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Filmes sobre a Segunda Guerra: entre a arte e a pipoca

De filmes autorais a obras de puro entretenimento, o cinema não pára de beber em uma de suas mais ricas fontes

João Barone Publicado em 01/08/2008, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Nos anos seguintes ao final da Segunda Guerra, a indústria cinematográfica produziu muitos filmes sobre o conflito. As inúmeras histórias originadas nas frentes de batalha forneceram material inesgotável para roteiristas, diretores e estúdios de vários países, que produziram dramas, comédias e romances sobre os conturbados anos de 39 a 45. O gênero que mais se associou aos filmes de guerra foi, sem dúvida, o de ação, mostrando homens de uniforme e combates em terra, mar e ar, romanceados ou baseados em fatos reais. Mas o extenso capítulo sobre o cinema e a Segunda Guerra tem vários exemplos de filmes que entraram para a história do cine-arte, além de tantos outros célebres filmes de ação, mais voltados para o grande público de “comedores de pipoca”.

Antes de falar sobre as principais unanimidades, vale a pena lembrar alguns exemplos importantes de filmes de arte. Os nazistas mal tinham saído de Roma quando Roberto Rossellini filmou Roma, Cidade Aberta (1945), considerado o primeiro exemplo do “cinema verdade” (neo-realismo) italiano. Em condições muito limitadas, o diretor usou os próprios habitantes da cidade nas filmagens, mostrando o drama dos partisans em escaramuças com os alemães, e o vingativo acerto de contas com os colaboracionistas. Rossellini também filmou o drama Paisà (1946), sobre o dia-a-dia de combatentes e da população durante a guerra em seu país.

Já o diretor polonês Andrzej Wajda fez uma trilogia sobre a Segunda Guerra, com os filmes Geração (1954), Kanal (1956) e Cinzas e Diamantes (1958), narrando várias passagens sobre a resistência polonesa durante a inclemente ocupação nazista. Em 2007, Wajda voltou a abordar a guerra com o dramático Katyn, sobre o covarde massacre de mais de 8 mil oficiais do Exército polonês durante a ocupação russa, em 1940. Já o clássico Hiroshima, Meu Amor (1959), de Alain Resnais, faz uma reflexão sobre a primeira tragédia nuclear da História, num drama de narrativa poética da chamada nouvelle vague francesa. A produção franco-americana, Paris Está em Chamas? (1966), de René Clement (com roteiro de Francis Ford Coppola e Gore Vidal), relata a dramática retirada alemã da capital francesa, quando o general Von Choltitz recebeu ordens diretas de Hitler para destruir a cidade. O título do filme (baseado no livro) foi a pergunta feita pelo Führer a seus comandados durante a humilhante retirada. A resposta está no filme...

O Julgamento de Nuremberg (1962) é um clássico americano que apela para a inteligência, no lugar de balas e bombas. Filmado em preto-e-branco, o filme mostrou o julgamento dos juízes alemães acusados de favorecer o regime nazista. A lista de filmes de arte que abordam a Segunda Guerra poderia se estender por páginas e páginas, desde O Diário de Anne Frank (1959), de George Stevens, e Duas Mulheres (1960), de Vittorio De Sica, até as recentes produções de diretores como Steven Spielberg, com O Império do Sol (1987) e A Lista de Schindler (1993), ou O Pianista (2002), de Roman Polanski.

FILMES DE AÇÃO

Passando para os filmes de ação, os anos 60 viram uma série de superproduções com elencos estelares e orçamentos milionários, como O Mais Longo dos Dias (1962), Fugindo do Inferno (1963) e Uma Batalha no Inferno (1965), só para citar alguns. Fugindo do Inferno, inspirado na fuga de prisioneiros aliados de um campo alemão, consagrou o subgênero “filmes de campos de prisioneiros”, ao lado de Inferno nº 17 (1953), de Billy Wilder. A Ponte do Rio Kwai (1957) é um dos filmes mais lembrados no assunto, com o lendário personagem de Alec Guinness, um irredutível coronel inglês, liderando seus homens num campo de prisioneiros de guerra japonês em plena selva da Indochina, enfrentando seus algozes com honra e brio. A Guerra de Hart (2002), com Bruce Willis, retomou de forma brilhante o tema.

Um aspecto curioso da fase inicial dos filmes sobre a Segunda Guerra era a falta de rigor na direção de arte das filmagens. Detalhes como veículos, uniformes e armas ficavam de lado. Em Uma Batalha no Inferno, por exemplo, baseada na ofensiva alemã nas florestas das Ardenas, em dezembro de 1944, os tanques alemães usados no filme eram modernos M-60 Patton americanos... Uma exceção é Batalha Britânica (1969), que contou com a assessoria de aviadores veteranos para supervisionar as cenas aéreas, feitas com mais de cem aviões de época, entre Spitfires, Hurricanes, Heinkels e Messerschmitts. Outro filme impecável no roteiro e direção de arte foi Memphis Belle (1992), sobre a última missão de um B-17 e sua jovem tripulação.

Muitos atores firmaram-se na história desses filmes com unanimidade. Dentre eles, Audie Murphy, o soldado americano mais condecorado da Segunda Guerra, e que fez carreira no cinema, com mais de 40 filmes, muitos deles sobre guerra. O mais conhecido é Terrível como o Inferno (1955), que ficou durante anos como a maior bilheteria do cinema, desbancada apenas por Tubarão, em 1977.

O grande ídolo John Wayne, além de sua mítica figura de caubói, foi um dos mais conhecidos atores de filmes de guerra. Foi protagonista de Esquadrilha Mortal, Asas de Águia, Águas Traiçoeiras, Mares Violentos e muitos outros, sempre no papel de um intrépido soldado, aviador ou marinheiro que resolvia a parada no final.

Outro ator cujo semblante lembra instantaneamente seus papéis em filmes do gênero é Lee Marvin, como em Os Doze Condenados (1967), em que chefiou um pelotão de fora-da-lei que ganharia a liberdade, caso cumprisse uma missão suicida, além do excelente Agonia e Glória (1980), em que estava no comando de um pelotão da 1ª Divisão de infantaria americana, a Big Red One.

REQUINTES CÊNICOS

Ao longo dos anos, as produções esmeraram-se nas reconstituições de época. Alguns filmes importantes foram baseados em fatos reais, com requintados efeitos cênicos, como os clássicos Tora! Tora! Tora! (1970) e Midway (1976), ambientados no front do Pacífico. O primeiro, uma superprodução nipo-americana sobre o ataque a Pearl Harbor, contou com a supervisão histórica do general Minoru Genda, um dos militares japoneses que planejaram o ataque-surpresa em 1941.

Já Midway relatou grandiosamente essa batalha decisiva no Pacífico, com Charlton Heston, Henry Fonda e Toshiro Mifune no elenco. Mas o grande apelo foi o uso de sonorização especial nas salas de exibição, chamado de “sensurround”, que fazia a platéia tremer com o barulho dos motores de aviões, tiros e explosões. Usando muitas cenas de arquivo em cores, o filme não evitou algumas pequenas gafes, como ao mostrar aviões que ainda não estavam em uso na época da batalha (Hellcats e Corsairs), travada em 1942.

Um ótimo exemplo dos muitos filmes adaptados de livros foi Uma Ponte Longe Demais (1977), da obra homônima de Cornelius Ryan. Um elenco estelar descreve a desastrosa Operação Market Garden, com cuidadosa direção de arte e correção histórica. Patton: Rebelde ou Herói? (1970) trouxe George C. Scott como o lendário general americano, papel que lhe rendeu o Oscar de melhor ator – que ele recusou. A Cruz de Ferro (1976), de Sam Peckinpah – famoso por explorar a violência em seus filmes – apresenta as agruras de um pelotão alemão na temida frente russa, com ótima reconstituição de época.

Avaliando as mensagens recebidas dos leitores de Grandes Guerras sobre os filmes da Segunda Guerra mais lembrados, apontamos ainda algumas unanimidades, como a produção alemã Barco, Inferno no Mar (1981), que relatou o drama da tripulação de um U-Boat nazista ao longo de três angustiantes horas de duração. Outro é o filme que recolocou o gênero guerra nos cinemas: O Resgate do Soldado Ryan (1998), mais uma produção esmerada de Steven Spielberg, com a antológica cena de abertura retratando o Dia D. Além da Linha Vermelha (1998) mostra de forma brilhante o velho dilema entre comandantes e comandados no cruel front do Pacífico. As duas recentes produções de diretor Clint Eastwood sobre a batalha de Iwo Jima – A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima (2006) – confirmam o sempre renovado interesse sobre a Segunda Guerra.

Na opinião de fãs mais radicais, o discutido “melhor filme de guerra” não existe ou ainda será filmado. Um exemplo é a produção, prevista para 2009, Valquíria – codinome do complô para matar Hitler em julho de 1944 –, estrelado por Tom Cruise, no papel do coronel conspirador Von Stauffenberg. Vale a pena conferir também a edição especial de Grandes Guerras sobre “Os 100 Melhores Filmes de Guerra”. A lista, baseada na escolha de críticos e especialistas, inclui muitas dessas produções sobre a Segunda Guerra. Não perca!

João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, coleciona peças e carros militares da Segunda Guerra MundiaL e estuda diversos temas referentes a esse e outros conflitos históricos.