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Curiosidades / Cotidiano

Um péssimo cheiro do altar: a vida antes dos cemitérios

A vida sem cemitério não era, digamos, muito salubre. Nós, por exemplo, rezávamos em cima dos cadáveres

Lívia Lombardo Publicado em 29/09/2019, às 09h00 - Atualizado em 02/11/2022, às 10h00

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Imagem meramente ilustrativa - Pixabay
Imagem meramente ilustrativa - Pixabay

Até meados do século 19, no Brasil, o costume era enterrar os mortos dentro das igrejas. E esse era o enterro mais honrado, reservado a nobres e bispos - os pobres e escravos eram enterrados ao lado, numa vala comum. Na maior parte das vezes, nem caixão era usado.

Os corpos eram sepultados na terra suja e repleta de ossos de defuntos antigos. Não é difícil imaginar a quantidade de doenças que a prática ocasionava. 

Segundo o escritor Francisco de Assis Vieira Bueno, em Vida Cotidiana em São Paulo, um ar maléfico enchia as igrejas e expunha as mulheres, que ficavam horas sentadas lá dentro, a todo tipo de infecção.

São Paulo só acabou com esse hábito nada higiênico em 1850, quando a Câmara decidiu que a cidade deveria construir um cemitério secular - o da Consolação. Era uma novidade mundial: na Europa, o primeiro grande cemitério secular foi o Pére Lachaise, em Paris, criado em 1804 por iniciativa de Napoleão.

Na Europa, a situação podia ser ainda pior que a do Brasil, porque as cidades eram maiores. Em Paris, o Cemitério dos Inocentes — um lamaçal com poucas lápides e muitas sepulturas em massa, abrigando até 1500 corpos cada, ficou tão congestionado que teve de ser fechado em 1780.

Os corpos foram movidos para as Catacumbas seis anos depois. Mas, como muitos não haviam se decomposto completamente, sobrou uma quantidade enorme de gordura saponizada humana — que não foi desperdiçada, mas transformada em sabão e velas. 

Exumar esqueletos, aliás, era como um terreninho atrás da igreja podia lidar com dezenas de milhares de sepultamentos ao longo do séculos. Esses eram enviados para ossuários, depósitos que alguns padres usavam para liberar a imaginação. Como no Ossuário de Sedlec, República Checa:

Crédito: Wikimedia Commons

Mas muito tempo antes de existirem igrejas o homem já tinha o costume de enterrar seus mortos. O primeiro rito funerário de que se tem notícia aconteceu há 300 mil anos, na atual Espanha — o que quer dizer que, quando nossa espécie surgiu, os ancestrais já tinham conhecimento da inevitabilidade da morte.

O rito, coletivo, enterrou 32 corpos num poço dentro de uma caverna, com 14 metros de profundidade. O local deve ter sido escolhido para garantir que os defuntos ficariam a salvo de animais carniceiros.

A partir daí, cada civilização passou a enterrar seus mortos de acordo com a cultura e a religião. Os egípcios, por exemplo, mumificavam os faraós e os enterravam com pompas em pirâmides. Falecidos do povão eram colocados em um buraco no chão e cobertos com um manto de fibra natural — ou até um jarro.

Os celtas, por volta de 1200 a.C., faziam grandes túmulos de terra para colocar os finados. Mais tarde, entre os séculos 11e 8 a.C., passaram a incinerar os mortos e a guardar as cinzas em uma urna. Ainda na Antiguidade, na Índia, os defuntos eram incinerados em grandes piras — e, por vezes, a viúva do morto era queimada também. Só no século 7 surgiu o costume insalubre de enterrar na igreja.