre estiveram a serviço de alguém. Não necessariamente de causas nobres, mas da elite feudal. Game of Thrones mostra muitos deles e ao menos um torneio semelhante aos que entretinham a população, quando os combatentes exibiam suas habilidades. 

Letal calor humano

Táticas mostradas em GoT também batem com as da vida real. O final da temporada 6 mostra o exército de Jon Snow prestes a ser demolido por uma manobra da tropa de Ramsey Bolton. Eles os cercam com escudos cerrados e lanças. 

É exatamente como o exército romano derrotava números muito maiores de bárbaros desorganizados. Na Batalha de Watling Street, em 61, 10 mil romanos venceram 230 mil celtas icenos. Sua tática foi simplesmente avançar em linhas cerradas, protegidos por seus escudos, empurrando os celtas, que haviam bloqueado a saída do campo com suas carroças, uns contra os outros. A concentração de pessoas por metro quadrado foi aumentando até um nível catastrófico. Esmagados pela pressão da multidão, como num desastre de concerto ou estádio moderno, os celtas morreram sufocados ou soterrados por pilhas de corpos, sem nem sequer passarem perto das espadas romanas. 

Isso quase aconteceu ao exército de Jon Snow, se não fosse a chegada heroica da cavalaria de Littlefinger. E isso também é uma estratégia: o martelo e bigorna. Criada por Alexandre, o Grande, consistia em ocupar a infantaria inimiga com a própria, sem a intenção de matá-los. Lanças eram armas perfeitas para segurar o inimigo, porque era muito difícil alcançá-los através da paliçada. A cavalaria então manobrava para uma carga contra os adversários, por trás ou pelos flancos, jogando-os uns sobre os outros, com efeito catastrófico. 

Ao longo da história, generais desenvolveram táticas para evitar caírem nessa armadilha - uma delas é o quadrado de infantaria, onde lanças ou armas de fogo protegem a retaguarda. Mas, quando uma manobra de martelo e bigorna era realizada com sucesso, a parte atingida não tinha a menor chance.

Jogo de paciência

Uma coisa que GoT parece entender bem é a logística. Que suprimentos eram tudo. Não havia combate sem eles. Por isso a conquista de Casterly Rock na sétima temporada pareceu vazia e a destruição do comboio dos Lannister simplesmente parou eles nos trilhos.

E logística era fundamental para o tipo mais comum de batalha medieval: o cerco. Que era um jogo de espera.

Num cerco, não existia carga gloriosa. Mal existia combate: um exército se postava em torno do castelo ou cidade e impedia a entrada de alimentos. Era basicamente um jogo de nervos, como visto no diálogo em que Brynden Tully diz a Jaime Lanniester que tem dois anos de provisões e contesta sua capacidade de alimentar seu exército em volta do castelo por esse tempo todo. Era assim mesmo que funcionava: a esperança de quem era cercado era que saísse caro demais para quem cercava. 

Catapultas, entre elas os trabucos (mais conhecidos pelo francês trebuchet), botavam uma pressão contra os defensores, mas não eram geralmente potentes o bastante para abrir um rombo pelo qual as tropas poderiam entrar com segurança. A tática preferida era cavar um túnel sob os muros para fazer com que uma seção desabasse. Contra isso, havia os fossos dos castelos: eles serviam para inundar túneis, mais que impedir que gente na superfície chegasse às paredes. 

Quando um cerco finalmente se tornava invasão, com torres e escadas, era uma batalha imensamente a favor de quem defendia, com baixas numerosas e certeiras para o atacante. Era mais comum o inimigo se render - ou um traidor desesperado se render, como em GoT. Caso contrário, a invasão só acontecia quando os inimigos estavam prestes a morrer de fome. 

Os defensores contavam com a vantagem da altura para disparar flechas, areia e óleo escaldante. E até lança-chamas: uma especialidade do exército bizantino, o fogo grego, inspiração direta para o fogovivo. Como ele, queimava sobre a água. O fogo grego garantiu a segurança de Constantinopla por quase um milênio, até os turcos adotarem a tecnologia que poria fim definitivo à era dos castelos e muralhas: os canhões.