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Desventuras / Brasil

O maior mico da história das guerras

Em abril de 1917, o Brasil protagonizou um episódio emblemático

Vítor Soares, professor de História Publicado em 20/02/2022, às 06h00

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Imagem meramente ilustrativa - WikiImages, via Pixabay
Imagem meramente ilustrativa - WikiImages, via Pixabay

O maior mico da história das guerras só podia ser do Brasil. Não é novidade pra ninguém que as Forças Armadas brasileiras não possuem um histórico de heroísmo tão grande.

Tirando a participação da FEB na Segunda Guerra Mundial, ao expulsar os nazistas das montanhas italianas, a história dos nossos militares engloba muito mais golpes e influência na democracia brasileira do que em uma lendária participação em conflitos mundiais.

Aqui no Brasil os militares se envolveram pelo menos em 1889 com golpe republicano, em 1930 no golpe getulista, em 1945 no fim da ditadura Vargas e, claro, de 64 a 85 durante as mais de duas décadas de ditadura militar.

Os militares brasileiros também são lembrados pelo seu protagonismo na Guerra do Paraguai, onde na segunda metade do século XIX expulsaram o ditador Solano López de volta para o seu país, venceram-no e ainda o caçaram até a morte.

Pintura da Guerra do Paraguai /Crédito: Domínio Público

Mas esquecem de comentar sobre a Batalha de Acosta Ñu, onde o exército brasileiro, Uruguai e argentino, mataram mais de 3 mil crianças enviadas por López para atrasar o avanço da Tríplice Aliança enquanto ele fugia.

Mas como cometer uma verdadeira chacina contra crianças é mais trágico do que cômico, o maior mico da história das guerras não está nessa batalha, mas sim, na Primeira Guerra Mundial, quando a Marinha brasileira decide ajudar a Tríplice Entente contra os alemães (que nessa época não eram nazistas).

Em terras tupiniquins

Mas vamos do início. Tudo começou quando a Grande Guerra acabou esbarrando aqui nas terras tupiniquins. Em abril de 1917, navios alemães afundaram navios brasileiros que estavam transportando café do Porto de Santos. Após alguns meses de resistência por parte do governo e incitação por parte da população para a entrada do país na guerra, o Brasil oficialmente se alia à Tríplice Entende, ao lado dos EUA e Inglaterra.

A Marinha Brasileira não tinha muita experiência em conflitos internacionais. Na verdade, nenhuma. Novamente, a Marinha se destaca muito mais pelo seu desempenho nas Revoltas da Armada, na Revolta da Chibata e pela sua subserviência à Monarquia, o que contribuiu para que as instituições republicanas demorarem ainda mais para se solidificarem.

Mas estava na hora de adquirir a sua primeira experiência em conflitos intercontinentais. A Marinha brasileira enviou uma frota de navios para apoiar seus aliados. E não há nada de demérito nisso, pelo contrário, realizar missões de suporte num conflito é uma tarefa honrada - o que aconteceu durante uma dessas missões que não teve honra alguma.

História do mico

É agora que a história do mico começa. Em novembro de 1918 o almirante Fernando Frontin estava no comando do Cruzador Bahia e recebeu ordens de navegar na orla do Mar Mediterrâneo. No olho do conflito. A mensagem que provavelmente fez alguns marinheiros tremerem de medo, veio acompanhada de uma outra que fez os outros mais corajosos também balançarem.

Divulgação / Pixabay - Imagem meramente ilustrativa

Os britânicos avisaram que aquela região era perigosa e que os super tecnológicos submarinos alemães haviam afundado um encouraçado britânico naquele mesmo lugar. O medo tomou conta do Cruzador Bahia. Mas coragem é ter medo e mesmo assim continuar. Os brasileiros acataram as ordens dos seus aliados e adentraram o Mediterrâneo. Enquanto eles estavam passando pelo Estreito de Gibraltar, algo os chamou a atenção.

Estranha movimentação

Havia uma movimentação estranha debaixo d'agua. Uma movimentação extremamente suspeita. Em um momento, um marinheiro alegou ter visto algo parecido com um periscópio - aquela espécie de olhinho do submarino que é usado pra captar as imagens acima da água.

Naquele momento, o almirante Frontin decide não arriscar. O clima de alerta pelas mensagens dos britânicos não permitiu espaço para a ponderação. Só podiam ser alemães. Eles queriam afundar o Bahia como afundaram o encouraçado britânico. Mas os brasileiros não iam deixar isso acontecer.

O almirante ordena abrir fogo contra os supostos submarinos alemães. Depois de minutos de muitos tiros e explosões, lentamente começa a subir uma vermelhidão do mar. Um silêncio ensurdecedor envolvia o Bahia. Não eram alemães: eram golfinhos.

Toninhas, pra ser mais específico. Uma espécie de golfinho que vive na região e constantemente acompanha os navios que passam por ali. No total, foram 46 da espécie que foram aniquilados pelos armamentos brasileiros.

A Batalha das Toninhas, como ficou conhecido o fiasco da Marinha Brasileira, se tornou motivo de risada. Inclusive, a imprensa brasileira abraçou o brasileiríssimo senso de humor auto-depreciativo e narrou o caso com muita criatividade.

De fato, poucos dias depois desse caso os alemães desistiram da guerra, em novembro de 1918. E os jornais brasileiros não perderam a oportunidade de falar que "ao verem o que os brasileiros foram capazes de fazer com pobres golfinhos, imagine o que eles não farão com nós alemães? Melhor desistir!".

Saiba mais detalhes sobre esse episódio peculiar da história brasileira através do podcast Desventuras na História, apresentado pelo renomado professor de História Vítor Soares, idealizador do podcast 'História em Meia Hora'.