2400 anos atrás, estas imagens foram descartas sem cerimônia no Líbano
Os deuses do antigo politeísmo não estabeleciam muitas regras. Não diziam o que alguém podia comer ou não, o que podiam fazer ou não em suas camas. Mas havia um grande pecado, punido com todo o rigor da lei: sacrilégio. Desrespeitar aos deuses levava à morte.
É um tanto estranho portanto, o achado das 4 cabeças que provavelmente representavam deusas, jogados há 2400 anos no lixão da antiga cidade de Porphyreon, hoje no Líbano. Estavam em meio a cacos de cerâmica, ossos queimados e restos de azeitonas e grão-de-bico.
A descoberta foi feita por arqueólogos poloneses. Apesar de estarem em cacos, os pesquisadores conseguiram restaurar parcialmente duas das quatro cabeças, uma delas possui cerca de 24 cm de altura e 15 de largura. Foram feitas com cerâmica e decoradas com tinta vermelha. Na parte superior é possível notar a marca de um dedo - provavelmente um descuido do artista.
"Eu acredito que estas são representações de deidades, mas é impossível provar isso sem inscrições ou representações de atributos de divindades específicas.", disse Mariusz Gwiazda, do Centro Polonês de Arqueologia, ao Live Science. O estilo é bem eclético, e talvez sincrético, com um pouquinho de grego, fenício e egípcio.
Uma das cabeças tem uma representação de um amuleto Wadjet (amuleto em forma de olho) em seu peito, símbolo egípcio. Servia como uma especie de barreira contra energias negativas. Os traços nas cabeças são fenícios. E as tiraras sobre elas eram exclusivas de mulheres gregas.
Amuleto de Wadjet do Egito Antigo / Foto: Domínio Publico
Três furos presentes na parte superior das esculturas levam a acreditar que as obras foram utilizadas como decoração e depois descartadas quando as paredes adornadas por elas foram destruídas ou redecoradas. O que faz todo o sentido para a região, que passou por muitos donos. Inicialmente fenícia, passou ao Império Persa no século 6 a.C. A datação a coloca próxima do conflito entre persas e gregos, pela qual a região seria conquistada por Alexandre, o Grande em 322 a.C. Talvez a troca de governo explique o pouco caso.