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Personagem / Personagem

Café Filho, o goleiro que chegou à Presidência da República

Saiba mais sobre a trajetória daquele que seria o 18º presidente do Brasil

José Renato Santiago Publicado em 01/08/2020, às 08h00

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Foto oficial de Café Filho como presidente do Brasil - Wikimedia Commons
Foto oficial de Café Filho como presidente do Brasil - Wikimedia Commons

O ano de 1915 foi marcante em prol da prática do futebol em Natal. Naquela época a capital do Rio Grande do Norte se concentrava basicamente em duas áreas, a Cidade Alta e a Ribeira, a chamada Cidade Baixa, cujo nome, segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, se originou pelo fato de estar costumeiramente alagada pelas marés do Rio Potengi.

Foi na Ribeira que, em 29 de junho daquele ano, um grupo de jovens se reuniu para fundar aquele que seria o primeiro clube de futebol do estado, o ABC Futebol Clube. Uns 15 dias depois, na Cidade Alta, aconteceria a criação do América Futebol Clube, cujos fundadores promoveram seu primeiro jogo treino contra a equipe do Colégio Atheneu, tradicional instituição fundada ainda nos tempos da monarquia.

A vitória americana por 22 a 0, com destacada atuação do atacante Napoleão, que marcou 11 gols, deixou confiantes seus atletas. Naquele dia, aborrecido mesmo ficou o goleiro do Atheneu, o jovem Café Filho, de apenas 16 anos, que após sofrer dez gols, foi substituído pelo reserva, que conseguiu ter atuação ainda mais pífia. Engana-se, no entanto, que aquele jogo o tenha desestimulado.

Filho de um senhor de engenho, João Fernandes Campos Café, e de Florência Amélia Campos Café, João Fernandes Campos Café Filho, ou simplesmente Café Filho, nasceu em Natal, em 3 de fevereiro de 1899, no bairro da Ribeira.

Embora não fosse de família rica, não teve uma infância dramática, como costumava afirmar, e dividia seu tempo estudando no colégio Atheneu, durante a semana, e batendo bola com seus amigos no então longínquo bairro humilde do Alecrim. 

Café Filho e seus amigos tinham em comum a grande paixão pelo futebol e o entusiasmo em participar ativamente na Liga Brasileira contra o Analfabetismo, instituição fundada em 21 de abril de 1915 no Rio de Janeiro que tinha como objetivo comemorar o centenário da Independência do Brasil, declarando o país livre do analfabetismo.

Por isso os rapazes resolveram fundar o Alecrim Futebol Clube, que iria manter uma escola noturna gratuita para as crianças pobres que ali moravam. Em 19 de junho de 1916, com Café Filho como goleiro, pela primeira vez o Alecrim entrou em campo, na verdade uma área destinada à construção de um cemitério, para enfrentar a equipe da Escola de Aprendizes e Artífices. A vitória por 2 a 1 entusiasmou os atletas, que passaram a trabalhar na construção de uma sede para o clube.

Ciente da pouca familiaridade com a bola, Café Filho deixou o campo e passou a atuar como dirigente em prol do fortalecimento do futebol potiguar. De passagem por Recife, conheceu Álvaro Ramos Leal, que tinha grande proximidade com o recém-fundado Santa Cruz Futebol Clube.

Promoveram, então, a primeira partida de futebol interestadual envolvendo uma equipe potiguar, no caso o ABC. O jogo foi em Natal, vencido por 4 a 1 pela equipe pernambucana do genial atleta Pitota, que jogava escondido do pai, famoso advogado no Recife que não queria um filho jogador.

Em 1918, Café Filho voltaria a atuar no futebol local ao participar da criação da Liga de Desportos Terrestres do Rio Grande do Norte, atual Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol. Diante da impossibilidade de contar com o Alecrim na Liga, que passava por dificuldades financeiras, e pela decisão de ter ao menos três clubes participantes, criou-se o Centro Sportivo Natalense, uma fusão entre o Alecrim e outra equipe local, o Flamengo Futebol Clube.

A primeira edição do campeonato potiguar de futebol foi disputada em 1919, e o Centro Sportivo Natalense conquistou o vice-campeonato. Em 1921 conquistou seu único título estadual, em seguida deixou de existir. O Alecrim voltaria a se organizar em 1923.

O futebol começou a ficar mais distante de Café Filho em 1921, quando passou a atuar como jornalista ao fundar o Jornal do Norte, além da profissão de advogado. Ingressou na política depois de participar da Revolução de 1930, sendo eleito deputado federal em 1934, onde ficou até a instauração do Estado Novo, em 1937.

Em 1945, com o fim do Estado Novo, foi novamente eleito deputado. Em 1950, por imposição do governador de São Paulo Adhemar de Barros, com quem fundara o Partido Social Progressista (PSP), participou da chapa de Getúlio Vargas como vice-presidente.

Muito a contragosto de Vargas, Café Filho foi eleito – na época a escolha do vice era desvinculada da do presidente. Com o suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1954, o ex-goleiro do Alecrim se tornou o 18º presidente do Brasil, cargo que ocupou até 8 de novembro de 1955.


Por José Renato Santiago, Doutor e mestre pela Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo com pós-graduação pela ESPM. Autor de livros sobre a história do futebol, gestão do conhecimento e capital intelectual.