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Desventuras / Personagem

Dom Pedro I: a música esteve entre as predileções do imperador do Brasil

O imperador dominava diversos instrumentos musicais

Hugo Oliveira Publicado em 18/11/2021, às 11h18 - Atualizado em 21/04/2022, às 08h00

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Pintura de Dom Pedro I - Wikimedia Commons, Domínio Público
Pintura de Dom Pedro I - Wikimedia Commons, Domínio Público

Nascido em 12 de outubro de 1798, em Queluz, Portugal, mas vivendo no Brasil desde os nove anos, por conta da transferência da corte portuguesa ao país, Dom Pedro I experimentou aquele que talvez tenha sido seu período mais crucial quanto à formação humanística e cultural no Rio de Janeiro.

Com Portugal prestes a ser invadido por tropas francesas, e a possibilidade de virar prisioneiro do imperador “bigode grosso” Napoleão Bonaparte mostrando-se mais palpável, Dom João VI, pai de Pedro I, bateu o martelo e, junto dos seus, decidiu respirar os ares de um tal país tropical abençoado por deus e bonito por natureza.

Depois de uma rápida passagem por Salvador, na Bahia, eis que a parada da família real e agregados se dá na capital do Brasil, Rio de Janeiro. Mais precisamente, no Palácio de São Cristóvão. Mesmo que não tivesse noção, os anos incríveis de Pedrinho estavam prestes a dar as caras. E com trilha sonora de respeito.

Os garotos da escola só a fim de jogar bola... E Pedro querendo tocar fado luso-cigano

Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon teve instrução de qualidade – aliás, só pelo tamanho do nome a gente desconfia que rolava uma realeza com a pessoa em questão, correto?

Mesmo assim, o lance de Pedro, ao menos no fim da infância e começo da adolescência, era outro. E pouco relacionado à educação formal. Como conta o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti no livro “Dom Pedro – A história não contada” (Editora Leya – 2015), de forma natural, ele começou se enveredando por artes manuais – marcenaria e a escultura –, chegando a fazer um modelo de navio de guerra e uma mesa de bilhar completa. A partir daí, foi abraçando suas paixões.

Sem medo de um possível “cancelamento familiar”, dedicou-se à música, à poesia e ao desenho. Rezzutti cita no volume o que o reverendo irlandês Robert Walsh, capelão da embaixada britânica no Brasil entre 1828 a 1829, declarou sobre o rapaz.

“A atividade a que ele mais se devota é a música, pela qual ele desenvolveu, em uma idade precoce, uma forte predileção, e mostrou um decidido talento. Ele não apenas aprendeu a tocar uma variedade de instrumentos, mas compôs, eu fui informado, muitas das músicas para a capela de seu pai; e a peça mais popular agora no Brasil, tanto as palavras quanto a música são de sua composição, atestando seu talento” – WALSH, Rev. R. Notices of Brazil in 1828 and 1829, p. 182.

Adoro música; amo o praz

Em 1811, quando tinha por volta dos 13 anos e já estava prestes a adentrar a adolescência, Dom Pedro I recebeu algo que, para um amante da música, poderia ser percebido como um presente: compositor da corte, maestro real e criador de óperas e de música sacra, Marcos Portugal, recém-chegado da terrinha, virou o professor oficial de Pedro, ministrando aulas a ele.

Ele encorajou o príncipe a elaborar suas próprias composições. Dom Pedro I dominava diversos instrumentos musicais, como o clarim, a flauta, o violino, o fagote, o trombone e o cravo.

Como também não queria sair mal na foto dos adolescentes da época, tocava guitarra clássica, mais conhecida como violão – em termos de popularidade, era o “sampler” da época. Com esse último, fazia o acompanhamento de canções e danças populares em voga no Rio de Janeiro da época, caso do fado luso-cigano, da modinha luso-brasileira e do lundu angolano.

Estava tudo muito bom, tudo muito bem. Mas, parece que, depois de algumas performances musicais, o que o rapaz realmente passou a querer era outra coisa. E a música pode bem ter potencializado essa vontade.

Pegue o caso do lundu angolano, por exemplo. Tipo de canção e dança trazida ao Brasil pelos africanos, era efetuada com movimentos considerados lascivos. Para o historiador Neil Macaulay, a carga sexual dessa prática poderia ter aberto os portões dos desejos carnais do jovem príncipe. Afinal, de uma pessoa que, aos 14 anos, afirmava que deveria ser enxergado “como um homem”, não é difícil pensar algo do tipo – e principalmente, vale ressaltar, por estarmos falando de outros tempos.

O lado musical de Dom `Pedro I, apesar de ter ficado em segundo plano a partir desse momento, não foi esquecido. Prova disso é que seu nome figura no famoso – e respeitado – Dicionário Cravo Albin, que reúne informações sobre artistas e grupos do Brasil de diversos gêneros. Veja só o espaço que foi reservado à promessa musical nascida em Queluz.

“O primeiro imperador do Brasil entrou para a história da música popular brasileira como cantor de modinhas. Há indícios de modinhas escritas à Marquesa de Santos, infelizmente ainda não encontradas. No Rio de Janeiro seus mestres foram Marcos Portugal e o padre Maurício Nunes Garcia. Tocava vários instrumentos e foi considerado pelos compositores e cantores da sua época como um apaixonado notório pela música. Escreveu músicas orquestrais e sacras, incluindo o Hino da Independência”.

Bravo, imperador. Agora, toca Raul!

Herói de Portugal 

Na saga do imperador, um capítulo menos abordado sobre sua vida é tema do novo episódio do podcast ‘Desventuras na História’. 

Narrado por Vítor Soares, professor de História e dono do podcast ‘História em Meia Hora’, o episódio relembra não só a vida pública, mas também a intimidade de Pedro I e a sua saga quando voltou à Portugal.

Confira abaixo!