Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Notícias / Brasil

O dia em que Cid Moreira teve de anunciar veto da ditadura a novela ao vivo

'Roque Santeiro' era prevista para estrear naquela noite, mas mobilizou toda a emissora para tentar solucionar a proibição

Wallacy Ferrari Publicado em 11/10/2022, às 13h56 - Atualizado em 04/04/2023, às 09h36

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cid Moreira em montagem com emblema de 'Roque Santeiro' (1975) - Divulgação / YouTube / TV Globo
Cid Moreira em montagem com emblema de 'Roque Santeiro' (1975) - Divulgação / YouTube / TV Globo

No dia 27 de agosto de 1975, os preparativos da TV Globo para estrear uma das suas maiores produções já feitas falhavam. A novela Roque Santeiro já era anunciada em jornais e nos intervalos da programação da emissora, sendo marcada por tratar um Brasil em cores e com sotaques.

O elenco era de peso; contava com Lima Duarte, Betty Faria, Francisco Cuoco e Milton Gonçalves apenas no núcleo central. Previsto para estreiar na faixa das 20h, substituiria a novela 'Escalada' em alto nível, ilustrando a cidade fictícia de Asa Branca no enredo que girava em torno do mito que dava nome a produção.

No entanto, minutos antes de ter o primeiro capítulo exibido, Cid Moreiraanunciou, no 'Jornal Nacional' que a produção havia sido vetada pelo Governo. Não apenas iniciava um problema interno para resolver, em poucos minutos, o que poderia ser reposto na programação, mas o que ocorreria para tentar liberar a estreia.

Ferida aberta

De acordo com a Folha de S. Paulo, o anúncio de Cid foi acompanhado da leitura de um editorial, escrito no dia anterior pelo fundador da emissora, Roberto Marinho, sendo a primeira vez onde a emissora entrava publicamente em embate com o governo militar, anteriormente juntos em diversas passagens políticas.

A justificativa era a seguinte: "A novela contém ofensa à moral, à ordem pública e aos bons costumes, bem como achincalhe à Igreja". Foram perdidos 10 episódios prontos e cenas de mais 30 capítulos. Perdeu-se também as imagens do anúncio de Cid no ano seguinte, quando a sede carioca da emissora sofreu um devastador incêndio em seu acervo de videotapes.

A novela só pôde ser feita no ano da redemocratização, em 1985, mas com outro elenco e sem aproveitar imagens da versão engavetada. O sucesso não diminuiu pela estreia; do contrário, a versão que pôde ir ao ar é marcada como o programa de maior audiência da história da televisão brasileira, chegando a registrar totalidade dos televisores ligados acompanhando a novela.

Descoberta do enredo

Mesmo com o prejuízo a emissora carioca, o criador da trama Dias Gomes relembrou e detalhou, em entrevista ao programa ‘Globo Repórter’ no ano de 1992, um dos principais pontos que mobilizaram o Serviço Nacional de Informações (SNI) para a proibição da telenovela, relatando o episódio com bom humor.

Descobriu-se que um telefonema, dado do historiador Nelson Werneck Sodré para mim, havia sido gravado. O telefone dele estava grampeado. E nesse telefonema, eu dizia que estava fazendo uma adaptação da peça ‘O Berço do Herói’ que havia sido proibida em 1965 no teatro”, revelou o autor.

Contudo, o decorrer do bate-papo acabou entregando quais eram os planos de Gomes: “Eu estava modificando algumas coisas, fazendo uma tapeação para a censura não perceber que era a mesma peça! E foi gravado! E foi por isso que mandaram proibir o ‘Roque Santeiro’”, concluiu, aos risos.