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Getúlio Vargas: A volta do caudilho

Citado tantas vezes por aqui, Getúlio resolveu nos dar sua versão dos fatos

Clarissa Passos* Publicado em 01/08/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

No primeiro aniversário de História, em agosto de 2004, ele estava na capa. Desde então, foi citado um montão de vezes, mas reclamava que ninguém tinha parado para conversar com ele. Enfim, seus clamores foram atendidos. Gaúcho, vascaíno, revolucionário e ditador, Getúlio Dornelles Vargas esteve na presidência por quase 20 anos. Tomou o poder em 1930, foi eleito indiretamente em 1934 e fechou o Congresso em 1937, inaugurando a ditadura do Estado Novo. Só saiu em 1945, quando se exilou em sua cidade, São Borja. Mas voltou, eleito pelo povo em 1950. Em meio à crise que atingiu seu mandato, avisou que só morto sairia do poder. Às 8h30 de 24 de agosto de 1954, a promessa foi cumprida pela bala de revólver que disparou contra o próprio peito. Aos 72 anos, saía da vida para entrar em História.

História – O senhor ficou 19 anos no poder. Não se cansou de ser presidente?

GETÚLIO VARGAS – Nada, guria! Eu achava uma delícia. Claro que havia ossos do ofício. O Carlos Lacerda pegando no meu pé, por exemplo, era um verdadeiro saco. Aquele asa-negra foi um dos articuladores do golpe militar de 1964 – e, não fosse minha... “saída estratégica” em 1954, ele teria conseguido seu intento muito antes.

Por “saída estratégica” o senhor quer dizer “suicídio”?

É, isso mesmo. Eu não gosto da palavra, sabe?

Qual foi sua prioridade na política?

Eu tinha um projeto para o país, guria. Queria libertar a nação do modelo agrário-exportador, fundar as bases para o desenvolvimento da indústria, levar o Brasil à modernização. Você sabe, eu insisti no lance da Petrobras, da Eletrobrás, da Companhia Siderúrgica Nacional e da Vale do Rio Doce.

A alcunha de Pai dos Pobres lhe agrada?

Eu acho até que bonitinha. Mas foi muito usada pela oposição para fazer graça. Eles começaram a me chamar de Mãe dos Ricos. Como é sabido, implementei muito rápido uma política de direitos para os trabalhadores: décimo-terceiro, férias, salário mínimo, descanso remunerado... Agora, é fácil criticar e desmerecer isso quando você é um intelectual que nunca pisou num chão de fábrica.

O que o senhor achou de Fernando Henrique Cardoso ter dito, em 1994, que a era Vargas havia acabado?

Bah, tchê! Acho ingênuo. O Brasil segue, para o bem e para o mal, baseado nas mesmas políticas de desenvolvimento que eu implantei. As legislações sindical e trabalhista, por exemplo, continuam basicamente as mesmas.

E a famosa carta-testamento? O senhor mesmo a redigiu?

Tem gente que diz que foi um assessor que a escreveu. Mas isso é intriga da oposição. Não que eu fosse lá um grande escritor, mas ocupei até cadeira na Academia Brasileira de Letras. Claro que minha eleição para a ABL foi, em boa parte, iniciativa do cordão dos puxa-sacos. Mas não elegeram o Sarney, anos depois? Parece que os imortais lá gostam de ter um presidente por perto.

O senhor se arrependeu do seu suicí... quero dizer, de sua saída estratégica?

Mas qual! Mudei o Brasil, guria. Não fosse meu governo, você provavelmente estaria morando em uma fazenda e pagando caríssimo por coisinhas bestas, como um rádio ou um aparelho de TV. Me diverti horrores com as imitações que o Oscarito fazia de mim, fiquei no imaginário popular, fui tema de marchinhas, livros e séries, batizei avenidas em incontáveis cidades do Brasil e fui capa de História. Renunciar é que eu não ia, apesar dos abutres esperarem por isso feito os meus conterrâneos esperam um bom churrasco. Voltei ao Catete nos braços do povo, como havia predito, e só saí de lá morto – também como havia avisado. Sou um gaúcho de palavra. E me orgulho disso.

* Clarissa Passos é jornalista e escritora, mantém o blog Garotas que Dizem Ni e assina uma coluna semanal no site de História

Saiba mais

Livro

O Dia em que Getúlio Matou Allende e Outras Novelas do Poder, Flávio Tavares, Record, 2004

Com um toque de ficção, o jornalista revela grandes personalidades da política. Além de Getúlio, há capítulos sobre Juscelino Kubitschek e Che Guevara.

Site

www.cpdoc.fgv.br/comum/htm/index.htm

A página da Fundação Getúlio Vargas tem trechos de discursos, textos e documentos do ex-presidente.