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Matérias / Folclore

Vampiros das lendas eram radicalmente diferentes da imagem hollywoodiana

A criatura charmosa é uma versão higienizada do folclore, no qual eram grotescos, fétidos e bem estúpidos

Fábio Marton Publicado em 29/04/2019, às 07h00

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Nosferatu (1922) traz uma visão mais próxima das lendas que os filmes hollywoodianos que se seguiram - Reprodução
Nosferatu (1922) traz uma visão mais próxima das lendas que os filmes hollywoodianos que se seguiram - Reprodução

Em julho de 2013, arqueólogos desenterraram quatro esqueletos sem data definida de morte em Gliwice, Polônia. As cabeças, decapitadas, estavam entre suas pernas. Em outubro passado, outro corpo foi enterrado de bruços, com uma pedra enfiada na boca

A tese mais aceita é que esses mortos tiveram a duvidosa honra de sofrer um enterro de vampiro. Uma tradição europeia que durou até o século 18 ou, em áreas remotas, o 20. Quando um corpo era suspeito de vampirismo — as razões englobavam suicídio, bruxaria, ter nascido com deformidades ou, num dia azarado, ter um gato pulando por sobre seu corpo —, podia ter a clássica estaca atravessada no coração, mas também podia ser decapitado, cremado, ter um tijolo (ou pedra ou moeda) enfiado na boca ou levar um trivial tiro de revólver. 

Longe de serem nobres charmosos, essas criaturas eram miseráveis sem teto, aldeões que voltavam para suas tumbas em cemitérios comuns. Invariavelmente eram descritos como inchados como carrapatos, com sangue saindo pela boca, com a pele mais escura ou avermelhada que em vida — descrições que vinham de testemunhos reais, diante de corpos exumados. Quando uma criança, adulto ou animal sumia nas imediações, as pessoas passavam a desconfiar de sanguessugas tétricos e o morto mais recente era sempre o maior suspeito. 

Soluções menos drásticas incluíam espalhar sementes e um prego em volta do túmulo. O vampiro seria obrigado a contar tudo e, ao furar o dedo com o prego, se distrairia, perderia a conta e teria de começar de novo. Para espantar um desses seres, era preciso dizer frases encantadas como "Volte amanhã que te dou sal".

Pois é, vampiros não só eram miseráveis e feios, como um tanto estúpidos. A imagem moderna dos vampiros é criação do britânico Bram Stoker e seu livro Drácula, de 1897. Para criar um exemplar sedutor e inteligente, ele só escolheu as partes menos ridículas das crenças eslavas.

A tese mais aceita é de que essas lendas tenham surgido e se mantido com a surpresa das pessoas em abrir uma tumba e encontrar um corpo mais gordo e menos pálido do que havia sido enterrado. Alguns dias após a morte, variando pela temperatura, a decomposição muda a cor da pele e gera gases que se acumulam, inflando o corpo.

A pressão pode fazer sangue sair pela boca e também que o morto emita sons, pelas duas pontas. Sem entender o processo de decomposição, as pessoas achavam que a pessoa parecia “viva” e “saudável”. E que só podia ser assim por ter se alimentado de sangue — a prova estava, literalmente, na cara. 

A paranoia vampiresca só diminiu quando a imperatriz Maria Tereza da Áustria (1717-1780), organizou um estudo científico para verificar se vampiros existiam. A resposta (esperamos não surpreender ninguém aqui) foi: "não". Após isso, leis contra profanação de sepulturas foram criadas, pondo na ilegalidade os caçadores de vampiros.