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A dependência mundial da moda criada em Paris sempre ultrapassou crises e recessões

Os anos pós-crise de 1929 foram responsáveis por belas soluções e inovações nos ateliês e maisons francesas

Laura Wie (@laura_wie), especialista em História da Moda Publicado em 09/10/2021, às 06h00

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Elsa Schiaparelli - Divulgação/Openthedoor Estúdio de Animação (todos os direitos reservados)
Elsa Schiaparelli - Divulgação/Openthedoor Estúdio de Animação (todos os direitos reservados)

Apesar dos anos 1930 terem transcorrido após o colapso de 29, quando a quebra da Bolsa de Valores de Nova York trouxe instabilidade econômica e financeira para o mundo todo, os setores de moda – sempre dispostos a evoluir na área de design e também no uso de materiais - se beneficiaram da inventividade de seus criadores em face de novas necessidades.

Afinal, crises intensas geralmente provocam a busca de estratégias inovadoras e acertadas para a rápida reabilitação das áreas atingidas. No caso das coleções produzidas no epicentro da moda internacional - Paris - a elegância e a feminilidade foram as características-chave utilizadas para manter o elevadíssimo interesse global nas criações parisienses.

A capital francesa foi resiliente em meio à recessão e perda do poder aquisitivo de grande parte de seus consumidores, nunca deixando de propor refinamento e modelagens perfeitas em seus trajes – exatamente o que se esperava de um centro lançador de tendências, que ainda exercia papel fundamental influenciando a vestimenta das sociedades ocidentais durante a década de 30.

O Berço da Moda

A França começou a ditar moda a partir do século 17, quando Luís XIV, o Rei-Sol, idealizou Versalhes e sofisticou o vestuário e a etiqueta da corte, isto é, os costumes e regras sociais do Palácio. Incentivou o uso de tecidos nobres em trajes bastante refinados e o luxo como ferramenta de poder.

Luís XIV, o Rei Sol //Crédito: Wikimedia Commons

Da realeza francesa o interesse por moda chegou, com o passar do tempo, a uma burguesia que conquistou acesso ao bem-vestir, ou seja, a camada da sociedade que adquiriu condições financeiras para costurar vestimentas mais aprimoradas, imitando dentro das suas possibilidades, os trajes requintados que a sua corte usava.

No século 19 é em Paris que surge o termo “alta-costura”, isto é, a definição de trajes finos sob medida para as mulheres, executados por criadores de moda profissionais. E de lá para os anos 1930 da Grande Depressão, não houve uma só mulher de posses no Ocidente inteiro que não esperasse pelos próximos lançamentos da moda francesa – em meio ao desequilíbrio econômico, ou não.

As cinturas voltam à moda na Grande Depressão

A mulher bem-vestida durante os anos da recessão global deixou de lado os vestidos exageradamente glamurosos dos anos 20 – soltinhos com brilhos, franjas e com o comprimento até os joelhos – para se produzir com um estilo mais discreto, porém feminino e elegante.

As barras das saias desceram alguns centímetros e as cinturas voltaram, marcadas por cintos finos. Mangas bufantes, rendas e babados delicados decoravam os vestidos graciosos.

Grandes costureiras na Paris dos anos 30

É nesta época que o corte enviesado, criado por Madeleine Vionnet, tomou conta não apenas do seu próprio ateliê de alta-costura, mas das ruas mundo afora, possibilitando às mulheres o caimento perfeito do tecido em harmonia com as curvas do corpo. O drapeado também foi uma das técnicas desenvolvidas pela estilista, que fez sucesso imediato por sua beleza e feminilidade.

Já Madame Grés fazia verdadeiras esculturas em tecido plissado, propondo este efeito em vestidos que tinham inspiração direta de estátuas gregas antigas. O plissado, como sabemos, se tornou um item de moda universal. Gabrielle “Coco” Chanel, com olhar mais prático para suas roupas, desenvolve nos anos 30 um estilo aprovadíssimo globalmente: o look marinheiro.

Isto além de popularizar as calças para mulheres, que tinham na própria criadora a sua melhor “vitrine” de apresentação. Mas dentre todas as costureiras-ícone da moda parisiense nesta época, uma foi a mais extravagante e autoral: Elsa Schiaparelli, italiana que mantinha sua maison na capital francesa.

Schiaparelli oferecia em seus trajes a transgressão visual, brincando com o elemento-surpresa e boas doses de humor – ela dizia que o seu vestuário tinha como objetivo alegrar, atenuando eventuais dificuldades existentes. Admiradora e amiga da classe artística que residia em Paris, era apaixonada pelo Movimento Surrealista, que atingiu o seu auge nos anos 30.

Salvador Dali era um grande amigo e colaborador, e juntos fizeram parceria em várias peças para o guarda-roupa feminino. Mas muito além do seu olhar revolucionário, Schiaparelli era uma mulher de negócios, e foi a primeira a tomar várias decisões para a moda que nos acompanham até os dias de hoje. Foi ela quem introduziu o fecho na alta-costura. Criou o tom de rosa-choque em 1937, chamando assim seu primeiro perfume.

Algumas das criações de Elsa Schiaparelli /Crédito: Divulgação/Youtube/Victoria and Albert Museum

Em 1939, usou a camuflagem pela primeira vez em seus designs. Foi ela também quem trouxe temas para as coleções, nomeando cada lançamento com títulos sugestivos e apresentando suas criações em verdadeiros shows temáticos que aconteciam ao redor das modelos desfilando – seu tino artístico claramente antecipando os desfiles-espetáculo que se tornaram comuns em muitas marcas de luxo, anos depois.

A Moda no Brasil

Na década de 30 o Brasil entrou na Era Vargas e tivemos pouco incentivo do nosso presidente Getúlio Vargas na indústria têxtil. Ele, porém, criou a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho – trazendo segurança e benefícios para toda a classe trabalhadora brasileira - incluindo as mulheres, que estavam começando a ocupar postos de trabalho.

Saiba mais na série “Moda no Brasil: os anos 1930”, no podcast a seguir, roteirizado e narrado por mim.