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Curiosidades / União Soviética

Pica-pau de Chernobyl: o mistério da União Soviética que atormentou o mundo

Em 1976, um tétrico som interrompeu as transmissões e provocou uma série de teorias da conspiração

Thiago Lincolins Publicado em 28/12/2019, às 08h00

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O Duga-3, responsável pelo tétrico som - Divulgação
O Duga-3, responsável pelo tétrico som - Divulgação

Era julho de 1976. A internet comercial estava a 18 anos de ser lançada, mas uma comunidade ligava o planeta através das barreiras de linguagem, cruzando até a Cortina de Ferro: os radioamadores, que conversavam através das madrugadas por seus aparelhos de ondas curtas, que refletiam entre a superfície e a atmosfera para cobrir o planeta. E o assunto do mês era um só: que diabos era o pica-pau?

Na frequência de 10 hertz, um fantasmagórico ruído de pancadas regulares podia ser ouvido. E nada além disso. O ruído não só interferia com as comunicações de radioamadorismo como com transmissões de rádio comuns e comunicações de navios e aviões. Logo se descobriu que o barulho tinha origem na União Soviética. Pânico instaurado, surgiram teorias exóticas de que seria um maligno plano comunista para o controle da mente.

O poderoso pica-pau abafava as transmissões legítimas na mesma frequência com o estranho tec, tec, tec. O sinal afetou inclusive as estações de rádio de Moscou — mas, não é mistério, não havia a opção de denunciar o incômodo por ali. Nações de todo o mundo se queixaram com a União Soviética. Mas o país jamais sequer confirmou a existência de qualquer aparelho. Os sinais desapareceram em 1989, durante os anos da Perestroika.

Só depois do fim da União Soviética que foi possível entender exatamente a natureza do Pica-Pau Russo, como foi apelidado. A transmissão era parte do Duga (Arco), um sistema secreto de radares soviéticos. A sua função era fornecer um alerta antecipado do lançamento de mísseis balísticos intercontinentais. Assim, a União Soviética saberia antecipadamente se um ataque nuclear começasse, e reagiria a tempo com seu próprio ataque.

O que, no fim das contas, era uma coisa boa: esse tipo de equipamento era fundamental para o instável equilíbrio da Guerra Fria, a chamada Aniquilação Mútua Garantida. Havendo a garantia de que um ataque levaria a um contra-ataque, isso tornava inviável que um lado tentasse atacar o outro de surpresa, destruindo suas instalações nucleares. O primeiro sistema Duga detectou com sucesso o lançamento de foguetes vindos do Cosmódromo de Baikonur, no sul do Cazaquistão.

O Pica-Pau de 1976 operava a partir de Chernobyl, na Ucrânia. Uma estrutura colossal, medindo 85 metros de altura; e a potência foi estimada em até 10 milhões de watts. Seguiu transmitindo mesmo após o desastre nuclear de 1986. (Aliás, a própria usina continuou a funcionar com seus outros reatores até 2003.) Parou não porque fosse incômodo ou pela ameaça radioativa, mas porque a tecnologia hava sido superada por satélites.