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Matérias / Personagem

A vida cheia de mistérios de Heitor Villa-Lobos

Até hoje, estudiosos não chegaram a um acordo sobre o que é verdade e o que é mito sobre a vida de Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro

Jeanne Callegari Publicado em 17/11/2018, às 11h00

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O compositor Heitor Villa-Lobos - Wikimedia Commons
O compositor Heitor Villa-Lobos - Wikimedia Commons

Heitor Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro da história, morreu há exatos 59 anos. Muito já foi escrito, ouvido e comentado a seu respeito. O que intriga, porém, é o que não foi dito: mais de um século após seu nascimento, a vida do gênio continua cercada de um tanto de mistério.

A começar pelas famosas viagens que o maestro fez pelo interior do Brasil – de onde tirou inspiração para desenvolver o nacionalismo presente em sua música, traço pelo qual ficou tão conhecido. Parece ter havido certo exagero dele ao relatar suas expedições pelos rincões do país. “Só a primeira viagem à Amazônia, de 1911, está confirmada. Villa estava com uma companhia de operetas como violoncelista. As demais são duvidosas e tudo indica que ele personalizou aventuras contadas por seu cunhado, que trabalhou no projeto Rondon”, diz Vasco Mariz, musicólogo e diplomata, autor do livro Villa-Lobos – O Homem e a Obra.

Aliás, as pesquisas de Vasco Mariz solucionaram um dos episódios mais míticos da vida do maestro. Corria que ele havia inventado para a imprensa francesa, em 1929, uma história de que teria sido seqüestrado por índios canibais brasileiros e só escapara da panela por causa de sua música. Na verdade, diz Mariz, quem inventou a história foi uma amiga dele, a poetisa francesa Lucie Delarue Mardus, que a publicou na revista Instransigeant. E conseguiu o que queria: fazer lotar o concerto do músico.

Se, porém, algumas de suas viagens e histórias foram romanceadas, as pesquisas que fez dos sons da natureza, do folclore e da música popular foram, de fato, fundamentais para sua obra. “Villa-Lobos introduziu os sons do Brasil na música, assim como Guimarães Rosa introduziu em sua escrita o falar das Gerais”, diz Maria Maia, autora de Villa-Lobos – Alma Brasileira. Para o maestro, as ousadias formais e as inovações técnicas que introduziu eram não resultado de um modismo, mas a melhor maneira de retratar a exuberância da natureza e do povo brasileiro. Antes dele, era considerado desprezível aproveitar o folclore na música erudita brasileira, segundo Vasco Mariz.

Nascido no Rio de Janeiro, Villa-Lobos aprendeu violoncelo e clarinete com o pai, que tocava em grupos amadores de música clássica. Em viagem pelo interior de Minas, onde a família morou quando tinha 6 anos, o menino aprendeu a gostar da música rural, sertaneja, e seu interesse aumentou ao observar o choro dos bares cariocas. Para tocar aquelas canções, Villa-Lobos resolveu aprender violão, mas teve que estudar escondido: os pais não aprovavam seu envolvimento com a música popular da boemia carioca. Era dotado de um ouvido musical privilegiado. Conseguia, por exemplo, compor, ouvir rádio e conversar, tudo ao mesmo tempo. E chamava esse dom de “ouvido profundo”.

Depois das viagens que fez ao interior, Villa-Lobos começou a incorporar os elementos nacionais às suas composições. O sentimento nacionalista se fortaleceu ainda mais durante a Semana de Arte Moderna de 1922, de que participou ativamente – detalhe: de terno e chinelo de dedo, por causa de uma crise de ácido úrico nos dedos do pé.

A partir daí, o sotaque brasileiro de sua obra ficou cada vez mais nítido. Comparado aos maiores nomes da história, como Wagner, Bach e Chopin, o brasileiro foi, e continua sendo, um dos compositores contemporâneos mais gravados lá fora. Ironicamente, quanto mais nacional sua arte ficava, mais se universalizava e conquistava o mundo. Como é típico dos gênios.