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Matérias / Brasil

De 20 centavos ao impeachment: os bastidores dos protestos de 2013 a 2016 no Brasil

Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na Histórias, Denise Paiero e Rosana Schwartz, autoras da obra "Atos que viram fatos", revelaram detalhes das manifestações que pararam o país, a partir do olhar jornalístico e histórico

Victória Gearini Publicado em 06/03/2021, às 10h30

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Manifestações na cidade de São Paulo, em 2013 - Wikimedia Commons
Manifestações na cidade de São Paulo, em 2013 - Wikimedia Commons

As manifestações ocorridas entre junho de 2013 e dezembro de 2016, levaram milhares de pessoas às ruas brasileiras. Na época, os manifestantes protestavam contra o aumento da passagem do transporte público, escândalos de corrupção e exigiam melhorias na saúde, educação, segurança pública e muito mais.

Este período é analisado na obra “Atos que viram fatos: Olhar do jornalismo e da história sobre os protestos de 2013 a 2016”, escrita pela jornalista, Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Denise Paiero e, pela Doutora em História pela PUC-SP, Rosana Schwartz.

Lançada em 2019, pela Editora Mackenzie, a obra apresenta uma análise completa sobre as manifestações ocorridas no Brasil entre 2013 e 2016. O livro resgata, ainda, referências históricas e jornalísticas, que buscam explicar a influência das redes sociais neste período. 

Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, as autoras revelaram os bastidores das coberturas jornalísticas e a importância de resgatar o contexto histórico, a fim de compreender o atual cenário político do país. 

Contexto histórico

Em 2013, o aumento nas passagens de ônibus e metrô, na cidade de São Paulo, serviu como catalisador para as manifestações contra o governo. De acordo com as escritoras, neste período, as pessoas começaram a perceber que poderiam ocupar as ruas e reivindicar seus direitos.

Protesto contra o aumento das tarifas de ônibus em Porto Alegre / Crédito: Wikimedia Commons

Em seguida, os manifestantes passaram a pautar diversos outros fatores, somados a uma série de desapontamentos com o governo, nas mais diversas esferas de poder do Estado. Segundo as escritoras, as redes sociais foram essenciais para atrair um número maior de pessoas a causa, que se organizaram de maneira descentralizada. 

“Em um primeiro momento tínhamos a causa dos 20 centavos, que acabou trazendo à tona outros vários motivos. A partir do momento que abaixa o preço das passagens e que o governo faz um acordo, tiram essa causa que unia todas as pessoas e o movimento começa a sofrer rupturas”, disse Denise Paiero. 

Conforme ressaltou a jornalista, a partir do momento que os movimentos começaram a se dissipar e divergir em opinião, a causa principal perdeu o foco e houve uma polarização no Brasil, que pode ser percebida até os dias de hoje. 

Em seguida, grupos foram às ruas protestar contra o então governo de Dilma Rousseff. Além da ocupação do espaço público, os manifestantes utilizaram as redes sociais para defender o impeachment da então presidenta. 

“Essa onda de manifestações se alastrou pelas grandes cidades de todo o país fortalecendo setores conservadores, que estavam à margem da cena política desde a metade da década de 1990. Esses personagens foram os protagonistas do movimento que levou ao impeachment”, explicou Rosana Schwartz.

Contudo, conforme apontou Denise Paiero, dado os rumos das manifestações e dispersão dos grupos sociais, o Movimento Passe Livre — defensor da tarifa zero para o transporte público — se desvinculou dos atos. 

O papel da imprensa 

De acordo com a jornalista, a grande imprensa teve um papel dúbio durante esse período. Para ela, em um primeiro momento, os veículos jornalísticos se mostraram contra as manifestações, condenando atos que julgavam violentos, como ataques a propriedades privadas e públicas. 

“No decorrer do mês de junho de 2013 essa imprensa passou a condenar explicitamente as manifestações que se mostravam violentas e difusas. No entanto, indicaram apoio a atos que fossem explicitamente contra os governos federais, e municipais nas cidades governadas pelo PT, ou por partidos aliados”, revelou Rosana Schwartz.

Manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) / Crédito: Wikimedia Commons

Segundo as especialistas, após os veículos jornalísticos serem duramente repreendidos, muitos passaram a apoiar as manifestações e até mesmo fazer uma cobertura intensa dos atos em todo o país.

“Quando as pessoas começaram achar que estavam perdendo o direito de se manifestar, porque a polícia estava coibindo as manifestações, foi quando houve a explosão dos protestos. A partir disso, a imprensa começou a ficar favorável aos atos. Então em um primeiro momento ela foi contra, mas depois houve uma ruptura desse cenário, quando os jornalistas foram atacados”, explicou Denise Paiero.

O poder das redes sociais 

Assim como aconteceu na Primavera Árabe e no Occupy Wall Street, as redes sociais tiveram um papel crucial nesses protestos. Inicialmente, elas serviram como um espaço de organização dos atos e para convidar as pessoas para esses eventos. No entanto, mais tarde, a internet foi fundamental para repercutir os desdobramentos das manifestações.

“Essa nova função de agrupar e dar visibilidade às pessoas mudou o papel que as redes sociais tinham na política contemporânea. Os manifestantes descobriram que elas eram dinâmicas oferecendo diferentes veículos para a difusão de suas propostas, eliminando barreiras geográficas e temporais, facilitando as comunicações e o fluxo das informações”, disse Rosana Schwartz.

Do ponto de vista de Denise Paiero, após o desfalque da pauta inicial dos 20 centavos e, com as manifestações mais pulverizadas e polarizadas, houve um aumento da circulação e propagação de fake news.

Naquela época, muitas redes sociais que conhecemos hoje ainda estavam começando a se popularizar. Além disso, não existiam as famosas plataformas de checagem de fatos. 

“Não existia o hábito de analisar criticamente uma informação, na maioria das vezes as pessoas se limitavam a ver se a fake news, havia sido veiculada em um dos grandes jornais ou noticiosos televisivos. Coube aos jornalistas desmentir montanhas de notícias falsas, que chegavam a plagiar o logotipo, e até o designer de sites jornalísticos conceituados. De maneira geral, as fake news atrapalharam muito o trabalho de toda a imprensa”, disse Rosana Schwartz.

As consequências na atualidade 

Para Schwartz, estas manifestações estão diretamente ligadas ao atual quadro político brasileiro. Segundo a autora, partidos políticos e personagens que até então não tinham tanta força, traçaram seus primeiros passos políticos naquele período.

Denise Paiero, por sua vez, acredita que o embrião das consequências que o país enfrentou nos anos seguintes, foram disseminados naquela época. “Talvez se não fosse 2013, os caminhos fossem outros”, disse ela. 

Para as autoras, o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de setores conservadores no país podem estar ligados diretamente às manifestações ocorridas entre 2013 e 2016. Contudo, as escritoras ressaltam, ainda, que elas foram importantes para outros debates políticos.  

“Lideranças do campo da esquerda aprenderam importantes lições entre 2013 e 2016, e apresentaram novas práticas políticas, como pudemos acompanhar nas ações de ocupações de escolas, em 2015”, concluiu Rosana Schwartz. 


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