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Notícias / Leste Europeu

Pouco conhecida no Brasil, Sérvia tem uma história conturbada

Pela maioria de sua História, a Sérvia foi dominada por múltiplos povos

Letícia Yazbek e Thiago Lincolins Publicado em 27/06/2018, às 07h03 - Atualizado às 12h24

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Parlamento da Sérvia, em Belgrado - Shutterstock
Parlamento da Sérvia, em Belgrado - Shutterstock

Hoje eles enfrentam o Brasil na Copa. Por sua história, enfrentaram inúmeros inimigos. E nem sempre os sérvios estavam no lado dos "mocinhos". 

Sérvios são falantes do sérvio-croata, uma língua eslava usada diariamente por 21 milhões de pessoas, numa vasta área entre a Bulgária e a Eslovênia. O nome já dá uma ideia do tipo de problema que veremos aqui: sérvios, croatas, montenegrinos e bósnios falam a mesma língua, mas cada um chama com seu próprio nome. O sérvio-croata é simplesmente sérvio na Sérvia, croata na Croácia. 

Separados no nascimento

O que separa esses povos é basicamente a religião. Sérvios e montenegrinos são cristãos ortodoxos, croatas são católicos e bósnios, islâmicos. Uma divisão que vem da história de dominação da região por povos estrangeiros. 

Eslavos não são nativos dos Bálcãs. As primeiras menções, pelos romanos, surgem no século 1 e os mostram vivendo na Europa Central, à leste dos germânicos, no território entre atuais Polônia e Ucrânia.

Os eslavos se estabeleceram nos Balcãs entre os séculos 6 e 7. Foram convertidos ao cristianismo em duas levas: a dos padres romanos, vindos do oeste, e os bizantinos, do sul. Como resultado, croatas e eslovenos, do noroeste, são tradicionalmente católicos e escrevem com o alfabeto latino. Os sérvios, montenegrinos e búlgaros, ao sudeste, são ortodoxos e usam o alfabeto cirílico - de São Cirilo, pregador entre os Eslavos. 

Império

O Principado da Sérvia surgiu no século 7 e se expandiu rapidamente. Em 1217, tornou-se o Reino da Sérvia, unificado pelo Príncipe Stefan Nemanja e, em 1350, era o Império da Sérvia, dominando uma vasta área que ia da Eslovênia até partes da Grécia.

Mas o jogo mudou em 1350, quando os turcos iniciaram a conquista do território sérvio. A derrota dos veio com a Batalha de Maritsa, travada em 1371. O conflito resultou na divisão do Império em pequenos domínios, estes governados por senhores feudais — a primeira "balcanização". Em 1459, os turcos finalmente conquistaram o restante do território que passou a ser parte do Império Otomano. 

A Sérvia e seus vizinhos permaneceram séculos sob o domínio islâmico. Os que se converteram passaram a se identificar como bósnios — a Bósnia era a região central do antigo Império Sérvio, que chegou a ser um reino independente.  

No início do século 19, os sérvios iniciaram revoluções contra o domínio dos turcos, que resultaram na Segunda Revolta Sérvia, em 1817. Como consequência, o território sérvio se tornou principado autônomo do Império Austríaco. O principado teria sua independência reconhecida em 1878, por meio do Congresso de Berlim, e se tornaria o Reino da Sérvia em 1882. 

Epicentro da destruição

Esse reino estaria no núcleo dos eventos que desembocaram na Primeira Guerra. O herdeiro do Império Austro Húngaro, o Arquiduque Ferdinando, foi morto por um terrorista sérvio nas ruas de Sarajevo (que hoje é Bósnia, após uma violenta guerra contra os sérvios).  

A Áustria declarou guerra apenas à Sérvia, mas a Sérvia era aliada da Rússia. Que, por sua vez, era aliada da França. Que era aliada do Reino Unido. Foi assim que um atentado terrorista num país relativamente menor levou à maior hecatombe já vista.

Ao fim da guerra, territórios eslavos sob o domínio austro-húngaro juntaram-se aos vencedores sérvios, criando o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, que mudou para Reino da Iugoslávia em 1929. Essa Iugoslávia terminaria tomada pelos nazistas em 1941. E liberada numa campanha de resistência pelos Partisans do General Tito, dando início ao regime comunista que duraria até 1992. 

O regime, que se distanciou da União Soviética e teve um paradoxal apoio do mundo capitalista. Até 1980, sob o domínio do croata-esloveno Josip Broz Tito, os conflitos étnicos mantiveram-se dormentes. Após sua morte, o governo passou a ser dominado pelos sérvios e começaram as primeiras tensões.

Com a queda do comunismo, no início dos anos 1990, a federação então se partiu em pedaços, numa violenta série de conflitos, nos quais os sérvios tentaram manter a união e os outros povos buscaram a independência — que, com exceção de Kosovo, ganharam.

Sérvia e Montenegro continuaram juntos, sob o nome Iugoslávia, até 2003. Em 2006, Montenegro encerrou a união.

A Sérvia finalmente se tornou apenas Sérvia. E ganhou um time só para eles.