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Notícias / Ciência

Nove crânios brasileiros estão na coleção polêmica de instituto

O Instituto Karolinska, sueco, conta com quase 800 crânios humanos que foram usados no século 19 para experimentos ligados ao racismo científico

Paola Orlovas, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/10/2021, às 15h35

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Imagem ilustrativa - Getty Images
Imagem ilustrativa - Getty Images

O Instituto Karolinska, organização prestigiosa da Suécia que elege o vencedor do Prêmio Nobel de Medicina, conta com uma polêmica coleção de quase 800 crânios humanos — onde nove são brasileiros —, utilizada por um par de cientistas suecos entre os séculos 19 e 20 para tentar provar a suposta superioridade do homem branco, na qual acreditavam. 

Estudantes denunciam a coleção, que conta com 400 crânios humanos de fora da Europa, de países como Brasil, Egito, Rússia, Peru e Argentina e está armazenada em caixas de papelão em prateleiras do Laboratório Retzius. As informações são da BBC.

Anders Retzius e seu filho Gustav estudaram crânios removidos de túmulos em diversas partes do planeta para fazer experimentos anatômicos controversos e condenáveis, ligados às teorias do racismo científico que estavam em alta na época e diziam que havia diferentes “raças humanas”.

Oito dos nove crânios do Brasil foram enviados pelo anatomista inglês Jonathan Abbot, que vivia na Bahia no período entre 1847 e 1850. Segundo a BBC Brasil, ao menos seis deles são de indígenas brasileiros que foram mortos durante conflitos com colonos no fim de 1840. 

O nono crânio foi mandado pelo fundador da primeira colônia alemã do Brasil, o naturalista Georg Wilhelm Freyreiss, que morou no país durante doze anos. Tendo escrito diversas obras sobre o Brasil e entrado em contato com várias etnias, ele enviou outro crânio indígena, coletado entre 1821 e 1825, durante uma expedição.

Anders era conhecido mundialmente por seus estudos de anatomia, assim como seu filho, e ocupou o cargo de reitor do Instituto Karolinska durante três décadas do século 19.

"Sob a perspectiva atual, reconheço que uma parte dos 200 anos de história do Instituto Karolinska pode ser considerada racista", explicou Ole Petter Ottersen ao veículo. Atualmente, ele atua como reitor do Instituto. "No século 19, professores e pesquisadores do instituto foram influenciados pela ordem colonial dominante. Alguns deles cometeram atos ou expressaram opiniões caracterizadas atualmente como antiéticas, anticientíficas e racistas — algo totalmente inaceitável nos dias de hoje", disse ele.

Anders criou diversas teorias dentro do campo da craniologia, inventando o índice cefálico para a medição dos crânios, cálculo inexato que, apesar de ter sido utilizado no passado, não é capaz de indicar a qual etnia um indivíduo pertence. 

Os Retzius eram grandes colecionadores de crânios, e os coletavam para tentar justificar a tese das diferentes raças humanas, hoje desmentida. Para consegui-los, acredita-se que a família teve que usar de métodos ilegais e antiéticos, como o saqueamento de túmulos feito por terceiros (contratados por eles) em regiões da África, Caribe e América Latina. 

Outro nome que traz insatisfação para os estudantes do Instituto Karolinska é o de Hans von Euler, um químico sueco que era simpatizante de Hitler, e também recebeu uma ala com seu nome, essa diretamente ligada à Via Nobel. Para aqueles matriculados no campus, ter a presença desses nomes nele é um "tributo ao racismo", ainda segundo a BBC Brasil. 

Um comitê foi organizado pelo atual reitor para pensar em uma substituição das referências a Retzius e seu filho em placas que levam seus nomes no campus.

A orientação dos estudantes de tomar uma atitude imediata não está sendo levada em conta, porque para o reitor, tirar de imediato do campus todas as referências aos Retzius seria agir como um ativista.