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Caças - os pássaros de guerra

Nosso colunista foi conhecer o futuro museu da TAM. Uma das grandes atrações são os lendários caças da Segunda Guerra - alguns em condições de vôo

João Barone Publicado em 01/09/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Ultra-secreto! Grandes Guerras destacou-me para uma missão muito especial: registrar o incrível acervo de lendários aviões da Segunda Guerra que integram o Museu Asas de um Sonho, que a TAM está construindo no município de São Carlos, a 250 quilômetros de São Paulo. O museu deve ser aberto ao público somente em novembro, mas conversei com o curador, o simpático Ian Combers, ex-piloto e grande conhecedor da história da aeronáutica, e consegui fazer uma visita especial ao museu antes de sua inauguração. Para mostrar algumas lendas da aviação de guerra, únicos exemplares do gênero no Brasil, “infiltrei-me” nas instalações do incrível espaço de 20 mil metros quadrados dedicados à história dos aviões.

Combers explicou-me que a criação do museu era um sonho antigo dos fundadores da TAM, os irmãos Rolim, e somente agora está se concretizando, como parte dos festejos dos 30 anos de operações da empresa. Ao longo dos anos, aviões de todos os tipos e épocas foram sendo comprados no Brasil e no exterior, para assim configurar uma riquíssima coleção, como poucas semelhantes no mundo – são mais de cem aeronaves. Fazem parte do acervo muitos aviões antigos e raros, biplanos, aviões a pistão, turbo-hélices, motores a reação (jato). Vários deles foram restaurados para ficar em condições de vôo, enquanto outros foram reformados apenas para exposição estática.

Fomos ao encalço das incríveis máquinas usadas na Segunda Guerra. Combers levou-nos aos hangares de restauro e preparo de alguns desses aviões, além de nos mostrar os que estavam guardados sob lonas na área principal do museu.

Quem apenas viu fotos em livros, filmes de época ou mesmo montou uma miniatura do lendário Messerschmitt Me-109 (ou Bf-109, que também está certo) não deixará de se emocionar ao ver esse raríssimo exemplar no museu. O Me-109 foi o caça mais produzido pela Alemanha nazista durante o conflito: foram fabricados mais de 35 mil aviões. Um projeto primoroso de aerodinâmica, leveza e maneabilidade, o caça foi usado em todas as frentes de combate e aprimorado em várias versões (E, F e G). Seu sistema de injeção de combustível permitia manobras em “G negativo”. Grosso modo, significa que o Me-109 podia voar de cabeça para baixo, sem faltar combustível ao motor. Assim, fazia manobras que outros aviões aliados não conseguiam, o que só aconteceria depois com os caças americanos que usavam o compressor Supercharger, de 1943 em diante.

Esse exemplar tem uma história curiosa. Foi retirado de onde esteve por mais de 40 anos: do fundo de um lago na Finlândia! Depois de ser alvejado e fazer um pouso forçado no gelo, afundou e ali ficou. Levado ao museu, foi restaurado e reconfigurado nas cores de um dos maiores ases alemães, Hans Joachim Marseille, que teve mais de 100 vitórias até seu acidente fatal no norte da África, em 1942. Esse Me-109 não está em condições de vôo, pois teve danos estruturais severos – ainda se vêem buracos de projéteis de 20 mm no compartimento do trem de aterrissagem.

No mesmo hangar, encontra-se desmontado outra lenda da aviação alemã: um Focke-Wulf Fw-190. Trata-se de uma réplica fiel em todos os detalhes, que será montada em condições de vôo. O Fw-190 teve várias versões: A, D (nariz longo) e F, com mais de 20 mil aviões fabricados. Era uma máquina primorosa e deu muita dor de cabeça aos aliados. Ao chegarmos à área principal do museu, Combers retirou as lonas que protegiam mais alguns lendários caças. Um Thunderbolt P-47D da FAB e um Spitfire MK-IX.

Pronto para voar

O P-47 está configurado sem a camuflagem, apenas no prateado-alumínio das últimas versões usadas na guerra. Esse exemplar retrata o avião número 1 do comandante do 1º Grupo de Caça – Senta a Pua, Nero Moura. Infelizmente, não está apto para vôo, apenas para exposição. O caça-bombardeiro P-47 (mais de 15 mil fabricados) também teve várias versões em sua vida útil. Um verdadeiro brutamontes, com quatro metralhadoras ponto 50 em cada asa, lançadores de mísseis e bombas de 250 libras, além do lendário motor radial de 18 cilindros Double Wasp, que também equipou o Corsair e o Hellcat. Ao mergulhar, o P-47 podia atingir velocidades quase supersônicas. Era considerado o rival direto dos Fw-190. Pena que não veremos um dog fight entre esses rivais históricos com o Focke-Wulf que voará em breve no museu...

O Spitfire MK-IX que vimos está com as marcas do maior ás da RAF, James Edgar “Johnnie” Johnson, que teve 38 vitórias. E o mais espetacular: está em condições de vôo! Se já não bastasse ver de perto essa lenda dos céus, o “bicho” ainda poderá mostrar suas capacidades em pleno ar. Assim que for inaugurado, o museu deve divulgar um calendário de eventos para mostrar os aviões em condição de vôo.

Foram mais de 20 mil Spitfires fabricados durante a Segunda Guerra. O avião fez sua lenda durante a Batalha da Grã-Bretanha, quando “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”, nas palavras de Winston Churchill ao elogiar a bravura dos pilotos da RAF contra os alemães. As asas de forma elíptica e o lendário motor Merlin V-12 identificam imediatamente essa lenda dos ares. O Spitfire é o maior exemplo da máxima aeronáutica que diz: “Se o avião é bonito, ele voa bonito”.

Não apenas eu, mas todo entusiasta da aeronáutica e da Segunda Guerra poderia ficar trancado nos hangares do museu por dias e dias, apenas apreciando as formas das incríveis máquinas. O que dizer quando elas estiverem decolando para exibições na pista do museu... Será imperdível!

*João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, coleciona peças e carros militares da Segunda Guerra mundial e estuda diversos temas referentes a esse e outros conflitos históricos.¨

Para saber mais

www.museutam.com.br - O museu ainda não abriu, mas seu site já está no ar.