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25 de julho de 1918: O inusitado dia em que paulistas acreditaram ter presenciado neve

Fenômeno meteorológico foi tão raro e inesperado que até mesmo o escritor Oswald de Andrade chegou a registrá-lo em seu caderno de visitas. Mas o que realmente aconteceu naquele dia?

Fabio Previdelli Publicado em 09/12/2020, às 00h00

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Montagem com neve em São Paulo - Wikimedia Commons
Montagem com neve em São Paulo - Wikimedia Commons

São Paulo sempre foi conhecida como a Terra da Garoa, embora as típicas chuvas de fim de tarde não sejam tão presentes como antigamente. Porém, no dia 25 de julho de 1918, a cidade deixou de ter tal alcunha e vivenciou um excepcional espetáculo de neve

Bom, pelo menos o fenômeno foi entendido assim pelo escritor Oswald de Andrade, que o registrou em seu caderno de visitas da famosa garçonnière.

Além dele, inclusive, outras pessoas acreditaram que isso realmente aconteceu. Entretanto, o que os paulistanos viveram naquela data não foi bem um estado de neve, mas sim um acontecimento tão peculiar quanto.  

O que dizem os especialistas? 

As medições meteorológicas na cidade são feitas há 110 anos pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/ USP) e, desde então, nunca houve um registro de neve em São Paulo.  

Segundo os especialistas, o que aconteceu naquele 25 de junho — e em outras ocasiões — foi, simplesmente, uma forte geada. "Não teve neve. A confusão que se faz é porque o cristal da neve é igual ao cristal da geada", explica Mario Festa, meteorologista da IAG, em entrevista à BBC.  

"Só que geada não cai. A gente fala popularmente que 'caiu o orvalho, caiu o sereno, caiu a geada', mas isso é um termo errado”, diz. Como o próprio meteorologista explica, para que exista a geada, não pode ter nuvens no céu. Já para a neve, a necessidade é a oposta. 

"Porque, para haver geada, é necessário que o céu esteja totalmente limpo, para que o calor armazenado se dissipe. Esse resfriamento muito rápido faz com que a umidade próxima à superfície, em certas condições, se congele. Ou, no caso do orvalho, simplesmente forme gotas líquidas." 

E essa história? 

Na época, José Nunes Belford Mattos, um dos pioneiros da meteorologia do país, constatou que, a Avenida Paulista — lugar no qual ficava a estação meteorológica da cidade —, estava encoberta por uma neblina naquela ocasião. Além disso, ele também relatou que nevou por alguns instantes e, pouco depois, o tempo voltou a ficar aberto.  

Porém, os cinco registros feitos pela IAG na data constam que, durante todo o dia, os índices de nebulosidade foram 0. O único fato, é que naquele 25 de julho, os termômetros registraram a marca de –1,2ºC. 

Até hoje, essa temperatura detém o recorde de mais baixa já registrada em toda a história de São Paulo. Entretanto, esse episódio não foi a única ocasião do índice, já que ele se repetiu em outras três ocasiões: em 6 e 12 de julho de 1942; e em 2 de agosto de 1955.  

“Para ter neve, tem de ter nuvem”, explica Festa. "A neve é uma forma de precipitação assim como a chuva", complementa a meteorologista e divulgadora científica Samantha Martins, autora do blog Meteorópole.  

"Apesar de estarmos em um planalto, não é alto o suficiente — são cerca de 800 metros acima do nível do mar”, diz Samantha. “A latitude também não é alta o suficiente, estamos na zona tropical, não próximos do polo Sul para que haja condições de ter massa de ar polar intensa que venha a atuar na formação de neve", comenta. 

Sobre o IAG 

O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas é o mais antigo do Brasil a fazer medições meteorológicas de forma organizada e sem interrupções, começando seu trabalho em 1910.  

Apesar do histórico, as medições nem sempre foram feitas do mesmo ponto da cidade, o que pode gerar, de certa forma, uma pequena variação entre as temperaturas registradas. No início de tudo, como já citado, o IAG ficava na Avenida Paulista, bem ao lado do palacete de Belford de Mattos, que era o diretor do local.  

Porém, conforme a região deixou de ser uma via de uso mais “particular”, o trânsito de bondes aumentou por lá, o que causava trepidações nos aparelhos de observação atmosférica que, por sua vez, causava imprecisão nos registros. 

Assim, em 1933, a região da Água Funda passou a receber a estação que é usada até hoje. Mesmo assim, as medições continuaram a acontecer na Paulista até meados de 1935.


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