Morte do ícone das artes marciais resultou em inúmeras especulações
por Fabio Previdelli
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Publicado em 20/04/2020, às 11h00 - Atualizado em 18/07/2023, às 18h30
Ao acordar naquele 20 de julho de 1973, Bruce Lee levava sua rotina como qualquer outro dia normal: passou a manhã e grande parte do dia em reunião com produtores de seu próximo filme; depois foi para a casa de um 'amigo' no período da tarde. Ao anoitecer, porém, seu corpo estava estendido em um colchão no chão.
Mesmo após 50 anos, a grande pergunta que fica é: afinal, como Bruce Lee morreu?
O declínio da saúde do artista marcial de 32 anos começou dois meses antes do dia de sua morte. Em 10 de maio, Lee participava de uma sessão de ensaios para o filme Operação Dragão quando foi levado às pressas para o hospital após se queixar de uma forte dor de cabeça. O astro ainda sofreu com convulsões, aponta Thomas Bruce em Bruce Lee: Fighting Spirit: a Biography.
A equipe médica constatou que Bruce Lee apresentava sinais de um edema cerebral — condição que causava excesso de líquido no cérebro, culminando em dores e inchaço. Porém, ele acabou sendo tratado imediatamente com manitol e passou por uma breve internação.
Após ter recebido alta, Lee seguiu com sua rotina de condicionamento físico e uma dieta saudável: uma combinação rigorosa de vegetais, arroz, peixe e leite; deixando de fora produtos de panificação, farinhas e açúcares refinados.
Até o fatídico 20 de julho, Bruce Lee parecia ter se recuperado bem. Embora tenha reclamado de uma dor de cabeça ocasional, nada parecia preocupar o estado de saúde do artista marcial.
No seu último dia de vida, Bruce Lee teve uma rotina movimentada, mas nada fora do que ele já estivesse acostumado. Durante a manhã e grande parte do dia, esteve reunido com o produtor Raymond Chow para discutir seu próximo filme. Ele apresentava entusiasmo com o projeto. O portal The Ringer conta, inclusive, que ele representava as cenas com certa energia, embora o dia fosse de um verão escaldante.
Depois da reunião, Bruce foi até o apartamento de um amigo. Pelo menos é isso que se pensava até então. Posteriormente, constatou-se que o ator teve um encontro com a atriz taiwanesa Betty Ting Pei, que passou a ser apontada como amante.
Os dois ficaram sozinhos por diversas horas, mas chegaram a fazer planos para jantarem com o produtor num encontro que finalizaria o contrato do filme. Mas, por volta das 19h30, pouco antes de saírem, Lee voltou a se queixar de dores de cabeça. Ting Pei lhe deu um analgésico, Equagesic, contendo aspirina e uma tranquilizante, chamado meprobamato.
Bruce então foi se se deitar. Após algumas horas, ele não desceu do quarto. Quando Ting Pei foi vê-lo, o astro estava inconsciente. Ela chamou Chow para o local e ambos tentaram acordar o ator, mas sem sucesso.
Um médico foi acionado, mas o profissional também não conseguiu reanimá-lo. Sem serem capazes de trazê-lo de volta à consciência, o artista marcial foi levado para o hospital mais próximo em uma ambulância. Ao chegar, ele já estava morto, reportou a
Agence France-Presse.
Um fato era claro: o corpo de Bruce Lee não tinha sinais de lesões externas. Por conta disso, uma autópsia foi feita para revelar o que causou a morte do ator. O resultado mostrou um grave inchaço cerebral. O acúmulo de líquido foi responsável por aumentar em 13% o tamanho do órgão.
Segundo o produtor, a causa da morte foi uma reação alérgica ao analgésico — o exame comprovava parcialmente sua versão. O legista constatou que Bruce Lee morreu devido a um segundo edema causado pela ingestão de Equagesic.
O relatório aponta "morte por desventura", que é diferente de morte acidental, repercute Sid Campbell em Remembering the master. Neste caso, implica que o óbito ocorreu por conta de um risco voluntário, apesar do analgésico não ser um medicamento considerado perigoso.
Várias investigações ao decorrer dos anos respaldam o relatório original, mas isso não impediu que o artista marcial fosse alvo de teorias conspiratórias como todo artista jovem que morreu, igual Elvis Presley e Marilyn Monroe, por exemplo.
Amigo de Bruce Lee, Chuck Norris falou sobre a perda do ator em entrevista durante a San Diego Comic-Con Convention de 1975. Norris disse que já teve contato com relaxantes musculares que Lee tomava e afirmou que foi por conta deles que Bruce morreu.
A declaração, obviamente, provocou um alvoroço sobre quais tipo de medicamentos o artista marcial estava tomando. Seria estimulantes para mantê-lo em forma? Ou suplementos para uma rotina mais saudável?
De acordo com o All That Interesting, também houve o boato que ele havia brigado com uma prostituta. Sob influência de um poderoso afrodisíaco, ele teria perdido o controle e agredido a garota de programa, que o atacou em legítima defesa.
Alguns fãs chegaram a alegar, sem provas, que Betty Ting Pei administrou doses exageradas de Equagesic de maneira proposital, pois ela trabalhava em uma sociedade secreta que queria o ator morto — embora o grupo jamais tenha sido especificado. As teorias, vale ressaltar, não foram levadas a sério.
Mas a teoria que mais se fomentou foi a respeito da maldição da Família Lee. Essa suposta lenda surgiu somente duas décadas após a morte do artista marcial, quando seu único filho, Brandon Lee, seguia os passo do pai e também teve um fim trágico.
Em 1992, Brandon era uma estrela em ascensão de apenas 28 anos. O ator havia acabado de conseguir seu maior papel: interpretando Eric Draven em O Corvo, uma adaptação de uma história em quadrinhos sobre um músico de rock assassinado que retorna dos mortos para se vingar de seus assassinos.
A história rendeu ótimos elogios à Brandon, mas todos feitos de maneira póstuma. Afinal, o ator foi baleado e acabou morrendo durante as filmagens — quando uma arma de propulsão que não deveria estar carregada disparou uma bala real em seu abdômen. Sua morte também gerou conspirações, ainda que as autoridades tenham considerado o episódio um acidente.
No final de 2022, em um artigo publicado na Clinical Kidney Journal, cientistas sugeriram que o edema cerebral do astro de filmes de ação foi causado não por conta dos medicamentos, mas devido a hiponatremia.
+ Estudo aponta que Bruce Lee pode morrido por beber muita água
Na condição, o corpo retém tanta água que o nível de sódio no sangue fica perigosamente baixo. O que significa que os rins de Bruce Lee se tornaram incapazes de excretar tanta água quanto ele ingeria. Ele teria morrido por ingerir muita água.
Um ponto que favorece a hipótese é a dieta mantida pelo artista marcial: com muitos sucos e bebidas proteicas, assim como o uso de maconha (que aumenta a sede do usuário).
"Em resumo, Lee tinha múltiplos fatores de risco que predispunham à hiponatremia resultante da interferência nos mecanismos de homeostase da água que regulam tanto a ingestão quanto a excreção de água", aponta o artigo.
Nossa hipótese é que Bruce Lee morreu de uma forma específica de disfunção renal: a incapacidade de excretar água suficiente para manter a homeostase da água. Ironicamente, Lee tornou famosa a frase 'seja água, meu amigo’, mas o excesso de água parece tê-lo matado", finaliza a pesquisa.
