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Acervo / Curiosidades

Tendência excêntrica: quando livros eram encapados com pele humana

Os autores deixavam escrito, no próprio livro, a origem do material que era usado na capa

Mariana Iwakura Publicado em 16/04/2019, às 07h00

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Getty Images
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Guardados em coleções esquecidas de bibliotecas ou em acervos particulares, alguns livros, de aparência inocente, têm uma característica no mínimo curiosa: foram encapados com couro humano.

Não se sabe ao certo a origem dessa prática, mas já no século 17 havia livros feitos com peles curtidas de homens e mulheres. Em meados do século 20, o historiador americano Walter Hart Blumenthal escreveu uma obra em que versava sobre cerca de duas dúzias de obras com essa particularidade. Apesar da curiosidade da prática, ela nunca foi amplamente difundida. Sabe-se apenas de alguns casos porque os autores deixavam escrito, no próprio livro, que a capa era de pele humana.

Livro na Biblioteca Wellcome encadernado com pele humana / Wikimedia Commons

Segundo Laura Hartman, então pesquisadora de livros raros da Biblioteca Nacional de Medicina, em Maryland, Estados Unidos, há registro de uso de pele humana como capa de livros em diversas cidades americanas, como Filadélfia, Nova York e Chicago, no século 19. Os médicos tiravam a pele de corpos submetidos a autópsia e curtiam o couro nos porões dos hospitais.

“Em alguns casos, o uso das peles foi uma espécie de memorial para as pessoas de quem elas vieram e que ajudaram na pesquisa médica”, diz Laura, que publicou um  estudo sobre o assunto na revista científica Transactions and Studies of the College of Physicians of Philadelphia. Em sua pesquisa, Laura cita o caso de uma mulher de 28 anos da Filadélfia que, no século 19, morreu de triquinose, uma doença causada pela ingestão de carne infectada com um parasita.

O médico John Stockton Hough, que a atendeu, fez uma extensa pesquisa sobre a doença – era o primeiro registro de triquinose na cidade – e escreveu um livro. Três volumes foram encapados com pedaços da pele do “objeto de pesquisa”. Já Joseph Leidy, médico que escreveu o importante Tratado Elementar de Anatomia Humana, encapou um dos volumes da obra com a pele de um soldado da guerra civil americana.

Obra de 1863 encadernada com pele humana por Josse Schavye / Wikimedia Commons 

Como ele trabalhou como médico naquela guerra, é possível que a pele tenha vindo de um de seus pacientes. De acordo com Laura, além dessas “homenagens”, livros de memórias e até livros sagrados, como a Bíblia, pertencentes a pessoas religiosas, ganharam capas parecidas.

Além dos livros 

Não eram só os livros que tinham a “honra” de serem encapados com pele humana. Em Nova York, no fim do século 19, médicos iam ao distrito têxtil da cidade com pedaços de couro e pediam que eles fossem usados para a manufatura de valises. O tecido vinha de pacientes mortos ou de membros amputados – uma fonte de couro barata e um material bom para revestimentos. “O couro humano é durável e razoavelmente à prova d’água”, diz Laura Hartman.

O processo de tratamento da pele seria, provavelmente, parecido com o de qualquer outra pele de animal. Segundo Stephen Nonack, chefe dos bibliotecários do acervo particular Boston Athenaeum, a pele, em estado bruto, era uma bagunça ensanguentada e malcheirosa – parecida com a pele de outros animais, só que sem pelos. Ela era mergulhada em substâncias de origem vegetal, depois tingida. Se o curtidor suspeitava de que aquele não era um pedaço de couro animal comum, disso não há registro algum.