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Exilados da revolução

Depois de 30 anos de governo islâmico, milhares ainda fogem do Irã

Eduardo Campos Lima Publicado em 19/10/2009, às 04h22 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Em 1979, Nurollah Irani-Tehrani, gerente do hotel Royal Hyatt de Teerã, foi levado à polícia porque o local vendia álcool."Meu pai propôs que, em vez de disparar contra adegas cheias das bebidas mais caras do mundo, o carregamento fosse simplesmente devolvido", diz Amir Irani-Tehrani, que tinha 7 anos. Seu pai acabou açoitado por diversas vezes e preso outras três.

Casos como o da família Irani-Tehrani tornaram-se frequentes nos últimos 30 anos, desde que o xá Reza Pahlevi foi substituído pelo aiatolá Khomeini (1900-1989). Ao se tornar república islâmica, o país passou a perseguir dissidentes. A conturbada reeleição do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad, marcada por acusações de manipulação, sinaliza que, apesar da onda de protestos no Irã e no exterior, a perseguição tende a continuar.

Hoje, como em 1979, qualquer um que não se adapte pode ter problemas."Meu pai nunca foi preso por razões políticas, mas sim culturais", diz Irani-Tehrani. Sua mãe passou a usar o chador (véu que cobre parte do rosto) e ele foi repreendido na escola por usar jeans e ouvir música pop.

O país sofreu três grandes levas migratórias. Assim que Reza Pahlevi caiu, membros das elites ligadas ao xá emigraram."A invasão do Irã pelo Iraque, que causou uma guerra entre 1980 e 1988, desencadeou a segunda onda de emigração", afirma Arshin Adib-Moghaddam, professor de Política Comparada da Universidade de Londres. O enfraquecimento da economia provocou a terceira leva a partir de 1995. Ao todo, hoje vivem no exterior cerca de 2 milhões de iranianos.

A fuga continua."Ainda há um fluxo de refugiados deixando o Irã", diz Shirin Hakimzadeh, antropóloga americana. É o caso do ativista gay Arsham Parsi, que fugiu em 2005."No Irã, homossexualidade é punida com a morte", diz Parsi. Depois da reeleição de Ahmadinejad, alguns exilados esperam pouco do futuro."Vai demorar muito até que as coisas se normalizem", diz Amir Irani-Tehrani, editor de um portal noticioso iraniano baseado em Washington."O país é como uma pessoa abusada por 30 anos. Os abusos podem parar, mas a cura levará tempo e talvez nunca se complete."

Ranking trágico
Os países que mais abrigam iranianos e depoimentos de três deles

Saída pelo paquistão

"Nasci em Teerã. Após a revolução, minha mãe foi demitida e meu pai, preso. Ficamos meses escondidos. Eu, minha irmã e meu cunhado escapamos para o Paquistão. Após cinco meses, recebemos permissão para vir ao Brasil."

P.I., 38 anos, funcionária pública em Manaus

36° - Brasil: 27 exilados

Pancadaria

"Nunca vou esquecer o dia em que andava por uma rua na Turquia com outro refugiado gay, que havia sido torturado no Irã. Fomos perseguidos e espancados por uma turba homofóbica."

Arsham Parsi, 29 anos, ativista gay em Montreal

5° - Canadá: 5200 exilados

Festa como disfarce

"Fugimos logo depois do casamento de meu tio. Um cortejo de carros andava e buzinava após a cerimônia. Nós os seguimos e paramos, quando passávamos pelo aeroporto, momentos antes do nosso voo."

Amir Irani-Tehrani, 37 anos, editor em Washington

4° EUA: 6 347 exilados

3° Reino Unido: 10 320 exilados

2° Iraque: 10 823 exilados

1° Alemanha: 15 816 exilados