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Legenda Áurea, o best-seller da Idade Média

Publicado no século 13, relato sobre a vida dos santos foi mais popular que a Bíblia.

Rodrigo Cavalcante Publicado em 01/04/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Quais os temores típicos de um cristão que vivia na Europa em plena Idade Média? Quem eram seus guias espirituais e em que exemplos morais ele se inspirava? Quem lê Legenda Áurea – Vidas de Santos, escrito pelo frei dominicano Jacopo de Varazze entre 1253 e 1270, vai ter uma boa idéia de como era o imaginário religioso medieval. O próprio título (legenda é “aquilo que deve ser lido” e áurea, “ouro”, “de valor”) revela sua função: uma coletânea sobre a vida dos santos para servir de exemplo aos cristãos. Historiadores acreditam que, inicialmente, o objetivo do frei tenha sido o de fornecer farto material para que seus colegas dominicanos pudessem enriquecer seus sermões. A idéia era boa: com ajuda de um verdadeiro almanaque com os relatos dos martírios e milagres pelos quais passaram os principais santos da Igreja, não havia como os ouvintes ficarem indiferentes.

É bom lembrar que, na época em que o texto foi escrito, os cristãos tinham uma relação com os santos mais prática do que a pura devoção espiritual. Num mundo sem médicos e sem farmácias na esquina, os mártires da Igreja eram usados como especialistas para males do corpo e da alma. Não à toa, a coletânea virou febre e logo ganhou traduções do latim para o alemão, catalão, francês, provençal, holandês, tcheco e outras línguas. Nem mesmo o aparecimento da imprensa e da primeira edição da Bíblia, no século 15, ofuscou a popularidade de Legenda Áurea. A versão francesa se tornou o primeiro livro impresso daquele país. E, por muitos anos, a obra chegou a ter mais edições que a própria Bíblia.

O livro não é recomendado, contudo, para quem busca um relato biográfico realista dos santos. Jacopo, assim como os outros autores cristãos de seu tempo, estava mais preocupado com a força e a beleza de seus relatos do que propriamente com a credibilidade. Essas características inspiraram artistas como Giotto e Fra Angélico, fazendo com que Legenda Áurea até hoje permaneça como um dos mais importantes documentos do mundo pré-Renascimento.