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Egípcios modernos tem mais DNA 'negro' que os antigos

Contrariando várias teorias, proporção de genética sub-saariana aumentou desde os tempos dos faraós

Fábio Marton Publicado em 31/05/2017, às 16h20 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35

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A máscara mortuária de Tutancâmon - Getty Images
A máscara mortuária de Tutancâmon - Getty Images

Um time de cientistas do Instituto Max Planck (Alemanha) testou o DNA mitocondrial de 90 múmias, egípcios que vieram em um longo período, entre 1380 a.C. a 425, do Novo Reino ao Império Romano. E comparou os resultados ao DNA dos egípcios modernos. Chegaram às seguintes conclusões: 

1) Gregos e romanos, que dominaram o Egito por 7 séculos, deixaram praticamente zero marca genética no povo egípcio;
2) Egípcios antigos eram geneticamente mais próximos aos povos do Levante - como fenícios e hebreus - que os modernos. A comparação mais próxima hoje em dia são os árabes de lugares como a Arábia Saudita e Iêmen. 
3) Os egípcios de hoje tem 8% mais DNA em comum com povos sub-saarianos que os antigos.

Em outras palavras, os egípcios atuais são mais "negros"* que os antigos. O que vai de encontro a uma velha polêmica, datada do século 18: seriam os antigos egípcios "negros"? A ideia foi levantada ainda no século 19, por gente como Jean-François Champolion, o decifrador da Pedra de Rosetta, que afirmou que "os antigos egípcios eram negros do mesmo tipo que todos os nativos da África" - e contrastou-o com egípcios modernos, os coptas, afirmando que eram mestiços fruto de invasões milenares. 

+ Veja também: Se você sabe o nome de Tutancâmon, agradeça aos coptas

No século 20, a ideia foi abraçada por muitos militantes do nacionalismo negro, de viés afrocêntrico. Eles atribuem o nascimento da própria civilização aos "negros egípcios". E continua a render polêmicas ainda hoje - um teste do DNA de Tutancâmon, alguns anos atrás, causou uma guerra ideológica.

Ao menos a julgar por este estudo, Champolion e os afrocentristas estão errados. Os egípcios atuais são mais, não menos negros* que os antigos. As conquistas parecem pouco ter mudado sua composição genética. O influxo de genes do sul da África é provavelmente, segundo o estudo, vindo do tráfico de escravos no mundo islâmico, que passava pelo Egito e foi da Idade Média ao Século 19. 

Quanto à ausência de genes romanos e gregos, os cientistas acreditam ser devida ao fato de eles não se misturarem. Gregos eram uma classe dominante tão segregada que os "faraós" gregos como Cleópatra eram obrigados a se casar com os próprios irmãos. Romanos parecem ter mantido o costume, porque a cidadania romana era um status passado por ambos os pais. 

A inovação é importante em mais de um sentido. Até hoje, era considerado impossível se tirar qualquer informação útil do DNA de múmias. Mas os cientistas usaram agora de uma nova técnica, chamada high-throughput DNA sequencing ("sequenciamento de DNA de alta taxa de transferência"). "Esta é a primeira espiada na história genética do Egito", afirma à Nature o paleogeneticista Johannes Krause, do Instituto Max Planck. "Mas isso é só um começo." 


*NOTA: "Negro" e "branco" não são termos científicos. Raças não existem na natureza, são construções sociais. A "raça" dos egípcios, antigos ou modernos, é sujeita a interpretações. Mas o estudo indica que mais genes do que é considerado pela sociedade brasileira como "negro" está nos egípcios modernos que nos antigos.