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Curiosidades / África

Bir Tawil, a terra abandonada que não pertence a nenhum país

Território deixado pra trás pelo Egito e Sudão serviu para "realizar o sonho" de uma jovem princesa

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 24/04/2020, às 09h00 - Atualizado em 12/11/2022, às 13h00

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Foto de Bir Tawil - Divulgação / Youtube
Foto de Bir Tawil - Divulgação / Youtube

Em 1899, o Reino Unido era considerado a maior potência imperialista do mundo. Além do mais, a nação comandava boa parte dos países africanos, entre eles, o Egito — que vivia sob ocupação militar dos britânicos — e o Sudão — dominado pelos egípcios, que eram comandados pela ocupação militar britânica.

Naquele ano, ficou estabelecido que uma linha reta fosse traçada entre os países de forma equivalente, no mapa, ao paralelo 22N. Apesar do fatiamento de territórios africanos ser uma prática comum no século 19, sua implementação criou grupos éticos orgânicos que foram divididos pelas linhas retas. Assim, esses grupos foram submetidos a se adaptarem às línguas e religião de seus colonizadores.

Fronteira definida pelo Reino Unido em 1889. Ao norte fica o Egito e ao sul o Sudão / Crédito: Google Maps

Para se ter uma ideia da tamanha confusão, uma tribo nômade de origem cultural egípcia, chamado Ababda, perdeu um pedaço de suas terras para os sudaneses. Enquanto o povo Beja, de raízes mais próximas ao Sudão, perdeu um grande triângulo litorâneo para os egípcios.

Somente três anos depois, em 1902, que os britânicos tentaram reparar a bagunça. Com o objetivo de governar com facilidade, eles tentaram restaurar as antigas divisões, mas com algumas pequenas modificações para deixar cada povo “do lado certo” do mapa.

A decisão beneficiou o Sudão, que ficou cum uma área maior de acesso ao mar. Mas com a passar do tempo, muitas guerras civis, políticas e mundiais aconteceram, e os povos já não ocupavam a delimitação da mesma maneira.

Fronteira redefinida pelo Reino Unido em 1902 / Crédito: Google Maps

A briga voltou à tona em 1956, quando o Sudão se tornou independente, e se intensificou nos anos de 1990, depois da suspeita que o grande pedaço triangular de Hala’ib pudesse abrigar jazidas de petróleo.

Como consequência, os dois países lutam pela valiosa área triangular às margens do Mar Vermelho e esqueceram do pedaço mais singelo em formato de trapézio no centro da divisão. Quando perguntam para os egípcios a quem pertence àquela área, eles dizem que é ao Sudão. Quando perguntam aos sudaneses, eles dizem que é do Egito. E nesse embate, Bir Tawil virou terra de ninguém ou, até então, era assim que muitos a enxergavam.

As divisões criaram dois pedaços enormes de terras. O triangulo de Hala'ib é disputado por Sudão e Egito. Já o trapézio de Bir Tawil é esquecido pelas nações / Crédito: Google Maps

Mas essa história que já parecia maluca o suficiente ganhou um episódio insano em 2014. Tudo começou quando Emily, filha do americano Jeremiah Heaton, perguntou se algum dia ela se tornaria princesa.

O pai disse que percebeu o tom serio da pergunta da filha e procurou pelas terras sem dono. “Procurei pedaços de terra que não eram reivindicados por nenhum país e tive sorte de encontrar”, declarou em entrevista para a BBC.

Celebrando o aniversário de 7 anos de sua filha, Jeremiah saiu dos Estados Unidos em direção à fronteira entre Egito e Sudão, fincou uma bandeira desenhada por seus filhos e se autoproclamou rei da terra de ninguém,  ou do Sudão do Norte (nome que ele mesmo deu ao imenso pedaço de terra), para realizar o sonho da garotinha.

Jeremiah Heaton faz sua reivindicação a Bir Tawil em 2014 / Crédito: Divulgação Facebook

Apesar da excentricidade, nem o Egito e Nem o Sudão responderam a solicitação oficial que ele fez. De qualquer forma, Emily disse que “é muito legal” se sentir uma princesa.