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O delírio infernal na obra de Bosch

Por séculos, o tríptico do Jardim das Delícias vêm deixando mentes modernas perplexas

Fabio Marton Publicado em 22/01/2019, às 06h00

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Jardim das delícias terrenas, de Hieronymus Bosch - Wikimedia Commons
Jardim das delícias terrenas, de Hieronymus Bosch - Wikimedia Commons

Aqui temos o quadro mais comentado pelos historiadores de diversas épocas - e provavelmente, o mais difícil de interpretar. O tríptico do holandês Hieronymus Bosch tem deixado críticos e historiadores perplexos desde que foi feito.

Em 1560, quando essa e outras obras foram parar na coleção da família real espanhola, o escritor Felipe de Guevara fez pouco caso do artista, chamando-o de “inventor de monstros e quimeras”. E, por séculos, ele seria visto assim, um delírio de gosto duvidoso. Até o século 20, quando os surrealistas, que tentavam recriar na arte o mundo dos sonhos – e pesadelos –, buscaram reivindicar para si o seu legado. Entenda aqui os mistérios e polêmicas dessa obra tão icônica. 

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Feito em madeira, o tríptico pode ser fechado, revelando uma imagem da criação do mundo, num momento em que já havia plantas, mas antes do surgimento dos animais. 

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A interpretação mais óbvia para o tríptico é que bosh estava fazendo uma obra moralista e medieval, mostrando a criação, os pecados e sua consequência, da esquerda para a direita. O problema é que os pecados são a parte mais leve e colorida da história - além de outros detalhes esquisitos. Seria o painel central a representação de um paraíso perdido, e Bosh estaria na verdade retratando um estado de perfeita liberdade, uma utopia? Essa é a questão que divide os historiadores.

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O painel do paraíso é excêntrico. Deus é muito jovem. Os animais incluem predadores ativos. Adão parece olhar para Eva com desejo, mas se defendia que o sexo então era inocente, reprodutivo. Uma interpretação é que Bosch era pessimista: a humanidade estava condenada desde o princípio.

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Aves estão em todo lugar. É um trocadilho, para o caso de a mensagem não ter sido suficientemente clara. No holandês da época, o plural de pássaros era vogelen - palavra usada para descrever o ato sexual. O casal dentro do marisco é ainda mais óbvio - mariscos e ostras sempre foram vistos como símbolos sexuais, lembrando a anatomia íntima feminina.

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Personagens negros aparecem em perfeita integração com brancos. Talvez, como os animais africanos no paraíso, fosse pelo apelo do erotismo, mostrando conhecimento do mundo. Mas há um detalhe: os negros estão ausentes do inferno. Defensores da teoria do paraíso perdido afirmam que eles representam culturas inocentes.

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Se o pecado no centro parece ser principalmente sexual, os condenados à direita são jogadores, músicos, soldados e religiosos - novamente, uma freira transformada em porco. Com a Reforma Protestante prestes a eclodir, holandeses da região de Bosch, como Erasmo e Rotterdam, eram ácidos críticos da corrupção da igreja. 

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Perto da freira-porco, um pé decepado - que deu origem a uma teoria realmente bizarra. O ergotismo era uma terrível doença medieval causada por um fungo que nascia no trigo. Quem consumia trigo contaminado via suas expremidades gangrenarem e caírem - mas antes tinha vívidas alucinações. A química do fungo é similar à do acído lisérgico.

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Pois é, tem uma música real esrita nas partes posteriores de um torturado. Todo um novo sentido para a expressão. 

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O homem-árvore foi apontado por muitos historiadores como a imagem do próprio Bosch. Talvez para dizer que tudo ali veio de sua imaginação. Ou pagando por seu pecado, por ter aceito trabalho da dinastia dos Habsburgos, visto como invasores da Holanda.