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Notícias / Arqueologia

Diante da superlotação, primeira cidade do período Neolítico apelou para violência

Localizada no que hoje é a Turquia, a cidade foi ocupada há cerca de 9 mil anos e encontrou problemas da vida urbana

Joseane Pereira Publicado em 21/06/2019, às 08h00

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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Descobertas arqueológicas na região de Çatalhöyük, ao sul da Turquia, demonstram que a transição do forrageamento para um estilo de vida comunal pode ter gerado sérios problemas. O local foi ocupado de 7.100 a.C. até 5.950 a.C. e abrigou até 8 mil pessoas, sendo uma das primeiras cidades conhecidas da História.

Entre outros fatores, a superlotação teria criado um ambiente estressante para os ocupantes neolíticos de Çatalhöyük, que encontraram uma saída através da violência.

Vizinhos Perigosos

Durante 25 anos, arqueólogos da Universidade de Ohio coletaram restos mortais de 742 indivíduos da cidade. Na descoberta, que preserva mais de mil anos de vida neolítica, os arqueólogos identificaram "um registro convincente de níveis elevados de violência interpessoal" gerada pelas condições de vida comunal.

O número de ferimentos nos esqueletos teria aumentado quando a comunidade estava em seu maior nível, sugerindo um aumento de violência proporcional ao acúmulo de pessoas. Cerca de 25% dos 95 crânios examinados mostraram lesões curadas feitas por pequenos projéteis esféricos, provavelmente bolas de argila arremessadas com estilingue. 

A maioria das vítimas eram mulheres que pareciam ter sido atingidas por trás, e 12 dos crânios foram fraturados mais de uma vez. Esferas de argila também foram preservadas em todo o local, de acordo com o estudo.

Reconstrução digital da cidade / Créditos: Reprodução

Vida comunal

Cerca de 33% dos esqueletos apresentava sinais de infecção bacteriana, o que demonstra que a doença também foi um problema na Çatalhöyük superpopulosa. E cerca de 13% dos dentes das mulheres e 10% dos dentes dos homens estavam perfurados com cáries, o que indica uma dieta rica em grãos.

Viver tão próximo poderia ter impulsionado a disseminação de agentes patogênicos letais, disse o principal autor do estudo, Clark Spencer Larsen, professor de antropologia da Universidade do Estado de Ohio. Além disso, paredes internas e pisos de habitações traziam o resíduo de fezes humanas e de animais, o que também poderia ter deixado as pessoas doentes.

"Eles estavam vivendo em condições muito lotadas, com poços de lixo e currais para animais próximos a algumas das casas", afirmou Larsen. "Portanto, há toda uma série de questões de saneamento que podem ter contribuído para a disseminação de doenças infecciosas".

Através de modificações nos ossos das pernas, os cientistas identificaram que os moradores passaram a andar mais, talvez por uma escassez de recursos locais. Junto aos crescentes incidentes de doenças, isso também poderia ter pressionado as comunidades de Çatalhöyük, criando um ambiente de violência latente.

"Çatalhöyük foi uma das primeiras comunidades proto-urbanas do mundo, e os moradores experimentaram o que acontece quando você junta muitas pessoas em uma área pequena por um tempo prolongado", disse Larsen em um comunicado. 

Apesar da cidade ter sido abandonada há quase 8 mil anos, seus restos mortais prenunciam sombriamente muitos dos mesmos conflitos enfrentados atualmente, concluíram os pesquisadores. "Isso preparou o palco para onde estamos hoje e os desafios que enfrentamos na vida urbana", afirmou o pesquisador.