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40 anos do SBT: Como o talento nato de um camelô projetou Senor Abravanel

Silvio tem marcas que construíram a imagem do eterno Silvio Santos na televisão brasileira

Especial 'Silvio Santos, o rei da televisão', edição 1414 da Revista Caras Publicado em 19/08/2021, às 20h00

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Fotografia do apresentador Silvio Santos - Palácio do Planalto/ Creative Commons/ Wikimedia Commons
Fotografia do apresentador Silvio Santos - Palácio do Planalto/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

A história de Silvio Santos(90), do camelô que tinha um talento nato para vender seus produtos no centro do Rio de Janeiro, nos anos 1940, ao empresário e comunicador de sucesso, reúne elementos dignos de um roteiro de filme, uma novela ou um best-seller.

Nascido Senor Abravanel, de família judia, ele é o espelho do brasileiro que venceu na vida e inspira os desejos de ascensão social e bons costumes. Ao completar nove décadas de vida, em um ano diferente, com a pandemia do novo coronavírus e resguardado em casa por fazer parte do grupo de risco para a Covid-19, o também empresário permanece afastado de suas funções, mas ligado em tudo o que acontece em sua emissora, o SBT, e no mundo artístico.

“Eu sou um homem que entende do assunto televisão”, já afirmou ele, em registros reunidos no livro "Silvio Santos — A Trajetória do Mito", de autoria de Fernando Morgado e publicado pela editora Matrix. É um dos raros registros sobre sua trajetória, uma vez que ele leva consigo uma profecia, dita por uma cigana nos EUA, de que ele morrerá no dia seguinte a dar uma entrevista, fazer um filme ou um livro sobre si mesmo.

O pessoal não acredita, mas eu, sim. E não vou me arriscar. A cigana só falou de filme, livro e entrevista. Exposição, não”, declarou à Folha de S.Paulo, em 2016.

Tímido, no palco ele ganha outro status. Seu alter ego brilha mais que o homem de família. E assim tem sido, sucessivamente, em tudo o que toca. Alguns projetos não deram certo, mas a comunicação é um dom, e graças a ela Silvio conquista milhões no País, geração a geração, com seu sorriso e alegria constantes.

“Dizem que sou o maior comunicador do País. Isso não é verdade. O carinho, o sacrifício que vocês dedicam a mim que vale. Vocês são admiráveis, sensacionais, com vocês é fácil fazer programa líder. Durante minha ausência, meu irmão Léo Santos comandou o programa com o mesmo sucesso. Vocês prestigiaram meu irmão como prestigiam semanalmente a mim, porque vocês são bárbaras, sensacionais, ilustres. Eu gostaria de poder retribuir de alguma forma, porque não mereço”, agradeceu ele, humildemente, ao auditório, antes de iniciar um programa em 1969. 

Quem já participou de alguma gravação com Silvio Santos sabe que é exatamente com este respeito que ele trata sua plateia. Ele entra antes de qualquer atração, conversa, faz piadas, pergunta de onde as “colegas de trabalho” vêm e as encanta, domina, faz a catarse de seus programas acontecer.

Foram vários formatos, sempre com auditório, distribuindo prêmios em dinheiro ou simplesmente presenteando as pessoas com a aparição na TV, que o fazem ser considerado o rei da televisão brasileira, tanto pela presença quanto pela longevidade.

Diante do enorme sucesso e ascensão frente às câmeras, a vida pessoal de Silvio Santos sempre despertou muita curiosidade. Mas ele tentou, até quando foi possível, manter sua família longe dos holofotes.

Minha vida profissional é uma, minha vida particular é outra. Eu não impeço que se metam em minha vida particular. Quem quiser, pode opinar à vontade”, comentou em certa ocasião.

Silvio teve dois casamentos, o atual, com Iris Abravanel (73), e o primeiro, com Maria Aparecida Vieira Abravanel (1962–1977). “A minha maior tristeza foi a morte da minha primeira mulher, Cida, aos 39 anos de idade, com câncer no estômago. A minha maior alegria foi ter conhecido a minha esposa, Iris”, relatou.

Das duas uniões, seis filhas: Cintia (56), Silvia, (49), Daniela (44), Patricia (43), Rebeca (39) e Renata (35). Hoje em dia, todas elas têm suas vidas privadas — casamentos, filhos e até netos, os quais Silvio mantém sempre próximos.

As filhas também são presença constante na emissora que um dia herdarão, como executivas ou apresentadoras, ou em outras empresas do grupo pertencente ao pai. Mas o episódio que deu mais notoriedade a esta família foi o sequestro de Patricia, em 2001, que foi acompanhado pelo Brasil todo como se fosse uma violência cometida contra um parente ou conhecido próximo e cujo desfecho foi um final feliz.

“O sequestro é, para mim, o Show do Milhão, só que o Fernando não comprou a revista. E foi logo apelando para as cartas: mandou uma primeira carta que o Datena leu ela toda na TV Record, mandou mais uma segunda carta, mandou mais a terceira carta... Não tinha mais carta para mandar, ele apelou para os universitários que estavam com ele. Aí não tinha mais universitárias para ele apelar, então apelou para os pulos: deu o primeiro pulo na minha casa, deu o segundo em Alphaville e deu o terceiro na minha casa de novo. Tava com meio milhão na mão, resolveu arriscar, perdeu tudo”, contou, à época, em referência à atração de sucesso que apresentava na época, formato norte-americano adaptado para o Brasil.

A fé da minha filha Patricia fez com que nós tomássemos conhecimento de que uma coisa muito importante na nossa vida é termos uma fé inabalável, inquebrantável. E que nós estejamos certos de que, em qualquer situação, Deus está conosco, dentro de cada um de nós.”
Patrícia Abravanel e o pai, Silvio Santos / Crédito: Divulgação/Instagram/@patriciaabravanel

O estilo de vida de Silvio e família sempre foi simples e publicamente conhecido, mesmo tentando evitar que fosse assim. As viagens, as férias em Orlando e a paixão pela maneira com que os norte-americanos vivem. “Amigo íntimo? Acho que não tenho nenhum”, afirmou o apresentador, que, vira e mexe, em seus próprios programas, dá opiniões sobre o desempenho das filhas à frente das câmeras e da mulher com as novelas infantojuvenis de sucesso de sua emissora.

“Eu não vejo televisão. É um trabalho como outro qualquer. Televisão só é diversão pra quem vê. Você acha que eu vou sair daqui, chegar à minha casa pra ver televisão e continuar trabalhando? Não! Eu tô vendo uma série muito boa: A Bíblia. Espetacular. Grande produção. Netflix. Se você não tem Netflix na sua casa, passe a ter! A mensalidade é de 18,90 reais, creio eu, e os donos da Netflix nos Estados Unidos devem estar me vendo e devem mandar pra mim um mês de graça”, falou, em 2015, em um de seus programas, expondo sua fascinação por séries e filmes do serviço de streaming.

No campo das opiniões, Silvio sempre foi polêmico. Houve em sua trajetória uma tentativa de entrar para a política, mas não era o que ele queria. Sempre se disse a serviço do País, mas, apesar de ser citado como um possível presidente, nunca admitiu que se daria bem. Outra face do comunicador é a beleza, já que sempre teve ao seu lado como fiel escudeiro o cabeleireiro Jassa. Muitas vezes, o empresário também deu lugar ao amigo, transformando-se em confidente, investidor e descobridor de talentos, assim como foi com Hebe (1929–2012) e GuguLiberato (1959–2019).

Silvio Santos em candidatura no ano de 1989 / Crédito: Reprodução/Youtube

Muito além do apresentador, o sucesso de Silvio Santos também foi como empresário e programador. Além de seu carisma à frente de atrações com auditório, foi graças a enlatados e outros formatos de programas que o SBT garantiu seus índices de audiência. Quem lembra do palhaço Bozo? Foi nessa mesma época que a emissora começou a exibir novelas como Os Ricos Também Choram, de 1982, Cristina Bazán, de 1983, e Chispita, de 1984.

Tudo começou em 22 de outubro de 1975, quando o presidente Ernesto Geisel (1907–1996) assinou o decreto de número 76.488, outorgando a ele o canal 11 do Rio de Janeiro. Silvio passou a transmitir seus programas simultaneamente na Tupi e na TVS. A principal atração da nova emissora era o Programa Silvio Santos, exibido aos domingos, das 11h às 20h, simultaneamente com a TV Tupi.

Eu não sou artista, sou só animador e em meu programa não há nenhuma intenção de fazer arte. O povo quer alegria, entretenimento e eu, sabendo disso, faço programa de rádio televisado”, contou. “Silvio é um programa — que não muda — porque o Silvio adora o que faz no palco. Para o Silvio, animar é hobby. Eu prefiro, pessoalmente, ser animador.”

Ao longo da década de 1980, a emissora consolidou sua posição de segundo lugar na preferência do telespectador nacional, lançando o slogan “Líder absoluto da vice-liderança”. Em 1984, estrearam as séries mexicanas Chaves e Chapolin, que se transformaram nos maiores sucessos de audiência da história do SBT e deixaram de ser exibidas neste ano. Nessa mesma época, também estreavam na emissora Mara Maravilha (52), Christina Rocha (63), Sérgio Mallandro (65) e Luís Ricardo (57).

Em 1985, outro gol do SBT, com a minissérie australiana Pássaros Feridos, que conseguiu a liderança de audiência em seu horário. Sem contar atrações popularescas, especialmente os programas de auditório comandados por Gugu Liberato, Raul Gil (82), Moacyr Franco (84), J. Silvestre (1922–2000), Flávio Cavalcanti (1923–1986) e pelo próprio Silvio Santos.

“Comunicando-me com milhões de brasileiros toda semana, através da TV, e diariamente, através do rádio, estou consciente de que me transformo em traço de união entre a essência da TV, aquilo que ela promete ou oferece, e uma parcela importante da população brasileira, importante sociológica e economicamente. Esta parcela do povo consome e poupa, é elemento dinâmico da economia. E, por meu intermédio, são veiculadas para ela mensagens publicitárias que fazem comprar ou poupar, e também uma série de estímulos que provocam o desenvolvimento de todas essas pessoas, naquilo que está sendo comunicado”, avaliou, em declaração de 1971.

Um de seus orgulhos é o Teleton, maratona televisiva que rompe barreiras entre concorrentes e faz uma programação com vários artistas de outras emissoras durante 24 horas, arrecadando verbas para a Associação de Assistência à Criança Deficiente, AACD.

“O acontecimento que mais me emocionou em todos estes anos de programas foi o lançamento do Teleton. Não queria que o Teleton fosse um evento do SBT, eu queria, como acontece em outros países, que todas as emissoras entrassem juntas, formanda a Rede da Amizade, mas, por mais que eu me esforçasse... Isso, por enquanto, não foi possível. Ainda não conseguimos formar a Rede da Amizade”, falou em depoimento para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (84), o Boni, em seu livro publicado em 2000.

Há duas edições, no ano passado por conta de uma forte gripe e na de 2020 pelo risco da pandemia, Silvio não esteve no palco, mas seu sonho já foi realizado, com arrecadações recordes a cada ano e a união das emissoras de TV, que liberam artistas para o evento.

Silvio também adora apresentar o Troféu Imprensa, cerimônia de premiação criada pelo jornalista Plácido Manaia Nunes (1934–2007) em 1958. Ali, premia e recebe artistas de sua própria emissora e de outras, reconhecidos pelo voto popular e de um time de jurados da imprensa. Herança e substituição para seu posto ainda são assuntos não muito bem-vindos, pois não somente a família, mas nenhum brasileiro que o admira por tudo o que já fez quer pensar nisso.

Sobre a morte, Silvio já deu algumas declarações: “Eu sei que [a morte] é um sono profundo. Deve ser gostoso dormir”, disse, em 2016. “Não tenho medo de morrer”, decretou em 2000. Com tanta jovialidade e lucidez, Silvio não aparenta a idade que tem. Sempre na memória do brasileiro, ele foi, continua sendo e sempre será eterno.


Essa matéria foi extraída do especial 'Silvio Santos, o rei da televisão', edição 1414 da Revista Caras, e tem todos os direitos reservados.


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