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Matérias / Experimento

O insano — e perigoso — experimento do sono de Randy Gardner

Na década de 1960, o estudante Randy Gardner se propôs a descobrir por quanto tempo uma pessoa era capaz de se manter acordada

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 15/10/2020, às 16h58

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Randy Gardner ficou mais de 11 dias sem dormir em 1964 - Divulgação/ YouTube/ Lifeder
Randy Gardner ficou mais de 11 dias sem dormir em 1964 - Divulgação/ YouTube/ Lifeder

Será que é possível uma pessoa morrer por não dormir? Quanto tempo será que alguém consegue ficar acordado? Essas perguntas podem ser bastante curiosas ainda hoje, mas, acredite, elas intrigavam muito mais as pessoas e a comunidade científica em 1960.  

Mas tudo isso mudou graças a Randy Gardner e Bruce McAllister. Os dois jovens estudantes americanos estavam planejando um experimento científico para a escola onde estudavam quando essa pergunta lhes ocorreu. A ideia se tornou ainda mais interessante, pois a resposta para essa questão poderia garantir a eles uma vaga no famoso Guinness Book, o livro dos recordes. 

O início dos 11 dias e 25 minutos 

A jornada da dupla para responder essa intrigante indagação começou em janeiro de 1964. Sem chegarem a um consenso em qual dos dois se submeteria ao experimento, tiraram no cara ou coroa quem seria o escolhido. Randy foi o eleito e logo entraria no maior desafio que viveria em sua vida, no auge de seus 17 anos.  

O estudante Randy Gardner / Crédito: Divulgação/ YouTube/ Lifeder

Para isso, ele teria que superar a marca que pertencia, até então, a um DJ de Honolulu, que ficou 260 horas acordado, o que dá pouco menos de 11 dias. Mas qual estratégia eles usaram para bater o recorde? 

Bom, nessa hora o que falou mais alto foi a inventividade da dupla. Bruce relembra que ele e Randy eram “muito criativos” e queriam fazer um experimento científico relacionado ao sono.

"Inicialmente, nós queríamos saber qual seria o efeito da falta de sono nas habilidades paranormais", contou em entrevista à BBC. "Mas nos demos conta que não havia maneira de fazer isso e optamos por estudar os efeitos da falta de sono nas habilidades cognitivas, nas habilidades para jogar basquete ou qualquer outra coisa que viesse na nossa cabeça".

Nas três primeiras noites McAllister conseguiu ficar acordado monitorando o comportamento de seu amigo, porém, logo precisou descansar e pediu a um outro colega, Joe Marciano, para que se juntasse ao experimento e assumisse seu lugar para monitorar Randy. O processo todo ocorreu nas casas dos pais de Bruce, em San Diego, Estados Unidos.  

Cientista no grupo

Em 1964, William Dement, então professor emérito da Universidade de Stanford, na Califórnia, leu no jornal sobre a proeza que os garotos almejavam. Por ser um cientista que havia começado a pesquisar a ciência do sono, campo pouco explorado na época, decidiu que acompanharia de perto o experimento depois de conhecer a história dos jovens em um jornal local.  

Randy Gardner durante o experimento / Crédito: Divulgação/ YouTube/ Lifeder

Vale ressaltar que, naquela época, um experimento parecido já havia sido feito com gatos. Os animais conseguiram suportar 15 dias acordados antes de morrer, porém, diferente do grupo de amigos, os felinos se mantiveram ativos graças a produtos químicos.  

Fim do experimento

Por mais que a condução da pesquisa estivesse caminhando bem, a noite sempre era um desafio maior para eles, afinal, não dispunham da diversidade de atividades que poderiam exercer durante o dia. Junto com a luz do sol, por exemplo, eles jogavam muito basquete, o que ajudava Randy se manter sempre ativo. 

Com o passar dos dias, o grupo percebeu mudanças evidentes em vários sentidos de Gardner, como no olfato, paladar e audição. Além disso, Randy passava por muitas alterações de humor, se estressando facilmente. Isso sem contar as diversas alucinações que teve durante o processo. 

Randy Gardner fazendo alguns teste / Crédito: Divulgação/ YouTube/ Lifeder

Gardner também mostrou alguns sinais de ataxia — uma incapacidade de repetir trava-língua simples — e ele achou difícil identificar objetos baseados puramente no toque. A partir daí, também teve problemas para se concentrar, formar memórias de curto prazo e tornou-se paranoico e irritado. 

"Aparência inexpressiva, fala arrastada e sem entonação; precisava ser encorajado a falar para fazê-lo responder. Sua capacidade de atenção era muito curta e suas habilidades mentais diminuídas”, relata Stanley Coren em um artigo ao Psychiatric Times

“Em um teste serial de sete, onde o respondente começa com o número 100 e prossegue para baixo subtraindo sete a cada vez, Gardner voltou para 65 (apenas cinco subtrações) e então parou. Quando questionado sobre o motivo de ter parado, ele afirmou que não conseguia se lembrar do que deveria estar fazendo”. 

Estabelecendo o recorde de 11 dias e 25 minutos acordado, Gardner não pensou duas vezes e tirou um longo cochilo de mais de 14 horas ininterruptas. Entretanto, ao passar dos dias, o jovem logo foi regulando seu sono e conseguiu retomar sua rotina normalmente.  

Em um primeiro momento, o garoto não sofreu nenhum problema, mas logo passou a sofrer com constantes insônias. Outro ponto notado se deu numa pesquisa mais minuciosa feita através de um computador que foi enviado por um hospital do Arizona.  

A análise mostrou que partes do cérebro de Randy “mudaram de função”. Em outras palavras, algumas regiões de seu cérebro descansavam e eram repostas enquanto ele ainda estava acordado.  

Além de um ótimo pontapé para estudos científicos, o estudo dos jovens também se tornou muito popular, sendo retratado em diversos veículos de imprensa da época. E por falar em reconhecimento, eles conseguiram algo que também almejavam: um lugarzinho no Guinness Book.

Um fato curioso é que o nome deles ficará para sempre registrado no livro, já que o Guinness parou de registrar as tentativas de bater esse recorde por considerar que isso poderia colocar em risco a vida dos desafiantes.