Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Testeira

21 anos de 'O Auto da Compadecida', filme que retratou o jeito brasileiro de ser

O mês de setembro marca o lançamento do icônico filme, que nos trouxe alegria e uma nova forma de viver o cinema das terras tupiniquins

Daniel Bydlowski, cineasta Publicado em 25/09/2021, às 09h00 - Atualizado às 13h38

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cena do filme 'O Auto da Compadecida' (2000) - Divulgação/Lereby Produções e Globo Filmes
Cena do filme 'O Auto da Compadecida' (2000) - Divulgação/Lereby Produções e Globo Filmes

"Não sei, só sei que foi assim!" Entre versos e prosas, os personagens levam o expectador para o que tem de melhor no nosso país, o jeito do brasileiro. Mostrado de forma pejorativa por uns, salvando a vida de outros, em o Auto da Compadecida, de Guel Arraes, poupou até a alma de alguns.

O mentiroso, João Grilo (Matheus Natchergaele), e o covarde, Chicó (Selton Mello), dão início a uma jornada de intrigas, golpes e trapalhadas em meio ao sertão do Nordeste. Com sátiras e piadas nada prontas, o longa encantou ao país inteiro, mostrando que o cinema nacional é como o Brasil: grande e próspero.

Divulgação/Lereby Produções e Globo Filmes

A obra homônima de Ariano Suassuna (1955) inspira o filme, que foi parar nas telonas no ano de 2000, e trouxe o retrato de dois trapaceiros, do coronelismo barato de uma cidade pequena e da força superficial que a igreja exerce em uma comunidade.

Boas gargalhadas

Entre corrupção religiosa, matrimônios corrompidos e os atrapalhados protagonistas, a encenação cômica abre espaço para boas gargalhadas e o público fica na torcida pelos pobres homens que vivem de truques para ter o que desejam, mas no fim, as coisas sempre parecem ruir, mesmo que façam mais esforço para trapacear do que fariam para trabalhar.

As atuações de Selton e Mateus são perfeitas, porém não tiram o brilho do elenco de apoio, que é um time de peso. Marco Nanini, Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Maurício Gonçalves, Diogo Vilela e Denise Fraga são alguns dos nomes que ajudaram esse projeto a se tornar umas das melhores obras que já se passou nas telinhas de nosso país.

Divulgação/Lereby Produções e Globo Filmes

Ao todo, essa reunião de gigantes conquistou 6 premiações e 3 indicações, dentre eles o Grande Prêmio Cinema Brasil e Miami Brazilian Film Festival. Mas, com certeza, seria digna de um Óscar, só não decidimos para quem.

Medos e faltas

A fábula do cangaço tomou vida nas mãos desses atores, isso, sem contar a cena icônica da morte de todos eles, em que João Grilo apela à Nossa Senhora e, com um verso tocante e engraçado, a mãe de Jesus desce e deixa todos sem ter o que fazer. Além, da bela lição de moral sobre como os homens apelam para os caminhos marginalizados a partir de seus medos e faltas.

A antagonismo desses dois personagens é o ponto homogêneo do longa, enquanto um é extremamente corajoso e perspicaz, ou outro é sempre cuidadoso, porém disposto, mesmo que sobre tentativas falidas de fazer o parceiro mudar de ideia.

Divulgação/Lereby Produções e Globo Filmes

Isso no cinema é muito mais que o Batman e Robin, é uma fórmula para uma dupla que deixa a sintonia perfeita e pronta para ser consumida com atenção e admiração. Aquilo parece real aos olhos do público, afinal, quem não tem na rua um vizinho extremamente inteligente, mas não usa o dom para nada de bom, ou mesmo, um que é ingênuo e cai em todas as tramoias que passam por sua frente.

A química entre os atores ficou irresistível, e toda a projeção, mesmo que tenha passado na televisão antes, levou 2 milhões de pessoas ao cinema, isso porque não importa quantas vezes você assistiu, as risadas são certeiras.

Divulgação/Lereby Produções e Globo Filmes

Agora vou relatar algumas curiosidades sobre o universo deste filme. 

1. Foi filmado no interior da Paraíba, na cidade de Cabeceiras, na Roliúde Nordestina, um grande estúdio a céu aberto;

2. Arraes e Suassuna eram vizinhos e cresceram na mesma rua;

3. O figurino de Marco Nanini pesava 8 quilos;

4. Suassuna afirmou que Mateus está impecável no longa;

5. O filme veio de uma série de 4 episódios na televisão brasileira;

6. A personagem Rosinha é apenas citada na versão original, porém ganhou mais destaque na obra de Arraes;

7. As roupas dos protagonistas foram lixadas e tingidas várias vezes para parecerem velhas;

8. Antônio Fagundes já interpretou Chicó e Regina Duarte a Compadecida, em uma versão mais antiga.

Esse feito do cinema nacional deve ser comemorado todos os anos, uma obra literária sem igual e transmitida. 


Sobre o cineasta

O cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas. É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos. Atualmente, cursa doutorado na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente, seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.