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Notícias / Personagem

Revolução e luta na Justiça: a saga de Sengbe Pieh, o homem que foi traficado e brigou pela liberdade

Capturado ilegalmente, ele liderou um motim e foi alvo de uma segunda luta incansável no tribunal

Giovanna de Matteo Publicado em 16/08/2020, às 08h00 - Atualizado em 02/07/2021, às 08h00

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Sengbe Pieh em pintura de 1840, de Nathaniel Jocelyn - Domínio Público via Wikimedia Commons
Sengbe Pieh em pintura de 1840, de Nathaniel Jocelyn - Domínio Público via Wikimedia Commons

Era um dia comum de 1839 quando Sengbe Pieh, um fazendeiro que vivia em Serra Leoa com seus filhos e esposa, foi surpreendido por quatro traficantes de escravos espanhóis no caminho de volta para sua fazendo. Durante a armadilha, ele foi capturado e levado para Lomboko, uma ilha escravagista na costa de Gallinas, onde foi vendido para um escravista, que o levou para a capital de Cuba. 

Na cidade de Havana, ele ficou conhecido como Joseph Cinqué, nome dado pelos espanhóis. A troca dos nomes originais de escravos era muito comum; essa prática era feita para que as vítimas perdessem sua nacionalidade e individualidade, sendo tratados como objetos de compra e venda. E Pieh foi uma dessas pessoas. 

Em Cuba, estima-se que até 58 homens foram comprados junto com Sengbe por Jose Ruiz e Pedro Montez, espanhóis donos de plantações escravistas em Porto Príncipe, onde sequestrados, seriam transportados a bordo do navio Amistad. Todavia, não imaginavam que os escravizados iniciariam um episódio que entrou para história. 

Uma revolta em alto mar

Após três dias preso no navio negreiro, e sofrendo com as péssimas condições em que se encontrava, Sengbe decidiu se rebelar. Ele encontrou uma espécie de prego solto pelo navio e conseguiu se soltar das correntes que o prendiam, libertando também vários de seus companheiros presos.

Finalmente livre, ele liderou um motim que resultou na morte do capitão e de um de seus tripulantes. Os rebeldes decidiram poupar a vida de Ruiz e Montez, e também do segundo comandante do navio, afinal, ele era o único que sabia navegar. 

Sengbe ordenou que o novo capitão o levasse para o leste, em direção à África. Em oposição e não obedecendo ao líder do motim, o piloto navegou para o norte em segredo. Depois de dois meses o navio chegou ao largo de Long Island, nos Estados Unidos. E foi justamente nesse momento que a situação ficou ainda mais caótica. 

Aprisionados mais uma vez

O Amistad já estava aos pedaços quando foi ancorado; a embarcação foi apreendida pelas autoridades americanas. Ruiz e Montez foram libertados, enquanto os escravos foram acusados ​​de assassinato e pirataria, levando novamente a se tornarem prisioneiros. 

Após uma investigação, o juiz distrital decidiu que o caso fosse levado ao tribunal de Hartford, em Connecticut. Ruiz e Montez, defenderam que as vítimas eram propriedade deles, mas em contrapartida, o cônsul espanhol que ficava em Boston reivindicou o navio, os escravos e a carga em nome do rei da Espanha. Apesar dos dois escravagistas serem súditos espanhóis, a Espanha já havia tornado ilegal a importação de escravos desde 1820, sendo assim, suas ações comerciais com navios negreiros não eram lícitas.

Em conhecimento desses fatos, um comitê de abolicionistas americanos decidiu defender os prisioneiros na corte. Para isso, o grupo de homens que ficou conhecido como "Comitê Amistad" precisava ouvir a versão da história dos homens capturados. Eles buscaram um intérprete que pudesse fazer a ligação entre as línguas africanas e o inglês. Após muita procura, James Covey, um ex-escravo que trabalhava na Marinha britânica em Nova York, foi convocado para conversar com Joseph Cinqué

Cartilha apresenta Joseph Cinqué / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Os governos espanhol e norte-americano solicitaram que os africanos fossem levados a Cuba, destinando-os à morte certa. Numa sacada para despistar os abolicionistas, acreditando que o tribunal ficaria do seu lado, o presidente Martin Van Buren enviou um navio da Marinha para transportar os africanos. Porém, não foi bem isso que aconteceu.

Para a surpresa do presidente dos EUA, o tribunal votou a favor dos abolicionistas, concluindo que os Estados Unidos não teriam o direito de julgar os cativos. Sequestrados como escravos num ato ilegal, eles estavam legalmente livres e deveriam ser transportados de volta para a África.

Não contente com a decisão, o presidente Martin Van Buren exigiu que o caso fosse novamente julgado, mas dessa vez, perante a Suprema Corte. O Comitê Amistad recorreu rapidamente ao ex-presidente John Quincy Adams, que depois de muita insistência acabou aceitando o caso, que ficou famoso.

Apelidado de “Old Man Eloquent”, Adams acusou Van Buren de abusar de seu poder. A defesa foi elaborada a partir da Declaração de Independência durando aproximadamente de 13 horas.  Em março de 1841, a Suprema Corte concordou com ele, dando pleno direito à liberdade para os prisioneiros.

Durante os mais de 18 meses de encarceramento, muitos africanos adoeceram e faleceram, restando apenas cerca de 35 homens. Eles foram levados para uma cidade abolicionista em Connecticut, onde residiram até o final do ano de 1841. O navio que os levou de volta para Serra Leoa foi financiado pelos próprios abolicionistas, e foi acompanhado de cinco missionários que promoveriam um trabalho de evangelização cristã.

A revolução começada por Joseph Cinqué teve grande importância tanto para a história de Serra Leoa, quanto para a História dos EUA. Cinqué morreu em 1879 e foi enterrado no cemitério perto da estação missionária de Mande. 

Acredita-se que o caso também foi um ponto crucial para o começo da Guerra Civil Americana em 1860, e ficou tão famoso que foi cinematografado. O filme Amistad foi lançado em 1997 e conta a história da rebelião liderada por Joseph Cinqué.


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