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Notícias / Hungria

O projeto dos ultranacionalistas de extrema-direita que pretendem acabar com a “invasão” de imigrantes na Hungria

Com projeção de uma suntuosa queda populacional até 2050, governo quer evitar que lacunas de mão de obras sejam ocupadas por pessoas não-europeias, não-brancas e não-cristãs

Fabio Previdelli Publicado em 12/02/2020, às 13h00

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Policial ordenando grupo de imigrantes - Getty Images
Policial ordenando grupo de imigrantes - Getty Images

Após o fim da Primeira Guerra Mundial, a assinatura do Tratado de Trianon, em 1920, decretou de vez a separação do Império Austro-Húngaro, que viu suas fronteiras serem estabelecidas pela primeira vez — o que fez o país perder 71% de seu território, 58% de sua população e cerca de 30% dos húngaros étnicos.

Nos anos seguintes, a nação ficaria do lado do Eixo na segunda grande guerra, mas apesar de sair derrotada — e sofrer graves consequências por isso —, a ideologia supremacista parece ter ficado enraizada no país. Após quatro décadas sendo administrada por um governo comunista, a grande Revolução de 1956 só ajudou que esse ideal de extrema-direita voltasse à tona.

Com a crescente queda da taxa de natalidade no país — 1,48 criança por mulher húngara, metade do que era em 1950 —, há expectativa de que a população da nação diminua de 9.8 milhões para 8.3 milhões até 2050.

Policiais executando ordens de manterem os imigrantes afastados / Crédito: Getty Images

Essa perspectiva fez com que o governo conservador ficasse cada vez mais receoso de que uma lacuna na mão de obra do país fosse preenchida por imigrantes. Aliás, esse questão demográfica só fez ecoar mais vez uma teoria da extrema-direita europeia que diz que nas próximas décadas o continente será substituído por pessoas não-europeias, não-brancas e não-cristãs.

Para combater essa queda populacional, o Estado húngaro pós em prática o plano de comprar as maiores clínicas de fertilização do país para facilitar o tratamento de casais que queiram ter filhos. Em um campo prático, é como se fosse feito uma estatização da fertilização in vitro.

“A nação precisa de procriação, não emigração” se tornou praticamente um mantra que ecoa aos quatro cantos do país. As medidas de incentivo para que as famílias tivessem pelo menos três filhos aconteciam enquanto Viktor Orban, presidente da Hungria, erguia muros, atacava refugiados e denunciava um hipotético plano do Islã para “invadir” a Europa.

Assim, o governo criou subsídios para a redução de impostos para as famílias que desejavam comprar carros e casas. Programas especiais também foram implementados para que as famílias que escolherem ter mais de três filhos: mulheres que tiverem quatro descendentes estarão isentas de impostos para o resto de suas vidas.

As forças de segurança húngaras tomam medidas de segurança perto da fronteira entre a Hungria e a Sérvia / Crédito: Getty Images

O pensamento de Orban já foi expelido diversas vezes. Em uma delas, na conferência sobre demografia, que ocorreu em 2019, o líder declarou: "Existem forças políticas na Europa que querem substituir a população por motivos ideológicos". O evento contou com a presença de Damares Alves, ministra de Direitos Humanos do governo Bolsonaro, que é defensora do movimento pró-família.

No ano passado, os casamentos na Hungria aumentaram em 24%, mas as taxas de natalidade continuaram a apresentar quedas — houve um declínio de 1.6% se compararmos o número de nascimentos entre os dez primeiros meses de 2018 e 2019.

Com a estatização das clínicas de fertilização — que dão tratamentos gratuitos à população —, espera-se que haja um considerável aumento nos índices de natalidade. A meta, até 2022, é de 4.000 crianças sejam geradas por essa metodologia. O investimento é visto como algo justificável pelo governo. "Ter crianças é um assunto público, não privado", disse o presidente do Parlamento e aliado de Orban, László Kövér.

Famílias de imigrantes na Hungria / Crédito: Getty Images

"Compramos todas as empresas que estão operando nesse mercado", declarou o presidente húngaro, que, na prática, criou um monopólio no setor, já que qualquer empresa que queira atuar nessa área no país terá que conseguir uma autorização do Estado. Mas o próprio Orban afirma aos investidores que “não haverá nenhuma permissão”.


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