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Não És Tu, Brasil: um romance dos anos de chumbo

Não És Tu, Brasil, de Marcelo Rubens Paiva, mescla ficção e fatos reais de episódios da ditadura para contar a história da guerrilha do Vale do Ribeira

Fernanda Nogueira de Souza Publicado em 01/05/2007, às 00h00 - Atualizado em 18/10/2018, às 12h54

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Na época em que começou a escrever o romance Não És Tu, Brasil, entre 1994 e 1995 (e agora relançado pela Editora Objetiva), o escritor Marcelo Rubens Paiva pensava em fazer uma tese de mestrado sobre filmes de guerra, gênero que sempre admirou. Autor de Feliz Ano Velho e O Homem que Conhecia as Mulheres, ele desistiu no meio do caminho e resolveu falar sobre um dos mais marcantes episódios da luta armada brasileira durante a ditadura: a guerrilha do Vale do Ribeira.

Ocorrida entre 1969 e 1970, a guerrilha na região sul do Estado de São Paulo contou com um dos principais líderes da esquerda na época, Carlos Lamarca. Foi sob o comando do ex-militar que um grupo de oito guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) conseguiu escapar do cerco de mais de 1,5 mil homens do Exército.

Conhecedor da região, pois lá passava as férias de infância e adolescência na fazenda de sua família, na cidade de Eldorado, no Vale do Ribeira, Paiva aliou pesquisas em documentos oficiais, entrevistas com personagens envolvidos – como Erasmo Dias, que comandou as buscas aos guerrilheiros; e Monteiro, motorista de Lamarca – a entrevistas com a população local. “Tive a possibilidade de falar com pessoas que me conheciam, que me contaram muita coisa”, disse. Segundo o autor, após a passagem de Lamarca pela região, que teria dito só ter conseguido fugir porque foi ajudado por moradores, houve uma repressão bárbara nas cidades do Ribeira. “Todo mundo sofreu horrores. Muita gente foi presa e torturada. Por isso, nunca mais se falou sobre o assunto na região. Só falaram comigo porque eu cresci lá”, conta o escritor. De acordo com ele, na verdade, a população do Ribeira não ajudou os guerrilheiros. “As pessoas tinham medo deles”, diz Paiva.

Apesar de o livro misturar ficção e realidade, as cenas de combate são todas fiéis à narrativa de Lamarca, “com seu linguajar técnico e teórico de ex-capitão militar”, que falou sobre o episódio antes de ser assassinado por tropas do Exército, na Bahia, em 1971; de guerrilheiros que sobreviveram ao regime militar; e de Dias, que era coronel. “Falo muito sobre armas no livro, mas é tudo baseado nas pesquisas que fiz para escrevê-lo. Não entendo nada sobre armas, nunca segurei uma”, afirma Paiva.

Segundo o autor, narrar um episódio marcante da ditadura militar no Brasil (que durou de 1964 a 1984), e pela qual foi atingido pessoalmente – seu pai, o político Rubens Paiva, foi preso pela repressão em 1971 e desapareceu – é uma forma de abordar as transformações da época. “Entre 1969 e 1970, o Brasil passou de rural a urbano. Foi aí que o País perdeu a inocência, deixou de ser o país do Jeca Tatu”, conclui.

TRECHOS

“Em Jacupiranga, o circo pega fogo. As saídas da cidade, fechadas. Helicópteros dando rasantes e pousando no campo de futebol. Os moradores começam a ser presos”

“Em uma semana, no Vale, mais de 1 500 homens, e oito guerrilheiros comandados por Lamarca. Cada unidade do Exército enviou homens. A Marinha montou uma base naval em Iguape. A Aeronáutica montou uma base no campo de pouso”

“Desceram atirando, pistolas e revólveres. O primeiro tiro, no braço de João Cândido, que, ferido, correu e se escondeu. O segundo foi do Lamarca, estraçalhou a perna de Ezequiel, que se jogou no chão e se fingiu de morto. O garoto guerrilheiro Gopfert ouve uma explosão. Olha pra trás, pedindo prudência aos companheiros. Escorre um filete de sangue no rosto”

Não És Tu, Brasil

Marcelo Rubens Paiva, Editora Objetiva, R$ 46,90, 312 páginas

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Os personagens reais de Iwo Jima

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Três dos soldados morreram em combates posteriores ao episódio. Dois entregaram-se à bebida e ao sofrimento causado pelas lembranças da guerra – houve 26 mil mortos em Iwo Jima, entre japoneses e americanos. Apenas um deles levou uma vida tranqüila até a velhice, mas, também traumatizado, preferiu manter silêncio sobre o que viveu durante a guerra.

Aconteceu em 42

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