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A guerra na literatura

A Segunda Guerra Mundial rendeu um sem-número de livros apaixonantes e de forte impacto. Nosso colunista fala de algumas das obras imperdíveis

João Barone Publicado em 01/02/2008, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

A quantidade de livros já escritos sobre a Segunda Guerra Mundial – indiscutivelmente, um dos momentos culminantes da história da humanidade – poderia fazer uma pilha capaz de chegar até a Lua. Sejam romances que usam a guerra como cenário ou livros de abordagem técnica, sejam livros de fotos ou concorridas biografias, o mundo editorial descobriu um filão de grande atração popular e ótimos resultados comerciais. Inúmeras publicações tornaram-se referências ao ser lançadas nos anos seguintes ao término da guerra, enquanto a poeira dos escombros da Europa e Ásia ainda pairava no ar. É o caso do célebre Ascensão e Queda do Terceiro Reich, publicado em 1960 por William L. Shirer, jornalista americano que esteve em Berlim nos primeiros anos da guerra. Esse livro faz um mergulho minucioso na estrutura do nazismo e no cotidiano da Alemanha até sua derrocada final.

Outro ótimo exemplo é o clássico O Mais Longo dos Dias, de Cornelius Ryan, jornalista de guerra que produziu um relato apaixonante dos fatos envolvendo o desembarque dos Aliados na Normandia. Um grande autor sobre o tema é o historiador militar John Keegan, um dos mais respeitados especialistas no assunto. Mais recentemente, o historiador inglês Antony Beevor, em seus acachapantes livros sobre Stalingrado e Berlim, trouxe à luz fatos que estiveram guardados por décadas em arquivos de várias nações envolvidas na guerra. E o que dizer dos diversos livros escritos por Churchill sobre a guerra, incluindo A Segunda Guerra Mundial, sua narrativa pessoal sobre o conflito, com mais de 700 páginas, além de sua volumosa biografia escrita pelo político inglês Roy Jenkins. Não menos impactante é a obra em dois volumes sobre Hitler, de autoria de Joachim Fest, dentre as inúmeras já produzidas sobre o líder nazista. O livro Hitler’s War, do polêmico escritor inglês David Irving (acusado de anti-semita e que ficou preso por um ano na Áustria, em 2005, por questionar o Holocausto), é um relato de grande apelo, no qual o autor utiliza fatos documentais e aborda o ponto de vista de Hitler sobre a guerra. Antes de ser desacreditado por suas opiniões a respeito da “solução final”, afirmando que Hitler desconhecia esse fato, Irving era respeitado graças a seus mais de 30 livros, todos escritos com base em documentos e arquivos oficiais nazistas, capturados e reunidos depois do final da guerra.

Hoje, passados quase 63 anos desde o final da Segunda Guerra, um sem-número de documentos oficiais sobre o conflito foi liberado, rendendo farto material aos historiadores e a releitura de uma série de “versões oficiais” dos episódios da guerra. Um excelente exemplo são os livros escritos por Beevor, resultado de pesquisas criteriosas em acervos e documentos, dando uma idéia realista de como aconteceu a Batalha de Stalingrado, a queda de Berlim e a verdade sobre os restos mortais de Hitler, com todas as minúcias e dramas, capazes de nos emocionar pelas histórias de heroísmo ou fazer nosso estômago virar com relatos assustadores da realidade nada glamourosa da guerra.

STEPHEN AMBROSE

Em nenhuma lista de obras referenciais sobre a Segunda Guerra pode faltar o nome de Stephen Ambrose, historiador americano que não deixou a história esquecer os GI’s, recolocando-os no lugar merecido, seja em seus relatos sobre o Dia D em A Batalha Culminante da Segunda Guerra Mundial, seja na obra Soldados Cidadãos, que descreve o esforço e o sacrifício empenhados pelos americanos durante a guerra na Europa, desde o desembarque na Normandia até a travessia do Reno e a chegada a Berlim.

A curiosidade inesgotável pela figura de Hitler e a tentativa de entrar na mente do homem que foi elevado ao papel de maior vilão de todos os tempos fazem com que muitos livros a seu respeito ocupem cada vez mais espaço nas prateleiras de livrarias, em especial, os que relatam seus dias finais, como No Bunker de Hitler, também escrito por Joachim Fest, que levantou o testemunho da maioria das pessoas que estavam ao lado do ditador em seus instantes derradeiros. Até mesmo um dos guarda-costas de Hitler, Rochus Misch, escreveu sobre seu cotidiano com o Führer em Eu Fui Guarda-Costas de Hitler. Num de seus relatos, ele diz o que aconteceu com um soldado que achou engraçado e riu quando Hitler espantou por várias vezes uma mosca insistente que o infernizava, enquanto lia um relatório nos jardins da “Toca do Lobo”: foi imediatamente despachado para a frente russa.

Livros ilustrados de fotos sobre a Segunda Guerra recebem especial interesse dos entusiastas no assunto, trazendo um relato gráfico com o uso de milhares de dramáticos instantâneos do conflito mais fotografado da história. Alguns desses livros apresentam as imagens de forma cronológica, mostrando uma linha de tempo do conflito. Até mesmo Atlas temáticos sobre a Segunda Guerra podem ser encontrados, mostrando mapas das regiões onde o conflito aconteceu, infográficos e descrições sobre as forças envolvidas nas batalhas.

Um de meus livros favoritos é O Grande Circo, escrito pelo ás da aviação Pierre Clostermann, que narra de forma apaixonante sua experiência como piloto na guerra, um livro que foi reconhecido como obra literária pela Academia Francesa de Letras. Seria bom vê-lo reeditado no Brasil, pois sua última publicação data de 1966, sendo hoje apenas encontrado com sorte em sebos. Seria um grande tributo a esse franco-brasileiro que se dizia um brasileiro de fato. Falando nisso, um livro brasileiro semelhante e difícil de encontrar é o famoso A Missão 60 (1971), de Fernando Pereyron Mocellin, contando as memórias desse piloto do Senta a Pua! que realizou 59 missões. Um ótimo livro mais recente é a compilação de crônicas do correspondente de guerra Joel Silveira, O Inverno da Guerra, que conta muito bem as ações e o dia-a-dia da FEB na Itália. Para os que até hoje ainda têm alguma dúvida sobre o que os brasileiros foram fazer na Itália, recomendo a leitura desse livro. Joel dizia que chegou à Itália com 26 anos e voltou ao Brasil, nove meses depois, com 40. Numa de suas frases emblemáticas, ele resumiu de forma dramática o sentimento de quem esteve e voltou vivo dos morros e das ravinas italianas: “O que a guerra nos tira nunca mais devolve”.

João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, coleciona peças e carros militares da Segunda Guerra Mundial e estuda diversos temas referentes a esse e outros conflitos históricos.