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Curiosidades / São Paulo

Até 2016, nome oficial do Minhocão homenageava presidente da ditadura

Renunciando ao tributo à repressão, a mudança de nome da via pública fez história diante dos nossos olhos

Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 29/07/2021, às 13h57

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O Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão, em São Paulo - Sarah Moraes via Wikimedia Commons
O Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão, em São Paulo - Sarah Moraes via Wikimedia Commons

A história é muito mais que um acúmulo de objetos, monumentos e registros escritos; ela é a memória e a interpretação que temos de eventos que marcaram época. Manifestações contra homenagens a figuras controversas também são atos históricos e fazem com que o passado seja entendido novamente bem na frente dos nossos olhos.

Por isso, ao longo dos anos, observamos projetos de lei e protestos que tentam transformar a interpretação que temos de símbolos polêmicos que nunca deveriam ter tido tal prestígio de serem exaltados. A estátua de Borba Gato é o exemplo mais recente e tipifica exatamente a mudança de imaginário que deveria acontecer a partir dos fatos.

Estátua de Borba Gato pegando fogo em São Paulo na última semana / Crédito: Daniel Eduardo (@danieleduardo_)

No entanto, ruas, avenidas, parques e muitas outras vias públicas continuam fazendo referência a personagens da nossa história que tiveram papel na manutenção de opressões e tiveram atuações extremamente contestáveis. É o caso de figuras da ditadura militar, por exemplo.

O Elevado Costa e Silva, como foi batizado, é apenas um dos locais públicos que receberam nomes que homenageavam ditadores, agentes e torturadores de um dos períodos mais brutais da história do Brasil. Conhecida como Minhocão na cidade de São Paulo, a via expressa conecta a região da Praça Roosevelt, no centro, e vai até à Barra Funda, no Largo Padre Péricles.

Em 2016, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sancionou um decreto que, depois de muito tempo, mudou o nome da via para Elevado Presidente João Goulart. O vereador Eliseu Gabriel foi responsável por escrever o projeto de lei dois anos antes, em junho de 2014.

O duro decreto

A via elevada Minhocão em São Paulo / Crédito: Lukaaz via Wikimedia Commons

Artur da Costa e Silva chegou ao poder em 1967 e governou por mais dois anos. Embora tenha sido um curto período, foi durante o seu comando que ocorreu a maior radicalização dos instrumentos de controle e repressão da ditadura militar: em dezembro de 1968, o AI-5, o mais duro de todos os dezessete decretos, foi emitido.

Com o Congresso fechado e o direito ao habeas corpus suspenso, o AI-5 atingiu, segundo dados de reportagem do jornal Folha de S. Paulo, ao menos 1.390 brasileiros apenas nos seus primeiros dois anos de existência. A ditadura já era ditadura, mas se endureceu ainda mais a partir do decreto, estabelecido durante o governo Costa e Silva.

Em 2016, Haddad, ao alterar o nome da via que homenageava o ditador, afirmou que a mudança tinha como objetivo "não apagar da memória do brasileiro o que foi a ditadura militar". A via elevada foi inaugurada em 1971 pelo então prefeito da capital paulista, Paulo Maluf, como informou o G1 na época da mudança.

"Temos que reiterar a todo momento o quão penoso foi o período de mais de 20 anos no nosso país, para evitar que isso volte a acontecer, sob qualquer manto, não só o manto militar", disse Haddad.

O ex-presidente João Goulart / Crédito: Governo do Brasil via Wikimedia Commons

O novo nome transformou a lembrança evocada pelo local: desde então, o Minhocão é oficialmente Elevado Presidente João Goulart, este o ex-presidente que sofreu o golpe militar em 1964. 

A via elevada não foi a única a ter o nome mudado pelo programa ‘Ruas de Memória' da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Na Zona Sul da cidade, a Avenida Golbery de Couto e Silva passou a se chamar Padre Giuseppe Benito Pegoraro

O projeto teve como objetivo mudar os nomes de mais de 40 vias na capital paulista que prestigiavam pessoas ligadas ao governo da ditadura militar. Trocando homenagem à repressores, é possível entender porque elas nunca deveriam ter sido consagradas da maneira que foram e poderão ser relembradas pelos atos perversos que cometeram.


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