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Desventuras / Arqueologia

Os curiosos animais híbridos dos antigos mesopotâmios

Em textos cuneiformes, os misteriosos “kungas” eram mostrados como animais que puxavam carroças de guerra

Isabela Barreiros Publicado em 23/01/2022, às 07h00

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Esqueletos de kungas no complexo funerário de Tell Umm el-Marra, Síria - Divulgação/Glenn Schwartz/Universidade Johns Hopkins
Esqueletos de kungas no complexo funerário de Tell Umm el-Marra, Síria - Divulgação/Glenn Schwartz/Universidade Johns Hopkins

Na antiga Mesopotâmia, animais chamados de “kungas” eram usados para puxar carroças de guerra há 4.500 anos, descritos em inscrições e fontes da época. Eles eram semelhantes a cavalos, mas não eram exatamente como burros nem jumentos.

Um novo estudo, publicado na revista científica Science Advances no último dia 14, descobriu que se tratavam de híbridos de burros domesticados e jumentos selvagens, criados especialmente pelos antigos mesopotâmios.

Na pesquisa, foi possível decifrar o mistério de quem eram os “kungas”, questão que intrigava especialistas há séculos, e chegar à conclusão de que os animais foram desenvolvidos pelo menos 500 anos da criação dos próprios cavalos, especialmente para puxar vagões de guerra.

A equipe realizou uma análise de DNA nos esqueletos de animais desenterrados no norte da Síria, no complexo funerário conhecido como Tell Umm el-Marra, que data de por volta do início da Idade do Bronze, entre 3 a.C. e 2 a.C.

Híbridos de bioengenharia

"Pelos esqueletos, sabíamos que eram equídeos [animais semelhantes a cavalos], mas não se encaixavam nas medidas de burros e não se encaixavam nas medidas de jumentos selvagens sírios", explicou Eva-Maria Geigl genomicista do Institut Jacques Monod, em Paris, e co-autora da pesquisa.

"Então eles eram de alguma forma diferentes, mas não estava claro qual era a diferença”, ressaltou ao portal Live Science.

Muitos pesquisadores geraram hipóteses de que os “kungas” poderiam ser algum tipo de burro híbrido, no entanto, nunca conseguiram entender com qual equídeo ele havia sido “misturado” para ser hibridizado.

Os animais eram híbridos fortes, rápidos e altamente valorizados na sociedade em que viviam, comprados a um preço extremamente elevado. Esse valor pode ser explicado pelo processo difícil de criação dos híbridos, como apontou Geigl.

Ossos dos animais em Tell Umm el-Marra, na Síria / Crédito: Divulgação/Glenn Schwartz/Universidade Johns Hopkins

Eles eram híbridos estéreis de uma jumenta doméstica e um burro selvagem sírio macho, ou hemione, que era uma espécie de equídeo nativa. Como era estéril, o acasalamento deveria vir se um burro selvagem, que precisava ser capturado, em uma tarefa especialmente complexa, pois eles eram bastante rápidos e difíceis de domar.

“Eles realmente bioengenharam esses híbridos”, resumiu a pesquisadora. “Existiam os primeiros híbridos de todos os tempos, até onde sabemos, e eles tinham que fazer isso a cada vez para cada kunga que era produzido — então isso explica por que eles eram tão valiosos”.

Os “kungas”

Jill Weber, arqueóloga da Universidade da Pensilvânia e co-autora da pesquisa, foi responsável por escavar os ossos de animais que propôs serem kungas no no norte da Síria há cerca de 10 anos, que acabaram sendo estudados pela equipe.

Segundo a especialista, os kungas eram capazes de correr mais rápido de cavalos, o que provavelmente fez com que eles continuassem sendo usados depois da introdução de cavalos domesticados na Mesopotâmia. No entanto, com a morte dos últimos espécimes e a dificuldade de criá-los, eles acabaram em desuso.

O último deles, o asno selvagem sírio que vivia no zoológico mais antigo do mundo, o Tiergarten Schönbrunn, em Viena, na Áustria, morreu em 1927 e teve seus restos mortais preservados no museu da cidade, que também foi examinado pela equipe.

A pesquisa comparou o genoma dos ossos do último burro selvagem sírio com o material obtido a partir dos ossos de outro burro selvagem que viveu há 11 mil anos, encontrados no sítio arqueológico de Göbekli Tepe, hoje sudeste da Turquia.

Foi possível concluir que ambos eram da mesma espécie, ainda que o antigo fosse muito maior que o mais novo, o que sugere que o animal acabou perdendo tamanho em decorrência de pressões ambientais, como a caça.


No podcast 'Desventuras na História', o professor de História Vítor Soares, dono do podcast 'História em Meia Hora', conta a história de 10 vitórias em guerra que, no fim das contas, se tornaram um fracasso.

Abaixo, você confere o episódio "Vitórias pírricas, as conquistas que foram derrotas".

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