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Notícias / Pré-História

Desigualdade de gênero surgiu há 8 mil anos, indica estudo

Sepulturas neolíticas na Espanha revelam aumento na dominância masculina. É possível falar em desigualdade de gênero?

Joseane Pereira Publicado em 19/06/2019, às 08h00

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Arte rupestre na Caverna de Altamira, Espanha - Reprodução
Arte rupestre na Caverna de Altamira, Espanha - Reprodução

Um estudo publicado no European Journal of Archaeology, que analisou sepulturas de 5.000 a 8.000 anos na Península Ibérica, revelou um aumento na dominância masculina entre sociedades humanas que estavam se sedentarizando em assentamentos agrícolas, no período neolítico.

Evidências

Os arqueólogos Marta Cintas-Peña e Leonardo García Sanjuán, da Universidade de Sevilha, na Espanha, examinaram vinte e um sítios que continham os restos mortais de mais de 500 indivíduos, enterrados em covas individuais e fossos coletivos de cavernas.

Muitos dos corpos eram infantis ou de sexo indeterminado. Entretanto, dos 198 cujo sexo foi identificado, a grande maioria era masculina. Para cada sepultura feminina, havia 1,5 masculina.

“A quantidade de homens pode não ser natural”, diz Cintas-Peña, sugerindo a existência de um elemento cultural que distorcia o registro. Segundo ela, mulheres e crianças podem ter tido menor chance de receber um enterro formal na sociedade.

Os homens também estavam bem representados em cenas de caça e guerra rupestres e eram mais propensos a ser enterrados com pontas de flechas e outros projéteis, enquanto as mulheres eram enterradas com cerâmica. Mas também havia semelhanças entre os sexos: os melhores túmulos de qualquer local, por exemplo, nem sempre pertenciam a um homem.

“As evidências que encontramos estão ligadas à predominância masculina em termos de violência. Havia uma diferença de poder que talvez se baseasse no uso da agressividade pelos homens”, diz Cintas-Peña. De acordo com ela, as descobertas poderiam colocar em cena discussões sobre desigualdade de gênero. Seriam elas determinadas por diferenças biológicas ou uma faceta da cultura humana?

"Se podemos dizer que as desigualdades começaram no Neolítico, na Idade do Cobre ou em qualquer período, isso significa que é algo cultural, e não biologicamente determinado", diz ela. 

O surgimento de diferenças de gênero foi provavelmente uma das muitas mudanças que ocorreram nas sociedades neolíticas, junto com as desigualdades sociais que surgiram à medida que as pessoas começaram a acumular propriedade privada. “A desigualdade de gênero, na minha opinião, teve um papel central na origem da complexidade social”. 

Desigualdades ou diferenças?

Evidências, que atestam diferenças de gênero, também vistas em estudos históricos como da pesquisadora Gerda Lerner sobre sociedades do Oriente Médio no segundo século a.C., devem ser analisadas com cuidado para não cairmos na teleologia de aplicar termos contemporâneos às sociedades passadas.

Afinal, diferença não necessariamente pressupõe desigualdade. Em muitos povos indígenas é possível ver uma divisão de trabalho que não significa hierarquia social, como as mulheres que geralmente são especializadas no plantio e colheita.

Ainda assim, Cintas-Peña acredita que os dados demonstrados em seu estudo são suficientes para justificar um olhar mais atento a outros sítios arqueológicos do Neolítico em busca de evidências adicionais. Entender como se formam diferenças sociais pode nos ajudar a compreender as desigualdades que afligem a sociedade moderna, acrescenta ela: “Se conhecermos as origens da desigualdade de gênero, teremos mais ferramentas para enfrentá-la”.