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Dom Pedro III, o louco

Neto do imperador, que sonhava ser monarca, viveu 41 anos num manicômio

Kalleo Coura Publicado em 01/10/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

A monarquia como um todo sofreu um duro golpe quando a República foi proclamada no Brasil, em menos de seis horas, no dia 15 de novembro de 1889. Mas um sujeito em particular provavelmente absorveu o maior impacto: o príncipe Pedro Augusto de Bragança Saxe e Coburgo, na época com 23 anos, primogênito da princesa Leopoldina. A pancada foi tamanha que ele chegou a ser tratado por Freud.

Muito bonito, culto e refinado, espécie de príncipe William do século 19, Pedro Augusto havia sido criado para substituir o avô, dom Pedro II, no trono brasileiro. Mesmo sendo filho de Leopoldina. Isso porque todo mundo achava que a princesa Isabel e o conde d’Eu eram estéreis e não conseguiriam conceber um filho – rebento que seria o primeiro na linha sucessória.

No entanto, dez anos depois da união do casal, nasceu Pedro de Alcântara. Foi duro para Pedro Augusto, mas o sonho ainda não acabara. Os tios do menino não despertavam a simpatia do povo brasileiro. Primeiro porque Isabel era muito feia e beata e seu marido, estrangeiro e surdo. Além disso, eles eram odiados especialmente pelos latifundiários por causa da abolição da escravatura e do fraco desempenho do conde na Guerra do Paraguai. Além disso, o príncipe acreditava que o avô manifestaria seu apoio a ele.

Após 1889, seus surtos psicóticos, que fazia algum tempo já somatizavam as tensões que enfrentava, se agravaram. Na Áustria, onde se exilou, foi analisado por Sigmund Freud. Aos 68 anos, após 41 num manicômio e pouco antes de morrer, Pedro Augusto ainda planejava assumir o trono. Sua história está em O Príncipe Maldito, da historiadora Mary Del Priore. Abaixo, trechos de sua entrevista.

Entrevista

História – Por que a senhora se interessou pelo príncipe Pedro Augusto?

MARY DEL PRIORE – Ele é um personagem – invisível nos livros de história – que teve relativa influência na abolição da escravatura e na proclamação da República. É atual e representa a fragilidade familiar burguesa. E, atormentado, passa por análises psicanalíticas quando essa ciência se desenvolvia.

A vida do príncipe foi cheia de frustrações. Ele conseguiu se realizar em algum campo?

Ele gostava muito de ciências naturais, principalmente de mineralogia. O príncipe publicou livros e fez várias apresentações sobre o assunto, inclusive na Academia Francesa. Se tivesse condições normais, poderia ter se tornado um mineralogista bem-sucedido.

Apesar de ser muito bonito, não há relatos no livro sobre encontros amorosos do príncipe. Ele chegou a se relacionar com alguém?

Os psicanalistas que consultei me explicaram que a libido do psicótico maníaco-depressivo não funciona. É muito provável que ele não tivesse desejo sexual. Seu humor alternava: algumas vezes ia a várias festas, outras se enclausurava num quarto escuro. Em 1889, já dava sinais de que estava muito doente. Além disso, sua doença agravou-se muito. Teria morrido virgem por essas razões.