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Curiosidades / Dom Pedro I

As duas ditaduras que festejaram os restos mortais de Dom Pedro I

Após uma suntuosa celebração, o translado dos despojos do monarca levou, por fim, seus restos até São Paulo, na Cripta Imperial, no Ipiranga

Redação Publicado em 29/08/2020, às 08h00 - Atualizado em 23/08/2022, às 15h58

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(Esq.)Caixão de Dom Pedro I antes do translado; (dir.) Dom Pedro I - Divulgação/Youtube/RTP/Wikimedia Commons
(Esq.)Caixão de Dom Pedro I antes do translado; (dir.) Dom Pedro I - Divulgação/Youtube/RTP/Wikimedia Commons

No dia 7 de setembro de 1822 — mesmo que com dor de barriga — Dom Pedro I declarou a Independência do Brasil. Ainda assim, a falta de elegância não impediu que o monarca fizesse parte de um simbólico panteão de figuras nacionais da ditadura militar. 

Mais precisamente, o translado do cadáver do soberano, em 1972, foi alvo de propaganda de cunho nacionalista. Isso ocorreu na celebração dos 150 anos da Independência, ocasião em que se tornou oportuno destacá-lo como personagem dotado de forte caráter militarista.

Retrato de Dom Pedro I / Crédito: Wikimedia Commons 

Regimes anti-democráticos 

Na época do translado dos restos de Dom Pedro I, o Brasil era chefiado pelo general Emílio Garrastazu Médici. Enquanto isso, Portugal também vivia uma ditadura: a nação ibérica era liderada pelo premier Marcello Caetano, sucessor de Antonio Salazar, que havia sido presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo.

Ou seja, Brasil e Portugal não tinham apenas em comum o imperador como figura histórica, mas também o fato de viverem em regimes militares. Dessa maneira, um evento que uniu política e História ocorreu.

A comemoração oficial dos 150 anos de Independência seria celebrada só em 22 de abril (Dia do Descobrimento), porém houve outra comemoração 12 dias antes, na cidade portuguesa do Porto. Foi lá de onde partiu o translado dos restos mortais de D. Pedro.

O acontecimento foi levado com tanta relevância que demorou cinco meses para os despojos do falecido chegarem em São Paulo; antes disso, seus remanescentes circularam por várias capitais brasileiras.

A cerimônia 

A celebração com os restos do antigo monarca contou com a presença de várias autoridades. Estava lá o embaixador do Brasil em Lisboa, Luís Antônio da Gama e Silva; e também membros da família real. Os despojos do imperador seguiram até o Rio de Janeiro, dentro de um navio. 

A festa continuou a bordo: o presidente português Américo Thomaz estava na embarcação de modo simbólico. Ele seria quem entregaria o morto ao presidente do Brasil, o general Médici. 

Crânio de Dom Pedro I / Crédito: Foto de Vitor Hugo Mori

Mas a entrega só ocorreu após outra cerimônia suntuosa. A urna com os restos de Dom Pedro I desembarcou no ancoradouro do Morro da Viúva e foi em um cortejo dentro de um tanque de guerra do Exército até o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo.

Somente lá Médici finalizou o festejo, recebendo o que sobrara do antigo imperador do Brasil. O espetáculo foi tanto que havia 10 mil pessoas presentes no local, comemorando o acontecimento. 

O jornal O Globo publicou um discurso dado por Médici um pouco depois, em 24 de abril de 1972. O general louvava a união com a ditadura portuguesa: “O gesto fraterno, raro e generoso de Portugal, ao doar ao Brasil os restos mortais de D. Pedro I, exprime a certeza de que são permanentes e inquebrantáveis os vínculos raciais, a comunhão de sentimentos, a afinidade de espírito e a vocação cultural que unem nossos povos”, proclamava. 

Destino final 

Só que o show não parou por aí. No Rio, os restos de Dom Pedro I ficaram abertos para os visitantes durante três dias. Depois, a urna saiu da cidade carioca e iniciou o famoso tour pelas capitais brasileiras. Milhares de pessoas deliravam ao notarem a presença do que sobrou de uma figura histórica.

Finalmente, em 7 de setembro de 1972, os despojos de D.Pedro alcançaram a Cripta da Capela Imperial, no Monumento à Independência. Até hoje, o monarca jaz no local. Também estão na mesma cripta os despojos de suas esposas, Dona Leopoldina e Dona Amélia. A causa da morte de Pedro foi tuberculose, em 24 de setembro de 1834, no Porto, cidade onde permanece apenas seu coração — que fora doado, em testamento, à Igreja da Lapa.