Os pesquisadores brasileiros encontraram os parasitas ao analisaram os ossos de um titanossauro que sofria de osteomielite aguda
Giovanna de Matteo Publicado em 22/10/2020, às 18h15
Cientistas brasileiros da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Unicamp divulgaram uma pesquisa inédita ao analisarem fósseis de um brontossauro que revelaram parasitas preservados em seus restos mortais. A espécie de dinossauro de pescoço comprido teria vivido no estado de São Paulo há cerca de 80 milhões de anos.
O estudo impressionou por ser a primeira vez que cientistas encontram parasitas preservados dentro de seu hospedeiro. Antes disso, eles só foram encontrados em insetos preservados em âmbar, por exemplo.
Era 2017 quando a pós-doutoranda Aline Ghilardi, da UFRN, que estudava fósseis de um dinossauro encontrado em São Paulo, notou que um dos ossos continha caroços esponjosos. Um ano depois, Tito Aureliano, mestrando na Unicamp, decidiu começar um estudo desses fósseis, onde realizou uma análise microscópica e uma tomografia, feitas na Faculdade de Medicina da USP.
A partir desses estudos, o dinossauro foi diagnosticado com osteomielite aguda, uma espécie de infecção no tecido ósseo que causa muita dor. Para avançar nos resultados sobre o desenvolvimento da doença no animal, os especialistas decidiram fazer uma biópsia do osso. Foi aí que a paleontóloga Fresia Ricardi-Branco, da Unicamp, encontrou microfósseis dentro dos canais sanguíneos do osso do dinossauro.
Posteriormente, a paleoparasitóloga Carolina Nascimento, da UFSCar, trabalhou em uma análise aprofundada da amostra retirada por Fresia. Ela, então, descobriu uma série de fósseis de mais de 70 microorganismos, identificados como um parasita sanguíneo.
A descoberta foi avassaladora, embora, segundo Aline, não tenha sido possível distinguir se a infecção foi causada pelos parasitas, ou se eles apenas se aproveitaram dela para se alocarem no animal.
"Com a formação de caroços e feridas abertas, expelindo pus pelas pernas, braços e corpo. O aspecto geral (do animal) lembraria muito o de um 'dino zumbi'", diz Aureliano a respeito do sofrimento que o dinossauro passou até sua morte.
Segundo Ghilardi, autora principal do estudo, que foi publicado na revista Cretaceous Research, a pesquisa foi inovadora pelo seu caráter interdisciplinar. "Pela primeira vez uniu as disciplinas da histologia, patologia e parasitologia aplicadas aos fósseis, o que abrirá novas possibilidades para a paleontologia de agora em diante", afirmou ela, e completou: "É também um exemplo de como a ciência de base pode acabar causando impacto na medicina moderna, contribuindo para a compreensão de doenças que até hoje acometem animais, incluindo a espécie humana."
