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Ramsés II: O grande faraó

Tudo na vida de Ramsés II é opulento: viveu até os 90 anos (67 deles governando o Egito), venceu batalhas, construiu uma capital. E ainda manteve oito mulheres oficiais e uma centena de amantes

Júlio Gralha* Publicado em 01/10/2005, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

O reinado de Ramsés II é, de certa forma, como as pirâmides – um símbolo da opulência egípcia. Chamado de Ramsés, o Grande, tudo na vida deste faraó é vultoso. Viveu 90 anos, dos quais 67 à frente do governo. No começo de seu reinado, partiu para Qadesh, cidade que demarcava o limite entre os impérios egípcio e hitita, enfrentou sozinho 2 500 bigas inimigas e saiu vivo – “com a ajuda de Amon-Rá”. Ramsés ainda fundou uma nova capital no norte do Egito, Pi-Ramsés, cobriu o seu país e a Núbia (atual Sudão) de monumentos aos deuses e estabeleceu uma paz no reino de cerca de 50 anos. O mais bem-sucedido faraó entre os deuses vivos teve tempo de ter oito rainhas – das quais Nefertari era a preferida –, mais de uma centena de esposas secundárias e concubinas e quase 200 filhos. Se não bastasse, a biografia de Ramsés II tem espaço também para controvérsias: é considerado por alguns pesquisadores como o faraó do Êxodo, a libertação dos hebreus relatada na Bíblia. Nesta entrevista, o faraó fala sobre seus feitos e polêmicas.

História - Existe algo que intriga os pesquisadores até hoje: o que aconteceu realmente na batalha de Qadesh, logo no início do seu reinado?

Ramsés - Ainda é difícil falar dessas coisas, mesmo 3 300 anos depois... Tudo aconteceu na primavera de 1274 a.C. Eu acreditava numa vitória fácil sobre os hititas. Assim, logo de início, consolidaria os feitos de meu pai, Sethi I. Mas não foi desse jeito. Estava perto do acampamento egípcio liderando a coluna de Amon, uma das quatro que levei, quando, de repente, uma nuvem de hititas furou a coluna e atacou o campo... Foi o terror! Invoquei Amon-Rá, meu deus. Com ele, enfrentamos sozinhos as milhares de bigas hititas.

Desculpe, Ramsés, mas realmente Amon-Rá interveio nesta batalha? Fala sério...

Tenho que confessar que uma tropa de elite surgiu, vinda de Amurru (atual Líbano), e manteve nossa posição até que outra coluna, a Seth, chegasse e nos salvasse. Não perdi e nem ganhei, e ainda consegui um tratado de paz duradouro com os hititas. E mais: uma nova esposa para o meu harém. Imagine para onde iria minha reputação se eu chegasse ao Egito dizendo que tomei uma coça dos hititas... Por isso sou um fiel devoto de Amon-Rá.

Mudando de assunto, você foi um dos faraós que conseguiu se tornar deus com culto ainda em vida. Como foi isso?

Antes de mim, Amenhetep III e Akhenaton tentaram, mas, cá entre nós, não tinham a minha competência. Se fosse nos dias de hoje, é como se o chefe do seu país – vocês chamam de presidente, né? – tivesse templos, santuários com suas estátuas. E, todos os dias, vocês fizessem preces e oferendas de pão, carne e cerveja para ele, pedindo trabalho, saúde, casamento, aumento, divórcio, essas coisas. Era assim que era feito comigo. Visite o templo de Abu Simbel no sul do Egito e você verá como fico bem entre os principais deuses no santuário. Ser deus é bom, ser rei também, mas ser ambos não tem preço. Vocês não sabem o prazer que dá.

Ouvimos sempre falar de suas centenas de mulheres e filhos. É tudo verdade?

Claro! E você tem dúvida? Tanto é verdade que construí uma tumba para os meus filhos, que aqueles seres horrendos, os tais egiptólogos, acabaram descobrindo e chamaram de KV5. Até agora eles descobriram 130 câmaras e acham que pode ter 200. Só que eu não vou dizer quantas eram. Agora que abriram a tumba, que trabalhem até encontrar.

Pelo jeito, você não gosta dos egiptólogos. Por quê? Foram eles que o transformaram num cara famoso hoje.

De fato, devo agradecê-los pelo que fizeram pela minha imagem nos últimos séculos. No entanto, tumba uma vez fechada não deve ser aberta. Eu sei que você vai dizer que havia ladrões de tumbas, blablablá. Mas já acordou com um monte de gente mexendo em você? Fazendo exames e exames? Mexendo no nariz, na boca? Pelo amor de Amon-Rá, isto não é nada agradável! Ah, como era bom o tempo em que eu podia visitar minha múmia na tumba sem ninguém por perto para perturbar...

Mas hoje sua múmia mora no Museu do Cairo e milhares de pessoas o visitam todos os anos. Isso não é incômodo?

Até era, mas agora as pessoas devem ficar em silêncio, não podem fazer movimentos bruscos – e, além disso, o ar purificado e condicionado é divino. E tem outra: tenho a companhia de outros como eu. Quando todos vão embora e fecham o museu, nós nos levantamos e vamos jogar sinete (antigo jogo egípcio) para passar o tempo.

Nefertari era mesmo sua rainha favorita?

Nefertari, Nefertari... Eu a amava profundamente. Construí um templo para ela próximo ao meu, em Abu Simbel. Só para ela fiz isso. Era meu braço direito. Você sabia que ela foi atuante nas relações diplomáticas entre o Egito e Hatti (o país dos hititas na Turquia)? Grande mulher.

Qual é o segredo da sua longevidade? Afinal, foram 90 anos numa época em que poucos chegavam aos 35.

Esse é um segredo que vai morrer comigo (risos). Talvez a opulenta e atlética vida que tive possa ter influenciado nisso. Talvez tenha sido uma dádiva do meu pai Amon-Rá. Talvez por eu ter uma família extremamente numerosa... Quem sabe?

E essa história do Êxodo dos hebreus? Foi mesmo no seu reinado?

Aprendi na internet no Museu do Cairo que não se discute religião, futebol e política. Posso dizer o que escuto nos corredores.

Não é a mesma coisa, mas gostaria de ouvir assim mesmo.

Os pesquisadores não acreditam nisso. Alguns acham que, se o Êxodo aconteceu mesmo, os hebreus atravessaram o mar de Juncos, que é bem rasinho, e não o mar Vermelho. No meu tempo não tínhamos nem um nome para os hebreus. Diversos grupos do Retennu (atual Palestina) eram chamados de apiru. Só por volta de 1100 a.C. meu filho Mer-en-Ptah escreveu pela primeira vez o nome Isr numa estela, quando conquistou a região. O nome foi traduzido como Israel depois.

* Júlio Gralha é historiador e mestre em Egito antigo pela Universidade Federal Fluminense

Saiba mais

Livros

Ramsés II Soberano dos Soberanos, Bernadeth Menu, Objetiva, 2002

A historiadora mostra como as qualidades de Ramsés faziam dele faraó por excelência

Deuses, Faraós e o Poder, Júlio Gralha, Barroso/Hemus, 2002

O livro aponta o papel de vários faraós na manutenção da teocracia do Egito

Site

www.kv5.com

Site que possibilita, entre outras coisas, um passeio por dentro das tumbas do Egito