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Notícias / Brasil

Prédio histórico de Chapecó não pode ser demolido, determina MP

Há 71 anos, a estrutura serviu de prisão para os cerca de 70 acusados no episódio conhecido como 'Linchamento de Chapecó'

Pamela Malva Publicado em 12/01/2022, às 15h00

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Imagens da sede do Moinho Santo Antônio atualmente e na década de 1950 - Eduardo Sens dos Santos/ Creative Commons/ Wikimedia Commons/ Ministério Público de Santa Catarina
Imagens da sede do Moinho Santo Antônio atualmente e na década de 1950 - Eduardo Sens dos Santos/ Creative Commons/ Wikimedia Commons/ Ministério Público de Santa Catarina

Em outubro de 1950, a cidade de Chapecó, em Santa Catarina, tomou conta das manchetes nacionais após o episódio conhecido como 'Linchamento de Chapecó'. Agora, um dos principais prédios envolvidos na trama voltou a chamar atenção, depois que o Ministério Público (MP) obteve uma liminar para proteger sua estrutura.

Segundo o portal ND+ e o próprio site do MP de Santa Catarina, a 9ª Promotoria de Justiça da Comarca de Chapecó obteve uma liminar que proíbe qualquer intervenção que ameace a integridade da estrutura da antiga sede do Moinho Santo Antônio — que, na década de 1950, era o maior prédio de toda Chapecó.

A decisão da Justiça ainda define que, além de não poder realizar qualquer alteração no edifício, a empresa dona da construção também deve instalar avisos nas duas fachadas da estrutura. Nesse sentido, as placas devem conter os dizeres: “Proibidas intervenções neste imóvel por força de determinação judicial”.

Ainda de acordo com a liminar, o descumprimento da decisão implica em uma multa no valor de R$ 50 mil. Com isso, a Promotoria de Justiça de Chapecó pretende manter e preservar a história de um dos prédios mais importantes da região.

Interior do prédio atualmente / Crédito: Divulgação/ Ministério Público de Santa Catarina

O Linchamento de Chapecó

Conforme narrado pelo site do Ministério Público de Santa Catarina, tudo começou no Carnaval de 1950, quando o Clube Recreativo Chapecoense foi destruído por um incêndio. Na época, o ecônomo do clube, Orlando de Lima, foi tido como um suspeito.

Diante do caso, o então delegado da cidade, Arthur Argeu Lajús, sugeriu um acordo para o empresário, no qual Orlando não seria preso. O ecônomo, contudo, não concordou em pagar a propina e o caso acabou perdendo força na Justiça.

Em 4 de outubro de 1950, no entanto, a Igreja católica da cidade também foi acometida por chamas criminosas. Dessa vez, no entanto, Ivo de Oliveira Paim e Romano Ruani foram apontados como os principais suspeitos do incêndio.

O problema é que, além do desentendimento com o delegado, Orlando de Lima ainda era um grande amigo de Romano e, na época, estava até hospedado no mesmo hotel que os suspeitos. Assim, ele também foi detido, acusado de incendiar a igreja.

Destroços do Clube Recreativo e da igreja após o incêndio / Crédito: Eduardo Sens dos Santos, via Wikimedia Commons

Eventualmente, o irmão de Orlando, Armando de Lima, foi até Chapecó para ajudar o parente, mas também acabou atrás das grades. Sofrendo diversos tipos de torturas, Romano alegou falsamente que Orlando também fez parte do incêndio — mais tarde, ele voltou atrás e afirmou que o amigo não tinha qualquer relação com o crime.

Para o delegado, no entanto, a acusação de Romano era suficiente e o oficial se recusou a registrar a retratação em depoimento. Arthur Argeu, então, decidiu fazer justiça com as próprias mãos, reunindo diversos homens da cidade, a fim de linchar os quatro acusados — ainda que alguns injustamente — de incendiar a igreja.

Foi assim que, na noite de 17 para 18 de outubro de 1950, cerca de 70 homens entraram na cadeia municipal de Chapecó. Orlando, Armando, Ivo e Romano foram linchados por tiros e golpes de facão. Uma vez mortos, os quatro foram carregados até o pátio da prisão, onde tiveram seus corpos queimados pela multidão.

Foto tirada após o linchamento, com os corpos ainda estirados / Crédito: Eduardo Sens dos Santos, via Wikimedia Commons

Diante do trágico episódio, o juiz José Pedro Mendes de Almeida ordenou uma investigação e, assim, 71 homens, incluindo o delegado Arthur Argeu, foram detidos preventivamente no único prédio da cidade que poderia servir de cadeia naquele momento: a histórica sede do Moinho Santo Antônio — hoje protegida pela nova limiar.

No final, sete acusados do linchamento foram condenados, entre eles o delegado. Em um segundo julgamento, em 28 de novembro de 1956, no entanto, Arthur Argeu Lajús foi absolvido por unanimidade pelo júri — que contava com Arnaldo Mendes, um grande compadre do delegado, segundo narrou Mônica Hass, em livro de 2013 sobre o caso.