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Matérias / Catástrofes

Expedição Franklin: o Terror no Ártico

Quando um comandante inglês partiu para encontrar a mítica Passagem do Noroeste, a missão terminou em catástrofe – incluindo canibalismo

Redação Publicado em 11/11/2019, às 15h47

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Cena da série The Terror, que aborda a macabra expedição - Divulgação / AMC
Cena da série The Terror, que aborda a macabra expedição - Divulgação / AMC

Os nomes dos navios se revelariam proféticos: HMS Terror e HMS Erebus — este, a personificação da escuridão na mitologia grega e nome de um ala do Hades, o mundo dos mortos. Mas, naquela manhã de de 19 de maio de 1845, ao partirem do porto de Greenhithe, Inglaterra, eles pareciam destinados à glória.

As naves vinham de uma missão bem sucedida de exploração da Antártida, a Expedição de Ross (1839-1843). Estavam agora sob o comando do experiente John Franklin, um veterano das Guerras Napoleônicas com então 59 anos.  

Sua missão: achar a elusiva Passagem do Noroeste. Um dos grandes objetivos da navegação no século 19 era encontrar um meio de se chegar do Atlântico ao Pacífico sem ter que dar uma dispendiosa volta por toda a América do Sul.

O Canal do Panamá ainda estava a sete décadas de ser aberto. A Passagem do Noroeste, próxima ao Círculo Polar Ártico, ligaria o Estreito de Bering ao Estreito de Davis por meio de uma sequência de canais pelo gelo. A descoberta dessa rota daria uma imensa vantagem comercial e estratégica para quem a dominasse. 

Expedição ideal

Para desbravar a Passagem do Noroeste, o Almirantado Britânico montou uma expedição ideal, colocando à frente da equipe o experiente Franklin, que, depois de sua estreia nas Guerras Napoleônicas, sob o comando do Almirante Nelson, já havia liderado duas explorações bem-sucedidas pelo Ártico - de 1819 a 1822 e de 1825 a 1827.

Sir John Franklin / Crédito: Wikimedia Commons

Os Erebus e o Terror, eram resistentes e levavam equipamentos modernos de navegação, além de mantimentos suficientes para cinco anos a bordo. O Almirantado sabia que havia a chance de os marinheiros ficarem presos no Ártico durante o inverno e se preparou para essa possibilidade.

Segundo o arqueólogo Simon Mays, em entrevista ao Live Science, “ser um explorador polar da Marinha britânica no século 19 era uma ocupação surpreendentemente segura. A taxa de mortalidade era de 1%”.

Na travessia do Atlântico, a expedição fez escalas nas Ilhas Orkney, na Escócia, e na Baía de Disko, na Groenlândia. Nessa última, mandaram cartas para casa e cinco dos 134 marinheiros retornaram.

No final de julho, dois navios baleeiros avistaram a expedição na Baía de Baffin, próximos da entrada do Estreito de Lancaster, que dá acesso as ilhas do Ártico canadense. Estavam paradados, esperando por condições para começar sua missão. 

E essa foi a última vez em que foram avistados.

Pesadelo gelado

Em 1848, sem notícias da tripulação, Lady Jane, esposa de Franklin, exigiu que o Almirantado desse início às buscas pelos navios desaparecidos. Em 1850, 11 navios britânicos e dois americanos encontraram os primeiros sinais da expedição: os túmulos de três tripulantes, na Ilha Beechey.

Nos anos seguintes, exploradores acharam objetos dos marinheiros e ouviram relatos de inuítes, que disseram ter visto um dos navios afundar. Em 1859, outra expedição de busca encontrou uma mensagem, escrita em 1848, que dizia que 28 tripulantes, incluindo Franklin, tinham morrido um ano antes.

O Conselho Ártico planejando a busca por Sir John Franklin, por Stephen Pearce, 1851/ Crédito:Wikimedia Commons

A hipótese mais aceita hoje é que, depois da morte dos primeiros homens – provavelmente por hipotermia, intoxicação ou doenças como pneumonia e tuberculose –, a tripulação decidiu abandonar os navios e percorrer cerca de 1.600 quilômetros em direção ao posto comercial mais próximo.

Nao é segredo, não deu certo. Até mesmo os inuítes evitavam aquela área, porque a comida era escassa. Todos morreram antes que conseguissem completar sequer um quinto do caminho.

Ao longo dos 150 anos seguintes, mais de 90 expedições foram realizadas para saber o que de fato tinha acontecido com a tripulação de Franklin. Em 1980, antropólogos forenses da Universidade de Alberta, no Canadá, descobriram e analisaram os corpos de três marinheiros. Em 2014, os destroços do HMS Erebus foram encontrados a poucos quilômetros da Ilha do Rei Guilherme, assim como o HMS Terror, localizado dois anos depois.

O navios ficaram presos no Ártico canadense / Crédito: Domínio Público

Os pesquisadores também encontraram marcas de cortes em vários dos ossos dos tripulantes, o que sugere que os homens de Franklin, famintos, se alimentaram da carne dos colegas mortos, e extraíram o tutano dos ossos, a fim não desperdiçar calorias. Essa descoberta corrobora antigos relatos de inuítes, ouvidos por exploradores durante as primeiras buscas, que diziam ter testemunhado casos de canibalismo.

Aos 173 anos do início da expedição de Franklin, o mistério continua sem solução. Ninguém sabe ao certo como os homens morreram ou porque eles decidiram deixar os navios. Segundo Simon Mays, teorias recentes sustentam que os tripulantes podem ter sofrido de escorbuto ou terem sido contaminados com chumbo, o que teria matado os primeiros homens da equipe e prejudicado a capacidade de raciocínio dos restantes. Futuros estudos, dessa vez feitos com amostras dos dentes, seriam necessários para confirmar essas teorias.

Em 1906, o explorador norueguês Roald Amundsen se tornou o primeiro a atravessar a Passagem do Noroeste, a bordo de um pequeno barco de pesca. Mas a travessia continua sendo uma missão quase impossível. A presença de enormes icebergs pode fazer com que os navios fiquem presos, como aconteceu com Franklin, ou afundem. Outros navios navegaram pela rota, como o veleiro catamarã dos exploradores Jeff MacInnis e Mike Beedell, em 1986. Mas, até hoje, não foi possível realizar tráfego comercial pela passagem. 

Crédito: Wikimedia Commons

Depois de inspirar diversos livros e filmes, uma versão fantasiosa da catástrofe no Ártico foi lançada este ano, a série da AMC The Terror. No papel do almirante Franklin está Ciarán Hinds, o líder dos Homens Livres Mance Rayder em Game of Thrones. A causa do desastre é explicada por eventos sobrenaturais. Para uma abordagem mais pé no chão, há o drama canandense Passage, de 2008.


Saiba mais sobre expedições através de importantes obras

Sir John Franklin’s Erebus and Terror Expedition: Lost and Found (Edição em inglês), Gillian Hutchinson, 2017 - https://amzn.to/2q4iVkd
A Expedição Fawcett, Luis Alexandre Franco Gonçales, 2017 - https://amzn.to/33GtqJ2
Rondon: Uma biografia - https://amzn.to/2Cv8Dwl
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