Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Curiosidades / Civilizações

Como os gregos inspiraram as Olimpíadas modernas

Por mais de mil anos, os gregos disputaram competições esportivas que inspiraram as Olimpíadas modernas como forma de se manterem alerta e preparados para as guerras

Atonio Neto Publicado em 27/07/2021, às 09h32

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
A histórica cidade de Olímpia, na Grécia - Getty Images
A histórica cidade de Olímpia, na Grécia - Getty Images

Em 776 a.C., após deixar para trás seis adversários, o grego Corobeu venceu a única prova daquela que ficaria conhecida como a primeira edição dos Jogos Olímpicos.

Diferentemente do que se imagina, não foi uma corrida de longa distância: o cidadão
da cidade de Elis percorreu apenas os 192 metros de extensão do estádio de Olímpia,
na península do Peloponeso.

A ideia de que a maratona foi o primeiro esporte olímpico, portanto, não passa de um mito. Segundo esse mito, em 490 a.C., durante o período de guerras entre gregos e persas, um corredor chamado Fidípides teria atravessado quase 100 quilômetros entre Atenas e Esparta para buscar ajuda.

Outra versão conta que um homem chamado Eucles percorreu a distância entre Atenas e a cidade de Maratona para participar da batalha. Com a vitória dos gregos, ele retornou a Atenas para dar a notícia, um esforço de 40 quilômetros entre ida e volta que teria custado sua vida.

Nigel Spivey, professor de Artes Clássicas e Arqueologia na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e autor de The Ancient Olympics (“As Olimpíadas antigas”, em português), afirma que o equívoco pode ser esclarecido ao se analisar a formação social da Grécia antiga.

“Isso que chamamos de corrida de longa distância nunca tinha sido considerado esporte, tendo em vista que o trabalho de levar mensagens entre as cidades era função de
servos e escravos", afirma.

Antigo local de treino em Olímpia, na Grécia / Crédito: Bgabel at wikivoyage via Wikimedia Commons

Na democracia grega, apenas homens livres eram considerados cidadãos. Entre seus direitos estavam as decisões políticas e a participação no exército. Essa natureza bélica, enraizada na própria mitologia, também se relaciona com a atenção dada ao corpo.

A prática constante de atividades físicas era a responsável por mantê-los preparados para as guerras — e acabou dando origem às Olimpíadas.

As cidades-estados só alcançavam esse status se oferecessem para a população um local para a prática de esportes — o estádio. A partir do século 8 a.C., a Grécia estabeleceu um calendário de competições para motivar seus “atletas”.

A primazia de Olímpia sobre as demais cidades gregas na organização dos jogos
está fundamentada na mitologia. Filho de Zeus, o herói Hércules teria inaugurado os Jogos Olímpicos como forma de comemorar o sucesso de um de seus 12 trabalhos: a limpeza dos estábulos de Audias, rei de Elis.

Concretamente, sabe-se que essa lenda foi representada em Olímpia pelo escultor Fídias, que, em 440 a.C., foi o responsável pela construção do mais importante templo em homenagem a Zeus, que se transformou numa das Sete Maravilhas do mundo antigo.

A estátua fez com que a cidade se tornasse o principal ponto de encontro dos festivais religiosos. E a proximidade do estádio fez com que Olímpia se destacasse como palco dos esportes.

Por mais de 40 anos, a participação foi restrita a atletas da região. Mas, entre 732 a.C. e 696 a.C., a lista de vitoriosos passou a incluir cidadãos de Atenas e Esparta. E, a partir do século 6 a.C., os jogos passaram a receber inscrições de qualquer homem que falasse grego, fosse ele da Itália, do Egito ou da Ásia.

“Participar de torneios como aqueles não era, de fato, apenas competir”, ressalta Nigel Spivey. “Os atletas dirigiam-se para as Olimpíadas antigas com o interesse de ganhar e ser reconhecidos como os melhores.”

Ao longo dos anos, diversas cidades estados passaram a realizar suas próprias disputas, que também carregavam um forte viés religioso.

Como forma de homenagear a deusa Atena, os chamados Jogos Panatenáicos foram instituídos em Atenas em 566 a.C., mas acabaram ofuscados por outros torneios. Esse novo circuito de competições, conhecido como Jogos Sagrados, era sediado em Olímpia e Delfos — a cada quatro anos — e em Corinto e Nemea — a cada dois anos.

Bigas e sangue

A estátua O Discobolus de Myron que mostra atleta jogando disco / Crédito: Livioandronico2013 via Wikimedia Commons

Embora a primeira Olimpíada tenha acolhido apenas uma disputa, novas categorias foram incluídas ao longo dos mais de mil anos do evento como forma de disputa
política e militar.

As corridas de biga, inicialmente com quatro cavalos, inauguraram um novo espaço de competições, o hipódromo, em 680 a.C., data da 25ª edição dos jogos. Diversos personagens históricos protagonizaram embates nessa modalidade.

O político Alcibíades, amigo e entusiasta de Sócrates, participou da corrida de 416 a.C. com nada menos que sete bigas. Segundo o historiador Tucídides, conquistou o primeiro, o segundo e o quarto lugares.

Em 67 d.C., já sob o domínio romano, os gregos assistiram ao imperador Nero ser coroado vencedor mesmo sem ter cruzado a linha de chegada com sua biga puxada por dez cavalos.

Embates corporais também fizeram parte do calendário olímpico da Antiguidade. Uma das modalidades, conhecida hoje como luta greco-romana, já fazia parte do treinamento físico dos jovens da Grécia desde o século 10 a.C.

Os primeiros vestígios da inclusão dessa luta numa Olimpíada datam de 400 anos depois: foram encontrados em fragmentos de uma placa de bronze.

Para vencer a luta, não havia contagem de tempo. As categorias eram divididas por idade. Era preciso jogar o oponente ao chão pelo menos três vezes — sem quebrar os dedos do adversário.

O boxe também foi disputado. Um busto representando um lutador de 330 a.C. dá conta da violência da modalidade — há inúmeras cicatrizes na imagem de bronze. Não havia luvas, rounds ou regras claras para aliviar o sofrimento dos competidores.

O orador João Crisóstomo registrou em dois discursos que um tal Melancomas, morador de Cária (localizada na costa da Ásia Menor), teria sido o maior pugilista do primeiro século da era cristã.

A luta mais cruel da competição, porém, foi introduzida no calendário cerca de 100 anos depois da primeira Olimpíada. Para que se tenha ideia, os combatentes do chamado pancrácio eram punidos pelos juízes só em caso de mordidas ou quando um deles arrancasse o olho do adversário.

O vencedor acabava venerado pela plateia mesmo quando provocava a morte do oponente. Conjunto de cinco categorias, o pentatlo era disputado em provas de corrida, salto, luta, arremesso de disco e arremesso de dardo.

Respectivamente, corridas e lutas abriam e encerravam o conjunto de provas — com algumas regras próprias, ambas categorias também eram disputadas fora do pentatlo.

Na corrida, a distância mais curta envolvia um trajeto de cerca de 200 metros, equivalente ao comprimento dos estádios. Na mais longa, os atletas disputavam a liderança em 24 voltas pelo perímetro do local ou 5 mil metros.

Os jogos da Antiguidade eram violentos. Muitas vezes, serviram para simular batalhas militares. A morte de atletas chegou a ser registrada. A despeito das condições climáticas e mesmo de higiene, sabe-se que os atletas competiam nus.

Historiadores antigos registram que essa tradição teria começado em 720 a.C., quando um sujeito chamado Orsipos, de Megara, venceu uma prova de corrida ao notar que sua performance seria melhor se ele abandonasse suas roupas pelo trajeto.

A própria palavra “ginástica” tem o termo “nudismo” em seu radical grego gymnos – o que explicaria a proibição de mulheres, fosse como atletas, fosse como espectadoras.

Por mais sangue que tenha sido derramado, os atletas jamais abriram mão de alguma ambição pela vitória. Nem mesmo durante as guerras, ou quando a Grécia esteve sob domínio dos macedônios e dos romanos, as competições esportivas deixaram de ser realizadas.

Os jogos, contudo, entraram em declínio na segunda metade do século 4. Durante o domínio do imperador Teodósio, em 380, o cristianismo foi anunciado como religião oficial do Império Romano, fazendo com que, 13 anos depois, todos os centros esportivos e religiosos que abrigavam festas pagãs fossem fechados. 

Era o fim dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, que só viriam a ganhar uma versão moderna cerca de 1500 anos mais tarde.


+Saiba mais sobre o tema por meio de grandes obras disponíveis na Amazon: 

O algoritmo da vitória: Lições dos melhores técnicos esportivos do mundo para você aplicar em seu time, sua carreira e sua vida, de José Salibi Neto (2020 ) - https://amzn.to/2CqpUtJ

Psicologia do esporte, de Dietmar Samulski (2008) - https://amzn.to/2AVENUi

Fisiologia do Esporte e do Exercício, de W. Larry Kenney, David L. Costill e Jack H. Wilmore (2020) - https://amzn.to/315r0Wd

Esportes, de Daniel Tatarsky (2017) - https://amzn.to/3hMqrqb

História dos esportes, de Orlando Duarte Figueiredo (2004) - https://amzn.to/2YVFKnC

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp

Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/2yiDA7W