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Notícias / Ditadura militar brasileira

Mais lidas: Amelinha Teles recorda prisão durante a ditadura: “Trauma pra vida toda”

Enviada ao DOI-CODI, Amelinha foi ‘recebida’ pelo coronel Ustra e torturada em frente aos filhos

Fabio Previdelli Publicado em 04/05/2022, às 13h51 - Atualizado em 07/05/2022, às 07h00

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A jornalista, escritora e militante Amelinha Teles - Memórias da Ditadura
A jornalista, escritora e militante Amelinha Teles - Memórias da Ditadura

Em 28 de dezembro de 1972, a jornalista Maria Amélia de Almeida Teles, seu marido César Teles e Carlos Nicolau Danielli foram presos por agentes da ditadura. Os três eram membros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e atuavam em um jornal que denunciava os crimes cometidos nos chamados ‘Anos de Chumbo’.

Levada ao Destacamento de Operações de Informação: Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) junto aos seus dois filhos: Janaína e Edson (que tinha apenas 4 anos), Amelinha Teles — como é popularmente conhecida — foi 'recebida' pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra

Nos fundos da delegacia da rua Tutóia, foi torturada na chamada “cadeira do dragão” — uma espécie de cadeira elétrica — e ainda viu Danielli ser assassinado em sua frente.

Quase 50 anos depois, ela se prepara para lançar um livro infantil de contos que escreveu enquanto ainda estava presa. As histórias seriam narradas para seus filhos quando ela saísse do cárcere; embora não tivesse certeza se as crianças estavam vivas ou não. 

A necessidade de se falar sobre a ditadura

Em sua visão, Amelinha Teles, que hoje tem 77 anos, acredita que as novas gerações precisam entender o que foi o período da ditadura militar e saber como eram as torturas.

Desta forma, evitarão que um episódio semelhante se repita: "Vejo com preocupação a apologia da tortura hoje”, disse em entrevista ao Universa, do UOL, repercutida pelo site Aventuras na História na última quarta-feira, 4.

Para a jornalista, ativista e escritora, a tortura é “uma ferida que não cicatriza. Esta ferida, de vez em quando, sangra. Há momentos em que você tem recaídas. É um trauma pra vida toda: sou sobrevivente, sou vítima, sou lutadora, sou militante, sou feminista, porque sou deste mundo e participo do que está acontecendo. A tortura te maltrata muito”.

A tortura é quando o Estado desenvolve estratégia política de combate ao tal "inimigo interno", que é a própria população. Estado contra a população, usando para tortura agentes pagos pelo Estado. Estado destruidor, Estado exterminador de uma população”, prossegue.

Amelinha narra que ficou no DOI-CODI por três meses, e que seus filhos foram deixados lá por quinze dias. “Depois o Ustra tirou a minha guarda dos meus filhos, você acredita? Ele levou meus filhos pra casa de um delegado, daí fiquei seis meses incomunicável, sem saber onde eles estavam. Se estavam vivos ou não”. 

Mulheres torturadas 

Durante os 21 anos que a ditadura militar esteve vigente no Brasil, entre 1º de abril de 1964 e 15 de março de 1985, estima-se que mais de 800 mulheres foram presas.

Centenas delas foram torturadas perto de seus filhos — como no caso de Amelinha — ou quando estavam grávidas — como aconteceu com a jornalista Miriam Leitão. Visto que muitas prisões foram feitas de maneira clandestina, acredita-se que esse número possa ser ainda maior.