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Testeira

A 'Capela Sistina' da pré-história que apresenta pinturas feitas por crianças

Na França, a caverna conhecida como 'Cem Mamutes' chama atenção pela riqueza arqueológica

Coluna de Joana Freitas, arqueóloga Publicado em 24/08/2021, às 16h02

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Um dos instigantes registros da caverna - Divulgação/Universidade de Cambridge
Um dos instigantes registros da caverna - Divulgação/Universidade de Cambridge

Esta caverna é conhecida desde o século XV diante de sua exploração para a extração de argila e, por várias vezes ao longo dos séculos, sendo mencionada assim como as suas pinturas. Desde 1979, este sistema de cavernas localizado em Rouffignac, na França, esculpido pela água, é considerado patrimônio da Humanidade.

Nenhuma datação direta foi realizada sobre a arte rupestre, mas tendo como base semelhanças de estilo de cavernas encontradas nas proximidades - como Combarelles, Bernifal e Fond de Gaume -, os investigadores atribuíram as representações de Rouffignac à cultura magdaleniana, com cerca de 13.000 anos de idade.

A datação por critérios estilísticos, neste caso, levou em consideração as sequências de linhas paralelas mais ou menos oblíquas que sugerem detalhes anatômicos e a perspectiva espacial indicada pelos chifres e pernas do animal. Este tipo de características é típico do período magdaleniano.

Sistema mais extenso

A caverna que fora apelidada de Cem Mamutes ou também conhecida como a Gruta de Rouffignac, possui o sistema de cavernas mais extenso do Périgord, com mais de oito quilômetros de passagens subterrâneas.

Para chegar da entrada da caverna até à câmara decorada mais afastada são necessários cerca 45 minutos de caminhada; com oxigénio reduzido e a luz fraca de uma tocha. Este é um tipo de informação que não podemos desvalorizar.

A caverna é enorme e parece dirigir-se às profundezas da terra. À medida que nos vamos deslocando, conseguimos compreender toda uma lógica na escolha dos locais onde as pinturas foram feitas.

Divulgação/Universidade de Cambridge

Os painéis intermitentes de desenhos e gravuras pretas deslocam-se gradualmente das paredes para o tecto na mesma medida que o tecto da caverna perde altura. Quando o final da caverna é alcançado, somos surpreendidos com um majestoso conjunto artístico onde estão incluídas pinturas e representações de rinocerontes lanosos, mamutes, cavalos, bisontes e ibex. Quase uma Capela Sistina da pré-história onde podemos encontrar cerca 250 gravuras, pinturas e desenhos datados do Paleolítico Superior.

Numa análise mais aprofundada, estão documentadas 255 representações figurativas na caverna. Existem ainda outras não figurativas. Os mamutes representam mais de 60% dos números na gruta.

Há também bisões, cavalos, ibex e rinocerontes, fornecendo importante informação sobre a fauna do período em questão. Sinais geométricos também estão presentes (5,5) assim como linhas de serpenteadas que cobrem cerca de 500 metros quadrados.

A maioria das figuras estão localizadas no nível superior. A galeria Henri Breuil é dominada pelo friso de Três Rinocerontes Lanosos e pelo friso de Dez Mamutes. O Caminho Sagrado para o Grande Teto é mais complexo, com gravuras nas paredes no início e depois desenhos no teto.

O Grande Teto fica pendurado acima de um grande eixo que permite o acesso aos níveis inferiores, além de demonstrar a maior diversidade da fauna com 65 animais representados.

Talento infantil

Um dos fatos curiosos nesta caverna é o fato de algumas das pinturas terem sido feitas por crianças, sendo que a mais nova teria cerca de 3 anos. Para chegarmos a este tipo de informação foram medidas a largura dos dedos de milhares de pessoas modernas, permitindo identificar idades precisas para indivíduos com menos de 7 anos, com base apenas nos traços dos dedos.

Com impressões claras, os pesquisadores também podem dizer com até 80% de precisão se o artista infantil era um menino ou uma menina. Existem pelo menos desenhos de quatro crianças diferentes nesta caverna.


Joana Freitas é formada em história na vertente de arqueologia pela faculdade de letras da Universidade do Porto e tem por áreas de maior interesse a evolução humana e a pré-história. Fora do campo de formação tem como disciplinas preferidas a antropologia e a paleontologia que no fundo complementam a sua formação de base.

Gosta de conhecer outros lugares, principalmente as suas gentes, ler e escrever. Embora tenha participado em diversas escavações de vários períodos históricos de diversos países, o local arqueológico que mais marcou o seu percurso e onde esteve presente em várias campanhas diferentes foi castanheiro do vento, um recinto pré-histórico em Vila Nova de foz Côa, em Portugal.