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Matérias / Guerra Fria

M65: O canhão atômico dos EUA

Em 1953, um artefato nuclear foi disparado por um canhão. Abrindo caminho para um lado menos falado das armas nucleares: seu uso em campo de batalha

Letícia Yazbek Publicado em 03/07/2019, às 05h00 - Atualizado às 07h00

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Teste realizado em 1953, com o canhão M65 e a bomba nuclear W9 - Wikimedia Commons
Teste realizado em 1953, com o canhão M65 e a bomba nuclear W9 - Wikimedia Commons

Era 1953 e a Guerra da Coreia estava num impasse já havia quase dois anos. Apesar dos bombardeios e trocas de tiros constantes, ninguém ganhava ou perdia território. O grande general Douglas MacArthur, vencedor da campanha do Pacífico na Segunda Guerra, havia sido sacado de sua posição após ameaçar disparar armas nucleares contra as forças comunistas sem autorização do presidente. O temor era que algo assim levaria a uma escalação fora de controle. 

Mas talvez houvesse algo no caminho entre pulverizar cidades e usar, na nova Era Atômica, a velha munição química inventada na Idade Média. Disso surgiram as armas nucleares táticas: para serem usadas no campo de batalha, vaporizando combatentes ou veículos, não civis. Entra em ação o Atomic Annie, o único canhão nuclear a disparar. 

Canhão M65, no Virginia War Museum / Crédito: Wikimedia Commons

Em 25 de maio de 1953, durante a Operação Upshot-Knothole, série de experimentos conduzidos na Área de Testes de Nevada, o M65 lançou um grande projétil de 280 milímetros de diâmetro e 1380 milímetros de comprimento. Ele carregava a bomba atômica W9, de 15 kilotons — o mesmo poder da bomba de Hiroshima —, detonada a 160 metros do solo, a 11 km do ponto de partida. 

Foi considerado um sucessso. A ogiva W9 esteve em produção por mais de um ano – 80 unidades foram feitas, servindo a pelo menos 20 M65, que foram instalados na Coreia e na Europa, e movidos constantemente para evitar serem descobertos pelos adversários. 

Mini nukes

O M65 era poderoso demais para seu próprio bem. Em confrontos de curta distância, acabaria por matar o próprio Exército. Mas, em uma década após sua criação, as bombas atômicas já eram miniaturizadas a ponto de caberem em projéteis bem menores. Eram as coloquialmente chamadas mini nukes (mini bombas nucleares).

M-29 Davy Crockett / Crédito: Wikimedia Commons

Desenvolvido pelos norte-americanos no fim dos anos 1950, o M-29 Davy Crockett foi feito para ser operado por apenas três soldados, ele lançava o projétil M-388, equipado com uma ogiva MK-54, de 0,02 kilotons. Mais que a explosão, a ideia era espalar uma dose letal de radiação, Em um raio de 150 metros, causaria a morte imediata de quem estivesse dentro dessa área. Quem estivesse a até 500 metros da explosão seria bombardeado com doses pesadas de radiação, que causariam a morte em dias ou semanas. 

A artilharia nuclear era uma ideia que já nascia antiga. Na mesma época, os foguetes táticos, capazes de levar pequenas ogivas, foram desenvolvidos. O M65 continuou em prontidão até 1961. Após o fim da Guerra Fria, em 1992, os Estados Unidos anunciaram que tirariam de serviço toda a sua artilharia nuclear. No ano seguinte, a União Soviética seguiu o exemplo e também anunciou a destruição das armas. Entre os anos 1960 e 1990, a França iniciou o desenvolvimento de sistemas parecidos, que foram destruídos em 1996.

Armas nuclaeares táticas, continuam a existir na forma de mísseis e bombas atômicas menores. Para a sorte dos combatentes, o mesmo tabu que circunda as grandes armas estratégicas, destruidoras de cidades, faz com que ninguém tenha decidido ser o primeiro a dispará-las e soltar esse infernal gênio da garrafa. Até agora.