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Notícias / Arqueologia

Cientistas identificam armadura biônica de 2,5 mil anos na China

Composto por mais de 5 mil escamas de couro, o artefato foi encontrado no cemitério de Yanghai, na cidade de Turfan. Confira!

Pamela Malva Publicado em 11/01/2022, às 19h30 - Atualizado às 20h30

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Fotografia da armadura dentro da tumba encontrada em Turfan - Divulgação/ Dongliang Xu/ Museu de Turfan
Fotografia da armadura dentro da tumba encontrada em Turfan - Divulgação/ Dongliang Xu/ Museu de Turfan

Em novembro de 2021, a revista Quaternary International publicou um estudo inédito, que se propôs a analisar uma armadura de 2,5 mil anos encontrada na China. A descoberta, então, foi repercutida pela Live Science nesta terça-feira, 11.

De acordo com o site britânico, tudo começou quando o cemitério de Yanghai foi descoberto por moradores da cidade chinesa de Turfan nos anos 1970. Dali em diante, desde 2003, cerca de 500 tumbas foram identificadas no sítio arqueológico.

Entre os muitos restos mortais, os pesquisadores encontraram a sepultura de um homem, que morreu com cerca de 30 anos. Enterrado com diversos artefatos, como louças de cerâmica, duas peças de proteção para bochechas de cavalo — feitas de ossos e madeira — e o crânio de uma ovelha, ele ainda detinha a curiosa armadura.

"À primeira vista, o pacote empoeirado de peças de couro não despertou muita atenção entre os arqueólogos", narrou Mayke Wagner, co-autor do estudo, em email enviado à Live Science. "Afinal, os achados de objetos de couro antigos são bastante comuns no clima extremamente seco da Bacia do Tarim."

Pouco tempo depois, contudo, os estudiosos descobriram a "grande surpresa". O que antes parecia ser apenas um conjunto de couro, então, logo se mostrou ser uma das maiores e mais raras descobertas da região: uma impressionante armadura ‘biônica’.

Detalhes e estrutura da armadura de escamas de couro / Crédito: Divulgação/ Patrick Wertmann

A estrutura

Composta por 5.444 pequenas escamas de couro e outras 140 escamas maiores, a armadura protegia principalmente a parte frontal do tronco, os quadris, o lado esquerdo do corpo e a parte inferior das costas. Nela, segundo Wagner, as escamas foram "organizadas em fileiras horizontais e conectadas por laços de couro”.

Esse design se adapta a pessoas de diferentes estaturas, porque a largura e a altura podem ser ajustadas pelas tangas”, narrou Patrick Wertmann, do Instituto de Estudos Asiáticos e Orientais da Universidade de Zurique e principal pesquisador do estudo.

"Parece a roupa perfeita para combatentes montados e soldados de infantaria, que precisam se mover rapidamente e confiar em sua própria força", explicou o especialista. "Os pedaços de bochecha de cavalo que foram encontrados no enterro podem indicar que o dono da tumba era de fato um cavaleiro."

Cientistas analisando a armadura / Crédito: Divulgação/ Patrick Wertmann

Rara, mas não única

Analisando um espinho de planta preso na armadura, os pesquisadores verificaram, por meio da datação de radiocarbono, que os artefatos datam do período entre 786 a.C. e 543 a.C. Isso indica que a armadura é uma das mais antigas já encontradas.

Pesando cerca de 5 kg quando foi criada, a peça é apenas a terceira tão bem preservada já identificada na história. Antes dela, foram descobertas apenas uma armadura de couro do século 14 a.C., na tumba de Tutancâmon, no Egito, e uma peça datada entre os séculos 8 a.C. e 3 a.C., cuja origem segue desconhecida.

Ainda assim, segundo os especialistas, a descoberta é única. “Não há outra armadura de escamas deste ou de um período anterior na China”, narrou Wagner, que ainda é diretor científico do Departamento da Eurásia do Instituto Arqueológico Alemão. "No leste da China, fragmentos de armadura foram encontrados, mas de um estilo diferente."

Cientistas analisando a armadura / Crédito: Divulgação/ Patrick Wertmann

Armadura biônica

Para os pesquisadores, a armadura representa um dos primeiros exemplos de tecnologias humanas inspiradas na natureza. Dessa forma, composta por escamas organizadas como as dos peixes, a armadura pode ser considerada biônica.

Acredita-se, no entanto, que a peça não tenha sido fabricada na China. "Sugerimos que esta peça de armadura de escamas de couro provavelmente foi fabricada no Império Neo-Assírio e possivelmente também nas regiões vizinhas", explicou Wertmann.

Caso realmente tenha sido criada por neo-assírios, “então a armadura Yanghai é uma das raras provas reais da transferência de tecnologia oeste-leste em todo o continente eurasiano durante a primeira metade do primeiro milênio aC", narrou o estudo.

Agora, os pesquisadores buscam compreender como a rara armadura foi parar no túmulo em Turfan. Nesse sentido, o homem que portava a peça poderia ser um guerreiro enviado para o território assírio — que trouxe a armadura consigo para casa.

Segundo Wertmann, todavia, ele também poderia ser “um assírio ou caucasiano que de alguma forma acabou em Turfan” ou poderia ter “capturado a armadura de outra pessoa”. “É uma questão de especulação. Tudo é possível”, explicou o cientista.